RELAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE E HIPERCOLESTEROLEMIA

  • Gustavo Sandri Mello Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Passo Fundo
  • Julia Helena Glesse
  • Paulo Dambros Filho
  • Maria Fernanda Soares Gonçalves
  • Ivana Loraine Lindemann
  • Gustavo Olszanski Acrani
Palavras-chave: Hipercolesteremia, Dieta, Atenção Primária à Saúde

Resumo

A hipercolesterolemia, ou dislipidemia, é comumente definida como níveis elevados de colesterol de baixa densidade (LDL-C) ou níveis baixos de colesterol de alta densidade (HDL-C). Esses são fatores de risco importantes para doenças cardiovasculares ateroscleróticas e permanece assintomática até que ocorram complicações. Os fatores de risco para a hipercolesteremia incluem sedentarismo e dieta rica em gorduras saturadas, trans e colesterol. Por isso, é possível relacionar o comportamento alimentar individual com o desenvolvimento da doença. O presente estudo objetivou avaliar a relação entre características individuais e comportamento alimentar de usuários da Atenção Primária à Saúde (APS) com o diagnóstico de dislipidemia. Trata-se de um estudo transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS (parecer n.3.219.633), que contempla 34 unidades da APS da zona urbana de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Questionários foram aplicados para coleta de informações primárias entre maio e agosto de 2019. O desfecho contemplado foi o diagnóstico de hipercolesterolemia, se autorreferido pelo paciente quando indagado “Possui diagnóstico médico autorreferido de hipercolesterolemia?”. As variáveis independentes avaliadas foram idade, alfabetização, tabagismo e comportamento alimentar, o qual foi determinado mediante um escore com variação de 0 a 9 pontos. Um ponto foi somado ao escore para cada comportamento alimentar considerado adequado, portanto, quando os indivíduos relataram: fazer ao menos 5 refeições diárias; não realizar as refeições assistindo à TV, mexendo no computador e/ou celular. Ainda, considerando o dia anterior à coleta de dados, caso tivessem ingerido: feijão; frutas frescas; verduras e/ou legumes; ou no mesmo período, se não consumiram hambúrguer e/ou embutidos; bebidas adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados; biscoito recheado ou doces. Por fim, o acúmulo de 1-3 pontos foi considerado um baixo escore alimentar, o de 4-6, médio, e o de 7-9, alto. Frequências absolutas e relativas das variáveis independentes e o cálculo da prevalência do desfecho com intervalo de confiança de 95% (IC95) foram realizados, com mensuração da sua distribuição frente às variáveis de exposição (teste de qui-quadrado de Pearson; erro alfa de 5%). Na amostra (n=1.443), houve predominância de indivíduos do sexo feminino (71%), com faixa etária de 18 a 29 anos (20,5%), com ensino fundamental completo (45,6%), de cor branca (64,8%) e com sobrepeso (40,6%). Quanto ao comportamento alimentar, 58% dos pacientes atingiram médio escore e 28%, alto. A prevalência do diagnóstico de hipercolesterolemia na amostra foi de 25,2% (IC95 23-27%), sendo mais frequente em idosos (44,9%, p<0,001), em indivíduos brancos (26,3%, p 0,034), que não sabiam ler ou escrever (59,1%, p<0,001) e não fumantes (26,8%, p 0,002). Quanto ao comportamento alimentar, 10,8% daqueles com baixo escore tinham hipercolesterolemia, enquanto 33,2% dos participantes com alto escore apresentavam o diagnóstico (p<0,001). Portanto, as variáveis idade, raça, alfabetização e tabagismo estão relacionadas com a dislipidemia. O comportamento alimentar, através do escore, não demonstrou resultados esperados, visto que o alto escore deveria ser fator protetor para hipercolesterolemia. Isso pode ter ocorrido pelo viés de causalidade reversa e pelo estudo ser transversal.

Publicado
31-10-2023