MANEJO EMERGENCIAL DE ACIDENTE ELAPÍDICO E IMPORTÂNCIA DO AUXÍLIO DO CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS FRENTE À ASSISTÊNCIA MÉDICA: UM RELATO DE CASO

  • Thiago Emanuel Rodrigues Novaes Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Vitor Borgmann Riethmuller
  • Gabriela Rigon Martinazzo
  • Suelen Zanoni Bertuzzi
  • Jéssica Vieira
  • Ana Selia Rodrigues Novaes
Palavras-chave: Tratamento de Emergência, Venenos Elapídicos, Serviços Médicos de Emergência, Acidentes de Trabalho, Mordeduras de Serpentes

Resumo

Os acidentes ofídicos representam causas frequentes de atendimentos emergenciais no Brasil e são de grande importância clínica devido à elevada morbimortalidade dos casos, especialmente quando há manejo hospitalar inadequado. Baseado nisso, o presente estudo tem como objetivo relatar o caso de um acidente elapídico em um hospital de alta complexidade do norte gaúcho e discutir a importância do contato com o Centro de Informações Toxicológicas (CIT). Paciente masculino, 26 anos, engenheiro agrônomo, previamente hígido, usuário de Durateston, chegou à emergência hospitalar referindo picada de cobra em região pré-tibial esquerda há 20 minutos enquanto estava no campo a trabalho. Negava algias, exteriorizações, alterações neurológicas ou outras queixas. Ainda, trouxe agente etiológico que se assemelhava à cobra coral-verdadeira (Micrurus frontalis), configurando acidente elapídico. Ao exame físico, Glasgow 15, sinais vitais estáveis, com dois orifícios de inoculação puntiformes, com eritema local, em pré-tibial de membro inferior esquerdo. Realizado contato com CIT que orientou acalmar o paciente explicando a raridade de acidentes ofídicos com cobras-corais verdadeiras, especialmente sem provocações contra o animal, e que poderia se tratar de uma cobra-coral falsa. Além disso, solicitar gasometria arterial (se alterações, TGO, TGP e LDH), 24 horas de observação com atenção a alterações clínicas, especialmente neurológicas, manter membro acometido elevado, revisar imunizações, realizar limpeza com antissepsia, curativo simples e soroterapia com 10 ampolas de soro antielapídico diluídas em 150ml de soro fisiológico em até 1 hora, precedida em 15 minutos por Prometazina 25mg IM e Hidrocortisona 10mg/kg lentamente IV, além de retornar ligação para o CIT ao final da soroterapia e alta hospitalar após 24 horas de observação. Paciente permaneceu estável durante observação, manteve-se com exames laboratoriais em valores de referência, realizado Tetanogamma e alta hospitalar devido boa evolução clínica. Nesse contexto, os acidentes ofídicos são caracterizados como envenenamento em decorrência da picada de serpentes. No Brasil, os acidentes com corais-verdadeiras são pouco frequentes e podem cursar com sinais e sintomas neurológicos que mimetizam quadros miastênicos, incluindo náuseas, êmese, sudorese, ptose palpebral, oftalmoplegia, disfagia, assim como paralisia muscular e respiratória. Raramente ocorrem acidentes elapídicos no estado do Rio Grande do Sul (RS), conforme destacado no relatório anual de atendimentos de 2022 do CIT do RS, em que ocorreram 497 casos de exposição exógena a ofídicos neste ano, sendo apenas 5 causados por coral-verdadeira. Diante do relato, observa-se como o contato com o CIT foi de suma importância no manejo do paciente, considerando-se a raridade dos casos de acidentes elapídicos nas emergências brasileiras, em particular as do norte gaúcho. 

Publicado
31-10-2023