SOBRE O PACIENTE, PELO PACIENTE: POTENCIALIDADES E ENTRAVES DO ITINERÁRIO TERAPÊUTICO PERCORRIDO POR USUÁRIOS COM TRANSTORNO POR USO DE SUBSTÂNCIAS

  • Ana Luiza Guimarães Lopes UFFS
  • Laura Maria Balestreri Nunes
  • Graciela Soares Fonsêca
Palavras-chave: Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias, Itinerário Terapêutico, Assistência à Saúde Mental, Serviços de Saúde Mental, Usuários de Drogas

Resumo

A definição de droga está associada a substâncias que têm capacidade de modificar a fisiologia humana, mas adquiriu uma conotação moralista ao longo da história, frequentemente sendo associada a substâncias ilícitas. Indivíduos que, ao consumir drogas, cursam com prejuízo social, baixo controle sobre o consumo, uso arriscado e critérios farmacológicos, como tolerância e abstinência, são incluídos no quadro definido pelo Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Perturbações Mentais com Transtorno Relacionado ao Uso de Substâncias (TUS). O percurso que uma pessoa com TUS segue na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) abrange desde a Atenção Básica (AB) e o tratamento ambulatorial até o acolhimento noturno no Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (CAPS-AD). Tendo em vista a alta prevalência do TUS, as recentes mudanças nas políticas que regulam seu manejo no Sistema Único de Saúde (SUS), além da necessidade de produção científica na área, este trabalho objetiva analisar a percepção dos usuários com TUS em tratamento no CAPS AD III de um município de médio porte do estado de Santa Catarina, sobre as potencialidades e entraves identificados em seus itinerários terapêuticos. Trata-se de um estudo qualitativo, cujos dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, audiogravadas, com 12 pacientes em desintoxicação assistida na instituição. O material audiogravado foi transcrito e analisado seguindo a metodologia Hermenêutica-Dialética. As categorias de análise que nortearam o estudo foram: Potencialidades e Entraves encontrados pelos usuários durante o itinerário terapêutico. Os resultados obtidos apontam potencialidades do CAPS-AD III, como o acolhimento, a empatia dos profissionais, o desenvolvimento de boas relações entre os usuários e a boa ambiência, além da terapia farmacológica. Foram destacados aspectos protetivos ao uso nocivo de drogas, sendo esses a motivação, a estabilidade conjugal e o trabalho, além de atributos do CAPS-AD III relacionados a humanização do cuidado, como escuta ativa e empatia, que foram particularmente destacados como agentes capazes de resgatar sentimentos de pertencimento e identidade. Em contraponto, os entraves encontrados no percurso terapêutico relacionam-se à duração do tratamento e à reclusão social, atrelados à proposta absenteísta em uma conjuntura político-social proibicionista, além de fatores socioambientais como vínculos e ambientes propícios ao consumo, que dificultam a manutenção do tratamento. Em suma, o TUS é uma condição de etiologia multifatorial e necessita de uma abordagem terapêutica de igual dimensão, com fortalecimento de estratégias de continuidade do cuidado e reinserção social após os dias de acolhimento.

Publicado
25-10-2023