ANESTESIA PARA CORREÇÃO DE SHUNT PORTOSSISTÊMICO INTRA-HEPÁTICO: RELATO DE CASO

  • Carla Eduarda dos Santos Ferreira Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Marina Marangoni Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Pollyana Freisleben Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Thais Teixeira de Souza Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Marcio Oleszczyszyn Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Ana Luiza Castanho Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Gabrielle Coelho Freitas Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Gentil Ferreira Gonçalves Universidade Federal da Fronteira Sul
Palavras-chave: Manejo Anestésico; Desvio Portossistêmico; Monitoração Anestésica.

Resumo

O shunt portossistêmico consiste em uma anomalia vascular hepática em que há conexão entre a circulação portal com a sistêmica. Ou seja, substâncias metabolizadas ou excretadas pelo órgão são desviadas para circulação venosa sistêmica de forma a acarretar insuficiência ou encefalopatia hepática. Desta forma, o médico veterinário anestesista deve se atentar as particularidades, pois além do fluxo sanguíneo anormal, a absorção, metabolismo e depuração estarão reduzidos. Um canino, 7 meses de idade, peso de 9,2kg e sem raça definida, foi encaminhado a Superintendência Unidade Hospitalar Veterinária Universitária (SUHVU) da Universidade Federal da Fronteira Sul, sob a queixa de shunt portossistêmico intra-hepático esquerdo. À anamnese o tutor relatou que animal apresentava sinais neurológicos sempre após alimentação, como pressionar a cabeça em estruturas sólidas, andar e abaixar a cabeça e caminhar para o lado esquerdo. O animal foi submetido ao exame ultrassonográfico, no qual foi constatado a presença de shunt portossistêmico intra-hepático esquerdo, com conexão entre o ramo portal esquerdo e a veia cava caudal. Foi indicado ao paciente terapia medicamentosa com ursacol e posterior tratamento cirúrgico. Ao exame eletrocardiográfico, observou-se arritmia sinusal e aumento da amplitude da onda T, sendo sugestivo de hipóxia do miocárdio ou distúrbios eletrolíticos. Como medicação pré-anestésica foi administrado morfina, na dose de 0,5 mg/kg por via intramuscular (IM), e após 50 minutos, realizado a antibioticoprofilaxia com cefalotina na dose de 30 mg/kg via intravenosa (IV) e posteriormente a indução à anestesia geral com cetamina, na dose de 2mg/kg e propofol, 2 mg/kg pela via IV. A fluidoterapia foi realizada com ringer lactato, na taxa de 5 mL/kg/h. A manutenção anestésica com realizada com agente inalatório isofluorano em vaporizador calibrado diluído em oxigênio 100%, sendo ajustado conforme a necessidade para manutenção do animal em plano anestésico adequado, variando de 0,5 a 1,2%. Ainda, foi estabelecido tratamento antibiótico com metronidazol na dose de 30 mg/kg. O procedimento cirúrgico durou uma hora. Durante todo o procedimento o animal foi monitorado e seus parâmetros fisiológicos foram anotados em ficha anestésica a cada cinco minutos. A temperatura esofágica ao inicio do procedimento estava em 37,2°C e ao final 36,5 °C. A frequência respiratória se manteve entre 16 a 20 movimentos por minutos. A saturação de oxigênio entre 100 e 98%. Contudo, a frequência cardíaca (FC) e pressão venosa central (PVC) apresentaram alterações após a ligadura do shunt, em que houve aumento da FC e mudança no formato da onda da PVC. A FC variou entre 90 a 139, e a PVC de 8,8 a 10 cm de H2O. A pressão arterial sistólica (PAS), média (PAM) e diastólica (PAD), variaram entre 96 a 40mmHg, 59 a 30mmHg e 40 a 20mmHg, consecutivamente. Ao momento dos menores valores de PAS, PAM e PAD, foi realizado infusão de dobutamina para manutenção da pressão arterial. Ao final do procedimento, foi administrado dipirona na dose de 25 mg/kg por via IV, e morfina, na dose de 0,1 mg/kg por via epidural, para controle da dor. A recuperação anestésica do animal foi tranquila.

Publicado
15-10-2023