ANESTESIA PARA PERICARDIECTOMIA EM GATO: RELATO DE CASO
Resumo
Os tumores cardíacos em animais são uma manifestação pouco comum, com uma prevalência reportada que oscila entre 0,12% e 0,19% em cães, bem como 0,03% em gatos. Em casos nos quais é possível a visualização por ecocardiografia, o diagnóstico final e tratamento é realizado por remoção cirúrgica. O objetivo deste trabalho é relatar a conduta anestésica em um procedimento de pericardiectomia em uma gata, de 6 anos. O animal chegou à Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária (SUHVU) por encaminhamento externo, e estava recebendo pimobendan (1,5 mg/g BID) e furosemida (10 mg/kg BID). Durante o exame físico, não foram verificadas alterações nos parâmetros fisiológicos, mas após a realização do exame T-FAST, foi identificada a presença de uma formação caudal ao átrio esquerdo. O animal foi encaminhado para o setor de cardiologia e, por meio de ecocardiografia, foi diagnosticada cardiomiopatia restritiva e efusão pericárdica, com presença de massa na cavidade pericárdica , junto ao átrio e ventrículo esquerdo (1,9 x 2,3 cm). Realizado o encaminhamento cirúrgico, foi constatado um baixo valor de hematócrito, seguido de estabilização por transfusão sanguínea. Na avaliação pré-anestésica, o paciente apresentou hipertensão, com pressão arterial sistólica (PAS) de 208 mmHg, e ausência de alterações em outros parâmetros avaliados. Como medicação pré anestésica, optou-se pelo midazolam (0,3 mg/kg) e metadona (0,3 mg/kg), por via intramuscular. A indução foi realizada com propofol (3 mg/kg) e, a fim de reduzir a dose e atenuar seus efeitos adversos, como bradicardia e bradipnéia, foi utilizada cetamina (1 mg/kg) como co-indutor. O animal foi intubado e foram posicionados os equipamentos para monitoração. Após o plano anestésico ser considerado adequado, realizou-se bloqueios intercostais, no 4º, 5º, 6º, 7º e 8º espaços intercostais, com lidocaína (1,5 mL/kg) e bupivacaína (1,5 mL/kg), sendo que a associação medicamentosa foi realizada com intuito de promover um período de latência mais curto e período de ação mais longo. Para manutenção anestésica, utilizou-se isofluorano diluído em oxigênio 100%, calibrado de acordo com o requerimento. No transoperatório, o animal apresentou hipotensão severa (PAS: 40 mmHg) em plano superficial. Como tratamento inicial, foi estabelecida prova de carga de ringer com lactato (10 mL/kg/hr), por 15 minutos. A pressão não sofreu alteração, então optou-se por realizar infusão contínua de dobutamina, inicialmente a 0,005 mg/kg/min, por 30 minutos, e, em seguida, a 0,01 mg/kg/min por 30 minutos, o que resultou no aumento satisfatório da PAS (110 mmHg). O tumor foi dissecado e removido, juntamente com remoção parcial dos folhetos do saco pericárdico. O animal foi extubado 20 minutos após o fim do procedimento, mantido em observação, e liberado pelo setor de clínica médica. O caso descrito representa um desafio importante em relação à anestesia de um gato com cardiomiopatia restritiva. A abordagem anestésica enfatiza a importância de estratégias cuidadosas e individualizadas ao lidar com procedimentos anestésicos em animais com doenças cardíacas graves.
Copyright (c) 2023 Marina Marangoni, Ana Luiza Castanho, Pollyana Freisleben, Carla Eduarda Dos Santos Ferreira, Marcio Oleszczyszyn, Thais Teixeira de Souza, Gentil Ferreira Gonçalves
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