Colonialidade desencarnada

a Teoria geral do esquecimento, de José Eduardo Agualusa

Palavras-chave: descolonização, trauma, remissão, identidade, Angola

Resumo

O escritor angolano José Eduardo Agualusa definiu o seu livro Teoria geral do esquecimento, quando do lançamento em 2012, como uma ficção em contexto histórico real. Diante desse argumento, há pretensão, neste trabalho, de analisar as fronteiras entre história, memória e literatura forjadas em tal obra, bem como investigar a constituição de identidades em uma sociedade imersa no contexto pós-colonial. Para tal, a narrativa do romance será cotejada à historiografia do processo de independência e libertação em Angola e aos estudos dos movimentos de elaboração e remissão de passados traumáticos. Em linhas gerais, consegue-se sustentar que a Teoria... é um solene exercício de alteridade. Com a leitura, aparecem medos, traumas, angústias, problemas e, também, alegrias de pessoas absurdamente normais. Trata-se de um enredo protagonizado por gente. Afinal, o esforço com a alteridade humaniza. Nesse exercício, compreende-se que a personagem Ludo, portuguesa obrigada a viver na África, carrega em si a substância da descolonização (como a narrativa revela, uma trajetória complicada e, por óbvio, longa) – de modo que os impasses de um processo social/político/econômico ganham carne e osso, os quais, ao longo das páginas, definham para que Ludo possa (re)nascer angolana. Além disso, percebe-se a manifestação de rechaço ao esquecimento no discurso do texto, uma vez que Agualusa propõe um comprometimento com a redenção, o acerto de contas com o passado. Assim, pode-se dizer que a memória seria o que medeia as relações sociais que produzem as identidades. Quando o passado persegue as personagens e as atinge, é preciso tomar decisões e Ludo toma a sua: por meio da amizade com o menino Sabalu, se refaz em e com Angola (o seu verdadeiramente “novo” mundo). À vista disso, em última instância, a Teoria... é uma convocação para que se desencarne personalidades, liberte-se de traumas e possa-se exercitar identidades outras em diálogo com o mundo que invade.

Publicado
25-10-2023