TERAPÊUTICA DA RETENÇÃO DE MEMBRANAS FETAIS EM BOVINOS – REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

Resumo

A retenção de membranas fetais em bovinos é uma alteração caracterizada pela falha na expulsão dos anexos fetais após o parto. Esta decorre da não separação das carúnculas a partir de seus cotilédones na fase final da gestação ou devido a contratilidade uterina insuficiente. A condição requer atendimento médico-veterinário e gera prejuízos financeiros consequentes à queda da performance produtiva e reprodutiva do animal. Diante disso, a presente revisão sistemática tem por objetivo revisar a literatura atual quanto à abordagem terapêutica de animais com retenção de membranas fetais. A revisão sistemática da literatura foi realizada a partir de busca na base de dados Pubmed. Para tanto, foram utilizados os descritores “retained fetal membranes” e “placental retention”, separados pelo operador booleano “OR”, pesquisados em conjunto com os descritores “cow” e “treatment”, separados pelo operador “AND”. Em seguida, os resultados foram filtrados em pesquisas publicadas nos últimos dez anos. Por fim, foram excluídos os artigos que não tiveram ênfase em estratégias terapêuticas. A pesquisa recuperou sete artigos. Um deles, comparou o efeito de quatro procedimentos terapêuticos em 64 vacas leiteiras com retenção de placenta e avaliou a influência do tratamento sobre a prevalência de metrite. Como resultado, este estudo demonstrou que a associação de prostaglandina e α-quimiotripsina obteve resultados superiores quando comparado à sua administração isolada ou à remoção manual dos anexos. Mesmo assim, outro estudo avaliou 700 veterinários europeus e demonstrou que metade deles utilizam a remoção manual em seus atendimentos e 70% utilizam terapia antimicrobiana local e sistêmica associadas em animais febris e aplicação local em animais não febris. Segundo a literatura, terapias com antimicrobianos são necessárias e limitadas a animais com manifestações sistêmicas da afecção como febre. Entretanto, devido à ocorrência de resistência bacteriana, métodos alternativos devem ser desenvolvidos. O uso intrauterino de tetraciclina foi comparado com a aplicação intrauterina de ozônio em um rebanho com 135 animais e a eficácia não diferiu significativamente, sugerindo que o ozônio pode ser uma alternativa. Em outra situação, um questionário foi aplicado a 149 médicosveterinários belgas e este demonstrou ampla utilização de antimicrobianos para animais sem esta recomendação terapêutica. Fato que reforça a necessidade de medidas para promover o uso racional dos antibióticos. Estes continuam sendo as moléculas mais utilizadas em diferentes regiões, com predominância do uso parenteral de penicilina e tetraciclina e uso intrauterino de tetraciclina e cefapirina. Diante do amplo uso destes fármacos e da necessidade de reduzir sua utilização, alguns estudos concentraram-se em estratégias de prevenção da doença, como pela administração de vitamina E nas últimas três semanas de gestação, que preveniu significativamente o desenvolvimento do quadro. Os antimicrobianos continuam indispensáveis no tratamento de alguns quadros de retenção de placenta. Entretanto, muitas vezes são usados de forma indiscriminada, prática que deve ser combatida. Ao mesmo tempo, alternativas terapêuticas sem antibióticos devem ser desenvolvidas, para reduzir prejuízos financeiros com descarte do leite, bem como a resistência a antimicrobianos. Diante disso, deve haver incentivos ao desenvolvimento e implementação de medidas de prevenção, como a suplementação com vitamina E.