TRAUMA POR PROJÉTIL BALÍSTICO EM COLUNA VERTEBRAL TORÁCICA COM REPERCUSSÃO NEUROLÓGICA E TRATAMENTO CIRÚRGICO EM PACIENTE FELINO

  • João Felipe da Silva Mielke Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Gentil Ferreira Gonçalves
  • Emanuel Caon
Palavras-chave: lesão tecidual, arma de fogo, medula espinhal, cirurgia veterinária

Resumo

Lesões traumáticas são ferimentos decorrentes de eventos extrínsecos ou intrínsecos ao indivíduo, que podem acarretar em perda de função tecidual e em Medicina Veterinária, especialmente na clínica médica de animais de companhia, essas alterações possuem demasiada relevância. A disfunção neurológica por traumatismo medular oriundo de lesão por arma de fogo é considerada inabitual e dispendiosa no que concerne à terapêutica e ao grau lesivo. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo relatar o manejo clínico-cirúrgico empregado no tratamento de um paciente felino com trauma vertebral por projétil balístico. No dia foi atendido na Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária (SUHVU), um felino, macho, não castrado, SRD, adulto, que apresentava déficit neurológico a sete dias por trauma agudo, com arma de fogo. Na anamnese foi constatado hiporexia, disquezia, incontinência urinária, ausência de quadros similares anteriores e que o paciente possuía acesso a rua. Ao exame físico, observou-se nível de consciência alerta, taquipneia, desidratação leve (6%), mucosas hipercoradas, lesão punctória em região torácica dorsal, distensão abdominal, paraparesia não ambulatória com ausência de propriocepção em MPs, manutenção de reflexo perineal e sensibilidade a dor superficial. Sem demais alterações em aparelhos e/ou sistemas. Assim, foi realizado exame radiográfico simples de coluna vertebral torácica e visibilizou-se material radiopaco de densidade metal, sugestivo de projétil balístico em topografia de T10-T11, sem solução de continuidade óssea. Dessa maneira, se estabeleceu o diagnóstico de trauma vertebral por projétil balístico, com prognóstico reservado e o paciente foi encaminhado à cirurgia para remoção do corpo estranho. O procedimento realizado consistiu-se no acesso ao antímero vertebral esquerdo com exposição dos processos articulares dorsais de T9-T10 e T10-T11, por meio de divulsão romba com afastador de periósteo da musculatura paravertebral. Ao localizar o projétil,
inferiu-se a presença do mesmo no canal medular e por meio da técnica de minihemilaminectomia, com broca esférica em drill sob gotejamento de solução de NaCl 0,9% e aspiração, foi criado desgaste na superfície óssea e se removeu o projétil. Além disso, observou-se integridade da dura-máter com compressão deformante do segmento espinhal acometido pelo corpo estranho. Posteriormente, o paciente permaneceu em observação pós-cirúrgica e anestésica. O retorno para reavaliação ocorreu 15 dias após tratamento cirúrgico e constatou-se melhora clínica progressiva, com retorno da defecação. Entretanto, o quadro de paraparesia não ambulatória se manteve, bem como a ausência de propriocepção em MPs e a incontinência urinária. Também, foi possível notar hipotrofia da musculatura glútea e quadricipital. Por fim, o paciente foi encaminhado aos cuidados fisioterapêuticos a fim de restabelecer o tônus muscular e o déficit proprioceptivo, o que poderá contribuir para o retorno deambulatório.

Publicado
11-10-2023