MULTIMORBIDADES E SUA RELAÇÃO COM AUTOMEDICAÇÃO EM USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

  • Paulo Dambros Filho UFFS- Passo Fundo
  • Gustavo Sandri Mello
  • Julia Helena Glesse
  • Maria Fernanda Soares Gonçalves
  • Ivana Loraine Lindemann
  • Gustavo Olszanski Acrani
Palavras-chave: Doenças Crônicas, Atenção Primária à Saúde, Automedicação

Resumo

Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) alteram a qualidade de vida individual, e
sua incidência aumenta ao envelhecer. Nesse sentido, quando o indivíduo possui duas ou
mais DCNT, configura um quadro de multimorbidade. Ser portador de multimorbidades
é um determinante para um maior consumo de medicações (cuja prescrição é intrínseca
ao profissional médico), objetivando reduzir as complicações dessas doenças. O hábito
de automedicação (consumo de medicamentos sem receita), entretanto, é nocivo para a
saúde pública, já que representa um afastamento da prescrição orientada por profissionais
da rede. Por mais que a automedicação possa trazer benefícios como alívio imediato de
sintomas, há riscos associados a essa prática: autodiagnóstico equivocado, intoxicações,
interações medicamentosas e chance de dependência farmacológica. O presente estudo
teve como objetivo avaliar a relação entre a presença de multimorbidades e sua relação
com o hábito de automedicação em indivíduos atendidos na Atenção Primária à Saúde
(APS), além de avaliar a relação de outros fatores, como sexo e idade com o desfecho.
Trata-se de um estudo transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS (parecer n.3.219.633), que
contemplou 34 unidades da APS da zona urbana de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Foi
realizada a aplicação de questionários para coleta de informações primárias entre maio e
agosto de 2019. O desfecho avaliado foi a presença do hábito de automedicação,
informação obtida por meio da pergunta “Você tem o costume de tomar remédio por conta
própria, sem receita?”. As variáveis independentes computadas foram sexo, idade e
presença de multimorbidade, aferida por meio do diagnóstico médico autorreferido de
duas ou mais das seguintes doenças crônicas: hipertensão arterial sistêmica, diabetes
mellitus, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, cardiopatia e tireoideopatia. Além
disso, foram estimadas as frequências absolutas e relativas das variáveis independentes,
bem como foi realizado o cálculo da prevalência do desfecho com intervalo de confiança
de 95% (IC95), com avaliação de sua distribuição frente às variáveis de exposição (teste
de qui-quadrado de Pearson; erro alfa de 5%). A amostra (n=1.443) foi composta
majoritariamente de mulheres (71%), com faixa etária de 18 a 29 anos (20,5%), com
ensino fundamental completo (45,6%), de cor branca (64,8%), com renda per capita de
até 1 salário mínimo (71,2%) e com sobrepeso (40,6%). Além disso, 41% dos
participantes eram multimórbidos. A prevalência das práticas de automedicação na
amostra foi de 47% (IC95 45-50%). A automedicação foi mais prevalente entre indivíduos do sexo feminino (54,6%, p<0,001) e jovens de 18-39 anos (58,4%, p<0,001). Ademais,o hábito de consumo de medicação sem receita foi mais frequente entre indivíduos sem
multimorbidade (54%, p=0,002). Portanto, na amostra em questão, foi observada
predominância da automedicação entre mulheres e adultos jovens, padrão já
documentado pela literatura. Contudo, aferiu-se uma maior prevalência entre os
indivíduos sem multimorbidades, o contrário do esperado. Isso pode ocorrer porque
pacientes multimórbidos realizam acompanhamento em saúde, onde há o aconselhamento
médico para evitar automedicar-se, devido às sérias complicações desse hábito - o que
reforça o papel da longitudinalidade do Sistema Único de Saúde.
Palavras-chave: Doenças Crônicas; Atenção Primária à Saúde; Automedicação.

Publicado
31-10-2023