COMPORTAMENTO ALIMENTAR E AUTOMEDICAÇÃO EM USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Resumo
A intensa urbanização, associada ao estilo de vida acelerado, provoca alterações prejudiciais ao comportamento dos indivíduos, levando-os a negligenciar o cuidado com a saúde, através de práticas como o uso imprudente de medicamentos sem prescrição e uma alimentação desbalanceada. Nessa perspectiva, objetivou-se avaliar a prevalência da automedicação e sua relação com variáveis sociodemográficas, de saúde e comportamentais. Trata-se de um estudo transversal, parte de uma pesquisa mais ampla, executado na Atenção Primária à Saúde, em 34 unidades da zona urbana de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, incluindo indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos. Após aprovação ética (parecer n° 3.219.633), os dados foram coletados por aplicação de questionário entre maio e agosto de 2019. O desfecho analisado foi a automedicação aferida pela resposta “sim” ao questionamento “Você tem o costume de tomar remédio por conta própria, sem receita?”. As variáveis independentes abrangeram sexo, idade, cor da pele, escolaridade, situação conjugal e estado nutricional. Ainda, analisou-se o comportamento alimentar através de um escore composto pelos marcadores de consumo, variando entre 0 e 9 pontos, sendo escore baixo (≤ 3 pontos), intermediário (4-6) e alto (≥ 7) e quanto mais elevada a pontuação, mais saudável o comportamento alimentar. Além da prevalência da automedicação (intervalo de confiança de 95% - IC95), estimou-se sua distribuição conforme variáveis independentes (qui-quadrado; erro alfa de 5%;). A amostra incluiu 1.443 indivíduos, destacando-se sexo feminino (71,0%), entre 18 e 29 anos (20,5%), de cor branca (64,8%), com ensino fundamental completo (45,6%) e cônjuge (72,2%) e peso corporal inadequado (68,7%). Ainda, 13,8%, 58,1% e 28,1% exibiram, respectivamente, escore de comportamento alimentar baixo, intermediário e alto. Foi observada prevalência de 51% de automedicação (IC95 48-53), maior no sexo feminino (54,6%; p<0,001), em participantes de 18 a 29 anos (59%; p<0,001), com cônjuge (52,4%; p=0,034) e peso corporal inadequado (52,3%; p=0,0431). Em relação ao comportamento alimentar, constatou-se maior prevalência da automedicação nos indivíduos com baixo escore (62,9%; p<0,001), enquanto os escores médio e alto apresentaram, respectivamente, 55,2% e 35,8%. A elevada prevalência do desfecho, especialmente em mulheres jovens, com peso corporal adequado e comportamento alimentar menos saudável, pode ser explicada em função de que, possivelmente, são mais acometidos por doenças autolimitadas e acreditam possuir conhecimento suficiente para tratar tais comorbidades. Ainda, essa população com comportamento alimentar inadequado parece se preocupar menos com hábitos saudáveis, estando mais suscetível a sofrer de condições que predispõem a automedicação, o que reforça a importância de medidas de prevenção em saúde focadas na modificação do padrão alimentar moderno.
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