RELAÇÃO DA INSÔNIA COM DOENÇA CARDÍACA EM ADULTOS E IDOSOS USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Resumo
Doenças cardiovasculares, como hipertensão e arritmias, são comuns na população em geral, afetando principalmente idosos, população esta que apresenta uma maior incidência de doenças crônicas, as quais estão intimamente relacionadas com a qualidade de vida e do sono. A insônia é especialmente comum em idosos e, por conseguinte, esse sintoma tem sido associado com o aumento do risco de hipertensão e outras doenças cardiovasculares. Esse trabalho tem por objetivo avaliar a prevalência de doenças cardíacas e relacionar com a presença de insônia e outras características sociodemográficas e de saúde em adultos e idosos usuários da Atenção Primária à Saúde (APS). Trata-se de um estudo transversal realizado na rede urbana de APS de Passo Fundo, RS, incluindo indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos atendidos nas 34 unidades adscritas à rede de saúde do município. Após aprovação ética (parecer n° 3.219.633), os dados foram coletados por aplicação de questionário a esses indivíduos entre maio e agosto de 2019. As variáveis independentes foram compostas por características sociodemográficos (sexo, idade, cor da pele, escolaridade, exercício de atividade remunerada), comportamentais (uso contínuo de medicamento). A variável de exposição (insônia) foi avaliada através de um diagnóstico de sintomas de transtorno da insônia realizado através de 4 perguntas (“Nas últimas 4 semanas, você teve dificuldade em pegar no sono?”; “Nas últimas 4 semanas, você acordou de madrugada e teve dificuldade de voltar a dormir?”; “Nas últimas 4 semanas, você teve noite curta de sono por que acordou muito cedo (6 horas ou menos de sono?)”; “Nas últimas 4 semanas, você se sentiu cansado durante o dia, prejudicando suas atividades?)”, sendo positivo o diagnóstico com 2 ou mais pontos em uma mesma pergunta ou pelo menos duas afirmativas “sim”. A variável dependente (desfecho) foi a presença de doença cardíaca autorreferida, avaliada através de questionário com resposta dicotômica de “Sim” ou “Não” pelo entrevistado. Foi avaliada a frequência relativa e absoluta de todas as variáveis, assim como a prevalência do desfecho com intervalo de confiança de 95% (IC95). Ademais, foi estimada sua distribuição conforme as variáveis independentes por meio do teste do qui-quadrado (erro alfa de 5%). Foi observada na amostra de 1.442 participantes uma maioria de indivíduos do sexo feminino (71,0%), adultos (71,7%), brancos (64,5%), com ensino fundamental completo (45,5%), que não exerciam atividade remunerada (57,4%) e em uso de medicamentos contínuos (66,7%). Em um total de 52,9% dos pacientes se estabeleceu o diagnóstico de sintomas de insônia, enquanto 14% relataram doença cardíaca (IC95 13-16). A porcentagem de indivíduos com doenças cardíacas foi maior entre os indivíduos com insônia (17,9%, p<0,001), assim como em indivíduos do sexo masculino (17,5% p=0,041), em idosos (33,3%, p<0,001), que usam medicamentos contínuos (20,8%, p<0,001) e que não exercem atividade remunerada (20,2%, p<0,001). Portanto, observa-se a existência de uma relação entre insônia e problemas cardíacos, conforme já sugerido em estudos anteriores, sendo importante ressaltar a busca de medidas preventivas para ambas as condições, visto que estes fatores estão associados ao desenvolvimento de outras comorbidades e, consequentemente, expectativa de vida menores.
Copyright (c) 2023 Leonardo Mateus Faccio Franz, Lucas Dalla Maria, Martina Bassolli, Caroline Andreetta, Marcelo Soares Fernandes, Ivana Loraine Lindemann, Gustavo Olszanski Acrani
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