SÃO MIGUEL DAS MISSÕES: UM RELATO DE CASO SOBRE A HISTÓRIA E O CUIDADO NA FORMAÇÃO MÉDICA

Autores

  • Betina Drehmer da Rosa UFFS
  • Jane Kelly Oliveira Friestino

Palavras-chave:

Saúde Coletiva, Geografia, Terapias complementares, Metodologias ativas

Resumo

O Componente Curricular (CCR) de Geografia da Saúde, parte dos Projetos Políticos

Pedagógicos (PPC) como optativo nos cursos de Medicina e Geografia do Campus

Chapecó, adota metodologias ativas e valoriza as experiências e expectativas dos alunos.

Durante a primeira aula, foram lidos capítulos sobre Geografia da Saúde, um destes teve

destaque entre a turma, que abordava o tema das benzedeiras. Com isso, surgiu a ideia de

realizar um Trabalho de Campo para explorar cuidados em saúde diferentes do habitual. A

cidade escolhida foi São Miguel das Missões-RS. São Miguel das Missões é conhecida

por abrigar as ruínas de uma das mais importantes reduções jesuíticas, que são

remanescentes do período colonial brasileiro. Ademais, abriga outros pontos turísticos e

pessoas muito importantes, os benzedeiros e as benzedeiras. As benzedeiras são figuras

tradicionais da cultura popular brasileira, especialmente presentes em regiões rurais e

comunidades onde a medicina tradicional e os saberes populares desempenham um papel

importante na saúde e no bem-estar. As benzedeiras utilizam práticas de cura que

combinam elementos religiosos, espirituais e fitoterápicos.. A partir do reconhecimento da

dimensão colonial referente à forma de produção do conhecimento científico, cresce a

necessidade de descolonizar as instituições acadêmicas, proporcionando alternativas à

percepção ocidental dos cuidados em saúde. Estes cuidados foram por vezes questionados

a respeito do fazer da ciência, num movimento em direção à pluralidade. Com isso

objetiva-se relatar a experiência de uma acadêmica de Medicina que durante quarto

período esteve matriculada no CCR de Geografia da Saúde e realizou o referido Trabalho

de Campo em junho de 2024. Chegando em São Miguel das Missões fomos até a casa do

Sr. Aureliano, que mesmo aos 93 anos, recebeu a turma de estudantes, para conversar um

pouco sobre sua vida e sobre os benzimentos. Seu foco de benzeção é normalmente por:

quebrante, mau olhado, cobreiro, berruga, dor de cabeça e dor no corpo. Ao perguntarmos

como se tornou benzedor, ele relatou que sua avó era benzedeira e que, aos oito anos,

pediu para que ela o tornasse benzedeiro também. No entanto, sua avó explicou que ele

era muito jovem e que o dom para ser benzedeiro não poderia ser ensinado. Assim, ele

estudou sobre benzimentos e conversou com uma senhora que confirmou seu dom. A

partir de então, começou a benzer as pessoas, que passaram a se afeiçoar a ele. Sr.

Aureliano contou muitas histórias sobre seus benzimentos. Após as histórias de Seu

Aureliano, ele foi para sua sala e benzeu os alunos que queriam. Eu acabei indo me benzer

com ele, e realmente ele benze através de orações e gestos, nada a mais. A relação dos

benzedeiros com a sociedade em que vivem é notavelmente respeitosa. O trabalho de campo nos apresentou práticas diferentes do habitual da medicina que estamos

acostumados a vivenciar, além de ter sido uma oportunidade de conhecer um sítio

histórico e cultural, importante para a formação médica e cidadã.

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Publicado

13-10-2024

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Ensino - Campus Chapecó