APLICAÇÕES TERAPÊUTICAS DO Zingiber officinale NA CLÍNICA MÉDICA DE BOVINOS

UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA

Resumo

O gengibre (Zingiber officinale) é uma planta herbácea da família Zingiberaceae. O extrato
de seu rizoma possui uma série de propriedades farmacológicas já comprovadas, como ação
antioxidante e antimicrobiana, além de seu potencial terapêutico em humanos e animais,
para condições como o diabetes mellitus e distúrbios gastrointestinais. Desta forma, a
presente revisão analisou artigos publicados sobre o tema em busca de evidências para a
aplicação do gengibre na clínica médica de bovinos. A revisão sistemática da literatura foi
realizada a partir da busca na base de dados PubMed. Para isso, foram utilizados os
descritores “zingiber” e “cow”, separados pelo operador booleano “AND”. Artigos que
analisaram a influência terapêutica do Zingiber officinale em bovinos foram selecionados e
os demais excluídos. Após aplicação dos critérios cinco artigos foram selecionados. O
primeiro estudo destacou que o extrato líquido de gengibre (GLE) foi administrado em
bezerros na concentração de 1%, demonstrando maior peso corporal em quatro, seis e oito
semanas de experimento, bem como maior ganho de peso diário até o desmame. Por fim, o
estudo constatou ainda que o extrato inibiu o crescimento de Escherichia coli, diminuiu o
índice de estresse oxidativo e elevou os níveis de imunoglobulina G (IgG). Em outro estudo,
os efeitos do extrato de gengibre foram analisados em trabalho in vitro com fragmentos de
musculatura cecal bovina. Observou-se contração muscular em concentração de 6 mg/L e
aumento do tônus muscular basal nas concentrações de 6, 12, 25, 50 e 100 mg/L. O gengibre
também foi interesse em trabalhos na área da parasitologia. Dois estudos investigaram o
efeito acaricida de seu óleo essencial sobre o Rhipicephalus microplus, importante
ectoparasita bovino. Em um dos trabalhos as concentrações de 5% e 10% inibiram a
oviposição da fêmea, enquanto no outro observou-se efeito acaricida em 27% das fêmeas
ingurgitadas e em 100% das larvas. Outro ponto, diz respeito a etnofarmacologia, que
envolve o uso popular de certas plantas, a exemplo de regiões do sul da Ásia, como na Índia,
onde é comum a intoxicação de animais por ingestão crônica de água contaminada por
arsênio, sendo o gengibre utilizado como antídoto. Deste modo, a eficácia deste tipo de
tratamento foi comprovada em experimento que utilizou o gengibre em pó em animais
intoxicados. Os resultados revelaram redução da concentração plasmática de arsênio e
aumento da eliminação da substância pelas fezes e urina nos animais tratados. Com base
nos estudos publicados sobre o tema pode-se concluir que terapias obtidas a partir do
gengibre podem ser aplicados de forma versátil em diferentes condições clínicas. Seu efeito
antioxidante pode justificar sua utilização como terapia adjuvante. Por sua vez, o efeito
ectoparasiticida pode fornecer alternativas mais sustentáveis de controle de carrapatos, sem
incorrer em resíduos e necessidade de descarte do leite. A sua ação em fibras muscularas
cecais sugere a possibilidade de ser utilizado como procinético em condições de atonia
gastrointestinal e a sua eficácia no tratamento de intoxicações por arsênio pode ser
expandida para experimentos com intoxicações de outras origens.