Da condição animal em Tomás de Aquino - Primeiro estudo

A Hierarquia do Ser

Autores

  • Luis Miguel Falcão Hurtado Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Thiago Soares Leite

Palavras-chave:

Metafísica, Ato e Potência, Participação, Hierarquia do Ser, Escolástica

Resumo

A questão sobre a condição animal e a relação dos animais com os seres humanos sempre margeou as preocupações filosóficas dentro da tradição do pensamento ocidental. Ainda que presente nas reflexões de Platão, Aristóteles, Aquino, Descartes e Kant, por exemplo, tal assunto nunca fora central em suas respectivas filosofias. Em linhas gerais, a condição animal tendeu-se à instrumentalização para resolução de problemas marcadamente humanos, sejam de ordens práticas e/ou metafísicas. Assim, a pressuposição de uma diferença essencial entre seres humanos e os não-humanos é a característica fundamental que se inscreve e perdura no pensamento filosófico por séculos. É, de certa forma, recente o comprometimento intelectual em abordar a condição animal em toda sua complexidade e importância, centralizando-a no horizonte investigativo da atividade filosófica. Isto talvez se explique diante da miríade de questões éticas, políticas, epistêmicas e ambientais, além de outras mais, que impõem ao nosso tempo uma necessidade premente de mudança. Tal modificação requer, portanto, que reformulemos, no âmbito filosófico, nossas ferramentas conceituais que transitam desde o âmbito ontológico ao âmbito moral. Por essa razão em específico, vislumbra-se que para pensar a condição animal, que certamente é também humana, é requerido superar o fosso metafísico, aberto há tempos idos pelo pensamento filosófico, entre o humano e o não-humano. É no ensejo deste contexto que se insere a atual pesquisa. Nesse sentido, propõe-se atenção especial à filosofia de Tomás de Aquino, tanto pela envergadura de seu pensamento na tradição filosófica e religiosa do ocidente, bem como pelo modo no qual o filósofo reelabora, aos seus interesses teológicos, as filosofias de Platão e Aristóteles. Ademais, a literatura disponível em língua portuguesa sobre esta temática é diminuta e incipiente, impondo um desafio conceitual e histórico de inserção de tais temáticas no escopo de discussão da filosofia medieval em geral e, em particular, da filosofia de Tomás. Para dar bom tratamento ao assunto, entende-se que a investigação deva ser conduzida por três âmbitos distintos, embora intrinsecamente relacionados: metafísico, ontológico e moral. Este primeiro estudo prestou-se em analisar a concepção da Hierarquia do Ser em Tomás de Aquino. O filósofo se vale da articulação conceitual das noções de participação e de ato e potência, de origem platônica e aristotélica respectivamente, para a formalização desta tese. A articulação entre a causalidade formal platônica e a causalidade eficiente aristotélica permite que Tomás de Aquino sustente a condição de criaturidade dos existentes, em suas múltiplas e diversas formas, bem como o ordenamento destas existências através da intensidade da perfeição participada que lhes é imputada segundo sua natureza. A partir da elucidação da estrutura metafísica do pensamento tomista, é resultado da presente investigação, como toda empreitada filosófica, uma pergunta: possuir menos grau de ser significa possuir menos consideração moral? Tal indagação conduzirá, em forma de trabalho de conclusão de curso, o estudo do âmbito ontológico e moral na filosofia tomista a fim de caracterizar a condição animal em seu pensamento e os critérios que fundamentam as justificativas dos tipos de relações entre seres humanos e não-humanos.

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Publicado

30-09-2024

Edição

Seção

Ciências Humanas - Pesquisa - Campus Erechim