UM JOGO DE CARTAS:
A ATEMPORALIDADE DO SER FEMININO NAS OBRAS CARTAS PORTUGUESAS E NOVAS CARTAS PORTUGUESAS
Palavras-chave:
Literatura portuguesa; Literatura escrita por mulheres; Escrita de si; Literatura comparada.Resumo
Durante a ditadura salazarista, em Portugal, três autoras se juntam e criam uma
experiência literária revolucionária. Novas Cartas Portuguesas, de Maria Teresa Horta,
Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, estabelece diálogo com o texto do século
XVII Cartas Portuguesas, de Mariana Alcoforado, com o intuito de ressignificar o
papel feminino e contribuir com a sua emancipação. Novas Cartas Portuguesas é feito
por escritoras com uma obra já consolidada, sendo inicialmente editado em 1972, mas
imediatamente censurado, só sendo publicado após a queda do Estado Novo.
Personalidades como Natália Correia, inclusive, tornam-se vozes que se elevam e se
organizam como o primeiro movimento de protesto feminista em defesa da sua
publicação. Na obra, não há identificação da autoria individual, além de ser uma mescla
de gêneros das seis mãos literárias, com poemas, cartas e fragmentos de narrativas.
Diante disso, a compreensão dessa pesquisa será desenvolvida a partir da temporalidade
entre o passado na obra de Mariana Alcoforado com o presente das Novas Cartas
Portuguesas. Em contextualização, Cartas Portuguesas contempla cinco cartas de amor
escritas por uma freira, Mariana, que se entregou ao oficial do exército francês, no jogo
de saudade e de desejo. Esse cavaleiro, inclusive, se aproveitou de Mariana, de sua
situação de vulnerabilidade, sendo ela o objeto de seus desejos, abandonando-a,
deixando-a ao convento e na inexistência. No entanto, por mais melancólico e triste
analisar a dor de Mariana, é interessante perceber sua metamorfose quando ela expressa
tudo o que sente e coloca esses sentimentos em palavras, ou seja, em suas cartas. Assim,
a autora ressignifica seu pranto e solidão para o seu amadurecimento como ser
feminino. A cada despedida, Mariana se fortalece e aprende a amar o amor que emana
de si. Analisa-se, portanto, em analogia às duas obras, a luta feminina e suas interfaces
ao longo dos tempos, desmistificando os tabus, as submissões culturais, sociais e
familiares, para uma voz ativa e de direitos que transforma a sociedade. Em Novas Cartas Portuguesas, por sua vez, compreendem-se as lutas femininas, em trechos resgatando Mariana, que foi condenada a estar no convento, abusada pelo pai,
remetendo, então a outras mulheres, mesmo no século XX, silenciadas pelo ser
masculino, abnegadas de qualquer prazer ou alegria. Nesse sentido, a partir de estudos
teóricos e críticos de nomes como Ana Luísa Amaral, Anna Klobucka e Eugênio de
Andrade, serão compreendidas as concepções do ser-se mulher diante da temporalidade
das duas obras. O resultado desta pesquisa gerará um roteiro para um episódio do
projeto “Um professor lê”: Diálogos virtuais de Literatura.
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