ANESTESIA PARA PERICARDIECTOMIA EM GATO: RELATO DE CASO

  • Marina Marangoni UFFS
  • Ana Luiza Castanho Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Pollyana Freisleben Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Carla Eduarda Dos Santos Ferreira Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Marcio Oleszczyszyn Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Thais Teixeira de Souza Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Gentil Ferreira Gonçalves Universidade Federal da Fronteira Sul
Palavras-chave: cardiologia; cardiopatia; pericárdio; tumor; hipotensão.

Resumo

Os tumores cardíacos em animais são uma manifestação pouco comum, com uma prevalência reportada que oscila entre 0,12% e 0,19% em cães, bem como 0,03% em gatos. Em casos nos quais é possível a visualização por ecocardiografia, o diagnóstico final e tratamento é realizado por remoção cirúrgica. O objetivo deste trabalho é relatar a conduta anestésica em um procedimento de pericardiectomia em uma gata, de 6 anos. O animal chegou à Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária (SUHVU) por encaminhamento externo, e estava recebendo pimobendan (1,5 mg/g BID) e furosemida (10 mg/kg BID). Durante o exame físico, não foram verificadas alterações nos parâmetros fisiológicos, mas após a realização do exame T-FAST, foi identificada a presença de uma formação caudal ao átrio esquerdo. O animal foi encaminhado para o setor de cardiologia e, por meio de ecocardiografia, foi diagnosticada cardiomiopatia restritiva e efusão pericárdica, com presença de massa na cavidade pericárdica , junto ao átrio e ventrículo esquerdo (1,9 x 2,3 cm). Realizado o encaminhamento cirúrgico, foi constatado um baixo valor de hematócrito, seguido de estabilização por transfusão sanguínea. Na avaliação pré-anestésica, o paciente apresentou hipertensão, com pressão arterial sistólica (PAS) de 208 mmHg, e ausência de alterações em outros parâmetros avaliados. Como medicação pré anestésica, optou-se pelo midazolam (0,3 mg/kg) e metadona (0,3 mg/kg), por via intramuscular. A indução foi realizada com propofol (3 mg/kg) e, a fim de reduzir a dose e atenuar seus efeitos adversos, como bradicardia e bradipnéia, foi utilizada cetamina (1 mg/kg) como co-indutor. O animal foi intubado e foram posicionados os equipamentos para monitoração. Após o plano anestésico ser considerado adequado, realizou-se bloqueios intercostais, no 4º, 5º, 6º, 7º e 8º espaços intercostais, com lidocaína (1,5 mL/kg) e bupivacaína (1,5 mL/kg), sendo que a associação medicamentosa foi realizada com intuito de promover um período de latência mais curto e período de ação mais longo. Para manutenção anestésica, utilizou-se isofluorano diluído em oxigênio 100%, calibrado de acordo com o requerimento. No transoperatório, o animal apresentou hipotensão severa (PAS: 40 mmHg) em plano superficial. Como tratamento inicial, foi estabelecida prova de carga de ringer com lactato (10 mL/kg/hr), por 15 minutos. A pressão não sofreu alteração, então optou-se por realizar infusão contínua de dobutamina, inicialmente a 0,005 mg/kg/min, por 30 minutos, e, em seguida, a 0,01 mg/kg/min por 30 minutos, o que resultou no aumento satisfatório da PAS (110 mmHg). O tumor foi dissecado e removido, juntamente com remoção parcial dos folhetos do saco pericárdico. O animal foi extubado 20 minutos após o fim do procedimento, mantido em observação, e liberado pelo setor de clínica médica. O caso descrito representa um desafio importante em relação à anestesia de um gato com cardiomiopatia restritiva. A abordagem anestésica enfatiza a importância de estratégias cuidadosas e individualizadas ao lidar com procedimentos anestésicos em animais com doenças cardíacas graves.

Publicado
13-10-2023