Fabular criticamente a Primeira Guerra Mundial

relato de experiência de estágio no ensino de história

Palavras-chave: ensino de história, ensino fundamental, Primeira Guerra Mundial, violência

Resumo

O trabalho compreende investigação sobre experiência de estágio curricular supervisionado na etapa do Ensino Fundamental, no âmbito do Curso de História da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim, a respeito da Primeira Guerra Mundial. Realizada em 2023, a sequência didática trabalhou em prol de uma intervenção que dialogasse com os conhecimentos tácitos e a leitura de mundo dos educandos, bem como fabulasse criticamente a imaginação diante da violência do tema ao considerar as vidas precárias que sofreram o horror do conflito. Entende-se que educar sobre a guerra é uma tarefa complexa e difícil. Ora, falar sobre o conflito não poderia se restringir à alusão ao nacionalismo e ao imperialismo como causas para a formação de dois blocos antagônicos que protagonizariam batalhas apreendidas como inevitáveis em uma história linear e homogênea. Em que pese o estudo dessas questões relativas à deflagração do conteúdo ser indispensável, não se queria terminar por aí: assim, houve referência às pessoas que sofreram e resistiram, às suas produções e memórias – indo além, à violência que abarca o presente dos educandos, ou seja, os passados sensíveis que não passam. Além disso, nesse exercício, recorreu-se à noção de fabulação crítica: sem cometer mais violência na narração – e no trabalho em sala de aula – buscou-se uma contra-história do mundo, uma história a contrapelo, onde seja possível contar histórias com esforço na representação das vidas dos sem nomes e dos esquecidos, em considerar a perda e respeitar os limites do que não pode ser conhecido. Desse jeito, a intenção não foi a dar voz aos vencidos (o que não seria mais possível), mas antes imaginar o que não pode ser verificado e considerar as vidas precárias que são visíveis apenas no momento de seu desaparecimento. Trabalhou-se com três fichas de trabalho: problematizações sobre as imagens cotidianas da guerra, produção de Tratado de Versalhes alternativo e redação de cartas envolvendo a luta pela sobrevivência. Se, de início, havia nas turmas uma visão positiva da guerra, com as cartas conseguiu-se verificar a rejeição ao horror dali ascendente – em que pese a importante compreensão, via assembleia do Tratado de Versalhes alternativo, de que a paz envolve negociação, criação de condições objetivas e, logo, não é um dado fácil – mas necessário. Sem dúvidas os educandos, organizados em torno de uma comunidade engajada de aprendizagem ao longo do estágio, conseguiram se apropriar do conteúdo da Primeira Guerra Mundial e forjar elementos em defesa da paz – afirmando que não há honra na guerra. A partir de fabulações críticas inventadas pelos estudantes foi viável escovar a contrapelo uma história de horror e considerar as vidas precárias que compõem o universo narrativo estudado.

Publicado
25-10-2023