RELAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTO ALIMENTAR E HIPERTRIGLICERIDEMIA EM USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Resumo
Os triglicerídeos podem ser adquiridos através da alimentação ou produzidos pelo organismo no fígado. No entanto, o excesso de triglicerídeos no sangue é definido como hipertrigliceridemia. A doença é definida como níveis elevados de triglicérides a partir de 150 mg/dL. Algumas pessoas apresentam alterações genéticas que predispõem à níveis altos de triglicérides, outras desenvolvem secundariamente a uma dieta hipercalórica ou à presença de determinadas doenças. Por isso, é possível relacionar o comportamento alimentar individual com o desenvolvimento de hipertrigliceridemia. O atual estudo objetiva avaliar as características individuais e o comportamento alimentar e sua relação com o diagnóstico de hipertrigliceridemia em indivíduos atendidos na Atenção Primária à Saúde (APS). Trata-se de um estudo transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS (parecer n.3.219.633), que contempla 34 unidades da APS da zona urbana de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Questionários foram aplicados para coleta de informações primárias entre maio e agosto de 2019. O desfecho contemplado foi o diagnóstico de hipertrigliceridemia, autorreferido pelo paciente quando indagado “Possui diagnóstico médico autorreferido de hipertrigliceridemia?”. As variáveis independentes computadas foram idade, alfabetização, prática de atividade física e comportamento alimentar, o qual foi avaliado mediante um escore com variação de 0 a 9 pontos. Um ponto foi somado ao escore para cada comportamento alimentar considerado adequado, portanto, quando os indivíduos relataram: fazer ao menos 5 refeições diárias; não realizar as refeições assistindo à TV, mexendo no computador e/ou celular. Também, considerando o dia anterior à coleta de dados, caso tivessem ingerido: feijão; frutas frescas; verduras e/ou legumes; ou ainda, no mesmo período, se não consumiram hambúrguer e/ou embutidos; bebidas adoçadas; macarrão instantâneo, salgados de pacote ou biscoitos salgados; biscoito recheado ou doces. Por fim, o acúmulo de 1-3 pontos foi considerado um baixo escore alimentar, o de 4-6, médio, e o de 7-9, alto. Ademais, frequências absolutas e relativas das variáveis independentes e o cálculo da prevalência do desfecho com intervalo de confiança de 95% (IC95) foram realizados, com mensuração da sua distribuição frente às variáveis de exposição (teste de qui-quadrado de Pearson; erro alfa de 5%). Na amostra (n=1.443), houve predominância do sexo feminino (71%), faixa etária entre 18 e 29 anos (20,5%), com ensino fundamental completo (45,6%), de cor branca (64,8%) e com sobrepeso (40,6%). Quanto ao comportamento alimentar dos participantes, 58% dos pacientes atingiram escore média e 28%, alto. A prevalência do diagnóstico de hipertrigliceridemia foi de 19,1% (IC95 17-21%). Foi observada predominância de diagnóstico entre os idosos (31,8%, p<0,001), que não sabiam ler ou escrever (45%, p<0,001) e que realizavam atividade física (23%, p<0,001). Quanto ao comportamento alimentar, 8,2% daqueles com baixo escore apresentavam diagnóstico enquanto 27,7% dos pacientes com alto escore tinham o diagnóstico (p<0,001). O comportamento alimentar, através do escore, não demonstrou resultados esperados, visto que o alto escore deveria ser fator protetor para hipertrigliceridemia. Isso pode ter ocorrido pelo viés de causalidade reversa ou pelo estudo ser transversal.
Copyright (c) 2023 Gustavo Sandri Mello, Julia Helena Glesse, Paulo Dambros Filho, Maria Fernanda Soares Gonçalves, Ivana Loraine Lindemann, Gustavo Olszanski Acrani
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