ESTUDAR É UM ATO DE RESISTÊNCIA

SOFRIMENTO PSÍQUICO E APRENDIZAGEM NA UNIVERSIDADE À LUZ DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL

  • Amanda Trindade Castro Silva UFFS
  • Solange Maria Alves
Palavras-chave: sofrimento psíquico; ensino-aprendizagem; ensino superior; teoria histórico-cultural.

Resumo

Embora a universidade se configure como espaço privilegiado para o pleno desenvolvimento dos sujeitos, de forma contraditória, ela também se apresenta como local de manifestação e produção de sofrimento psíquico. É partindo dessa perspectiva, que o presente trabalho, fruto de pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Fronteira Sul (PPGE/UFFS), visa apresentar os resultados do estudo que teve como objetivo conhecer e compreender as percepções dos estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica acerca da relação entre sofrimento psíquico e os processos de ensino-aprendizagem. Orientada pelo referencial teórico-metodológico da psicologia histórico-cultural, a pesquisa teve caráter bibliográfico e de campo, sendo a última realizada a partir de grupos focais desenvolvidos com estudantes de graduação da UFFS em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Em se tratando dos processos de ensino-aprendizagem, se observa que a aprendizagem é condição para o desenvolvimento. Contudo, de acordo com a forma como a atividade de estudo se estrutura na universidade, pode ocorrer a não apropriação dos conteúdos pelos estudantes. Neste contexto, surgem sentimentos como fracasso, culpa e frustração, e, como consequência, sofrimento psíquico. Somam-se ainda, outros elementos constitutivos do espaço universitário, como as relações estabelecidas pelos estudantes com os professores, colegas, com o conteúdo e com a própria atividade de estudo, que também podem ser motivo de sofrimento para esses acadêmicos. No sentido inverso, se percebe que o sofrimento psíquico, enquanto um fenômeno constituído social e historicamente, fruto do atual modelo de sociedade, produz alterações na estrutura da personalidade dos sujeitos. Neste caso, alteram-se os motivos e as necessidades dos homens, ocorre a perda do sentido e a diminuição do autocontrole do comportamento. Na medida em que esses processos implicam em alterações nas funções psicológicas superiores como atenção, memória, concentração e do próprio pensamento, a perda do autocontrole do comportamento e a alteração da atividade de estudo na hierarquia das necessidades do sujeito, trazem significativas implicações ao processo de ensino-aprendizagem. Diante destas considerações, entendendo que os homens se constituem como síntese de múltiplas determinações, se compreende que, ainda que a universidade não seja a única causa do sofrimento psíquico para os estudantes, pelo papel que ela ocupa no desenvolvimento dos homens no período da juventude, ela tem importante papel na sua produção. Além disso, se percebe a existência de uma relação dialética entre sofrimento psíquico e os processos de ensino-aprendizagem. Os segundos, pela forma como se constituem no ensino superior, bem como pelas contradições existentes neste espaço, podem resultar em sofrimento psíquico. Dialeticamente, o sofrimento, ao alterar a estrutura da personalidade, implica em prejuízos à apropriação dos conhecimentos sistematizados e disponibilizados na universidade, bem como ao pleno desenvolvimento dos estudantes.

 

Publicado
13-10-2023