REMOÇÃO DE UM CORPO ESTRANHO TÊXTIL DO ESTÔMAGO DE UMA CADELA VIA ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA: RELATO DE CASO

  • Heloisa Vieira Cordeiro Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Vitor Angelo Musial
  • Gentil Ferreira Gonçalves
  • Jeancarlo Gross
  • Kerry Alinny Zanettin
Palavras-chave: endoscópio, gastroduodenoscopia; gastrite; pinça pelicano; tecido.

Resumo

Os corpos estranhos são objetos inanimados que podem causar obstrução, perfuração ou toxicidade a depender das características do material ingerido. São urgências comuns na clínica de pequenos animais, acometendo principalmente cães jovens devido a maior curiosidade e a baixa seletividade alimentar. Podem cursar com vômitos, apatia, anorexia, inquietação, diarreia, dentre outros sinais clínicos. Quando alojados no estômago,  permitem sua remoção por endoscopia ou cirurgia por meio de gastrotomia. O objetivo deste trabalho é relatar a remoção via endoscopia de um corpo estranho gástrico têxtil, contribuindo para a literatura acerca do assunto. Uma cadela da raça Shih-tzu, de 3 anos de idade, com peso de 4,8 kg, foi atendida em uma instituição particular com histórico de possível ingestão de peça de roupa há 3 dias, além de queixa de oligoquesia. Ao exame físico identificou-se leve tensão em abdome cranial à palpação abdominal. Foi realizada ultrassonografia abdominal, a qual revelou a presença de material com interface altamente ecogênica, formadora de sombra acústica posterior limpa entremeado ao conteúdo alimentar estomacal, sugerindo corpo estranho gástrico parcialmente obstrutivo. A endoscopia digestiva alta foi escolhida como medida terapêutica, a qual foi realizada após a indução anestésica com Cetamina (3 mg/kg/IM) associada ao Midazolam (0,3 mg/kg/IM) como agentes pré-anestésicos. Após, a paciente foi induzida e mantida sob anestesia geral com infusão contínua de propofol em dose indutora de 6 mg/kg e de manutenção em 0,4 mg/kg/min IV. O aparelho utilizado foi um fibroscópio Olympus de 9,8mm acoplado à microcâmera e a processadora de vídeo da mesma marca à um notebook. O animal foi posicionado em decúbito lateral esquerdo, e o tubo foi inserido após leve tração cranial da língua, progredindo pela orofaringe até o esôfago, em que procedeu-se com insuflação de ar pelo aparelho, com inspeção endoscópica até atravessar o cárdia. No estômago, houve insuflação do mesmo com ar, possibilitando a visibilização de hiperemia, com áreas de erosão e ulceração superficiais da mucosa, além de edema das pregas gástricas. O corpo estranho têxtil foi identificado em região de corpo, o qual foi apreendido e removido com o auxílio de pinça endoscópica flexível do tipo pelicano de 2,8 mm. Posterior a remoção, procedeu-se nova inspeção esofagogástrica, e após a constatação de ausência de outros corpos estranhos ou de alterações importantes a paciente recebeu alta em bom estado geral. Foi prescrito Omeprazol (1mg/kg/SID VO), Sucralfato (0,5 g/animal/BID VO), Buscopan (1 gota/kg/TID VO) e Simeticona (1 gota/kg/TID VO) por 5 dias. Pôde-se perceber que a endoscopia digestiva constitui uma ferramenta minimamente invasiva, que permite o diagnóstico e a terapêutica de diversas enfermidades gastrointestinais como os corpos estranhos, a qual possui alta segurança e eficácia, com menor morbidades peri e pós-procedimento quando comparado a intervenção cirúrgica convencional. Por fim, conclui-se que a endoscopia digestiva permitiu a remoção do corpo estranho em uma cadela, assim evitando um procedimento cirúrgico invasivo, com maior bem-estar e conforto da paciente.

Publicado
11-10-2023