USO CONTÍNUO DE MEDICAMENTOS E AUTOPERCEPÇÃO NEGATIVA DA SAÚDE EM USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

  • Julia Helana Glesse UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - PASSO FUNDO
  • Gustavo Sandri Mello
  • Maria Fernanda Soares Gonçalves
  • Paulo Dambros Filho
  • Gustavo Olszanski Acrani
  • Ivana Loraine Lindemann
Palavras-chave: Atenção primária à saúde, estudos transversais, polimedicação

Resumo

A autopercepção da saúde constitui um indicador subjetivo e diz respeito à percepção que um indivíduo tem de sua saúde, podendo servir como parâmetro para avaliar a saúde de grupos populacionais de forma rápida, eficaz e pouco onerosa. Ela é importante no sentido de estabelecer pontos cruciais de intervenção e pode sofrer influência de muitos aspectos como: comorbidades, hábitos, ambiente, condição psicossocial e econômica, acesso à assistência médica, entre outros. Desse modo, o presente estudo pretendeu aferir a relação entre a autopercepção negativa da saúde (ANS) e a utilização de medicamentos de uso contínuo (UMUC) em indivíduos atendidos na Atenção Primária à Saúde (APS). O estudo faz parte de uma pesquisa de delineamento epidemiológico transversal, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS (pelo parecer n° 3.219.633) e realizada em 34 unidades da APS da zona urbana de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Os dados foram reunidos a partir de questionários aplicados entre maio e agosto de 2019 nas unidades de saúde. O desfecho foi a ANS, avaliada pelo questionamento “como você considera sua saúde?”, com agrupamento das respostas “regular” e “ruim”. As variáveis independentes consideradas foram sexo, idade, cor da pele e UMUC. Na análise estatística dos dados, executaram-se as frequências absolutas e relativas das variáveis independentes, o cálculo da prevalência do desfecho com intervalo de confiança de 95% (IC95) e também a constatação da sua distribuição em função das variáveis preditoras (teste de qui-quadrado de Pearson; erro alfa de 5%). A amostra (n=1.443) teve predomínio de mulheres (71,0%), entre 18 e 29 anos (20,5%), cor branca (64,8%), ensino fundamental completo (45,6%), peso corporal inadequado (68,7%) e, mais da metade relatou UMUC (63,5%). Ainda, a prevalência do desfecho (ANS) foi de 47% (IC95 44-49), com predominância em idosos (37,8%; p<0,001), em indivíduos de cor branca (60,6%; p=0,003), letrados (93,1%; p=0,003), com peso corporal inadequado (73,8%; p<0,001) e que faziam uso de algum medicamento todos os dias (79,7%; p<0,001). Observa-se, portanto, que há relação entre UMUC e ANS, provavelmente porque pessoas que consomem medicações continuamente possuem também mais comorbidades em tratamento, o que favorece uma percepção negativa acerca de seu próprio estado de saúde. Ademais, encontrou-se relação entre a ANS e 60 anos ou mais de idade, o que também pode ter acontecido levando em consideração que o número de problemas de saúde tende a crescer com o avançar da idade.

Publicado
31-10-2023