DURAÇÃO DA DOR CRÔNICA E AUTOPERCEPÇÃO NEGATIVA DA SAÚDE EM USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Palavras-chave:
percepção da dor, serviços de saúde, atendimento primário, estudos transversaisResumo
A dor é uma experiência sensorial e emocional extremamente íntima e subjetiva, de caráter desagradável e associada a uma lesão tecidual real ou potencial. O fenômeno doloroso pode interferir, em graus variados, na qualidade de vida através de distintas repercussões, como distúrbios do sono, alterações neurocognitivas, transtornos psicológicos, limitações físicas e isolamento social. Complementarmente, a autopercepção de saúde destaca-se como um dos principais indicadores da condição geral de saúde, sendo influenciada por fatores biológicos, sociais, funcionais, mentais e comportamentais. Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar a prevalência da autopercepção negativa da saúde e sua relação com variáveis sociodemográficas e sensação dolorosa. Trata-se de um estudo transversal realizado com adultos e idosos (idade ≥ 18 anos) em 34 unidades adscritas à rede de Atenção Primária à Saúde (APS) de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFFS (parecer n° 3.219.633) e a coleta de dados ocorreu por meio de questionário aplicado entre maio e agosto de 2019. A variável dependente foi a autopercepção negativa da saúde aferida pelo agrupamento das respostas “regular” e “ruim” ao questionamento “como você considera sua saúde?”. As variáveis independentes contemplaram sexo, idade, cor da pele, escolaridade, situação conjugal, peso corporal e dor crônica. Na análise estatística, executaram-se a caracterização da amostra, a descrição das frequências absolutas e relativas das variáveis independentes, o cálculo da prevalência do desfecho com intervalo de confiança de 95% (IC95) e sua distribuição conforme variáveis preditoras (teste de qui-quadrado de Pearson; erro alfa de 5%). Na amostra de 1.443 usuários destacaram-se indivíduos do sexo feminino (71,0%), com idade entre 18 e 39 anos (39,9%), cor branca (64,8%), ensino fundamental completo (45,6%), cônjuge (72,2%) e peso corporal inadequado (68,7%). Quanto ao fenômeno doloroso, 55,9% (n=807) dos participantes referiram sentir dor e 54,6% (n=441) desses relataram dor há seis meses ou mais. A autopercepção negativa da saúde foi referida por 46,7% da amostra (IC95 44,1-49,3) e observaram-se maiores prevalências em indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos (63,1%; p<0,001), de cor não branca (52,0%; p=0,003), com ensino fundamental completo (55,9%; p<0,001) e peso corporal inadequado (49,8%; p<0,001). Em relação à sensação dolorosa, constatou-se maior prevalência da autopercepção negativa da saúde nos indivíduos com dor há seis meses ou mais (69,4%, p<0,001), estabelecendo uma relação estatisticamente significativa entre o quadro álgico e a autopercepção negativa da saúde. Os resultados sugerem a existência de uma relação diretamente proporcional entre a autopercepção negativa da saúde e a duração da dor, evidenciando o impacto nocivo da sensação dolorosa na qualidade de vida e no bem-estar do indivíduo. Ademais, a elevada prevalência do desfecho em indivíduos idosos, de cor não branca, com baixa escolaridade e peso corporal inadequado pode indicar a necessidade de medidas de promoção e prevenção em saúde, especialmente o controle precoce do quadro álgico.
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