COMPORTAMENTO ALIMENTAR E QUANTIDADE DE MEDICAMENTOS UTILIZADOS POR USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

  • Julia Helana Glesse UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - PASSO FUNDO
  • Paulo Dambros Filho
  • Gustavo Pelicer Schwaab
  • Lucas Dalla Maria
  • Gustavo Olszanski Acrani
  • Ivana Loraine Lindemann
Palavras-chave: comportamento alimentar, medicamentos de uso contínuo, estudos transversais, atenção primária à saúde

Resumo

A quantidade de medicamentos consumida por dia (QMD) tem muito a dizer sobre a saúde de um indivíduo, sua condição psicossocial e econômica, entre outros aspectos. Sabe-se, inclusive, que quanto mais comorbidades, maior a QMD. Ainda, é fato consolidado na literatura que hábitos alimentares têm grande influência no curso de inúmeras doenças que demandam o uso contínuo de medicamentos. Sendo assim, o presente estudo objetivou avaliar a relação entre práticas de comportamento alimentar (CA) e a QMD em indivíduos atendidos na Atenção Primária à Saúde (APS). Trata-se de um recorte de uma pesquisa transversal aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS (parecer n° 3.219.633) e executada em 34 unidades da APS da zona urbana de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Os dados foram obtidos através de questionários, aplicados entre maio e agosto de 2019, nas próprias unidades de saúde. O desfecho foi o uso de 3 ou mais medicamentos, avaliado pelo questionamento “quantos remédios você toma todos os dias?”, considerando as respostas “≥ 3”. As variáveis independentes consideradas foram idade, escolaridade, autopercepção da saúde e o CA, mediante um escore com variação de 0 a 9 pontos, em que um ponto foi somado a cada comportamento considerado correto. Esses comportamentos são: comer ao menos 5 refeições diárias; e não as realizar assistindo à TV, mexendo no computador e/ou celular; ademais, considerando o dia anterior à entrevista, caso tivessem ingerido feijão; frutas frescas; verduras e/ou legumes; ou ainda, no mesmo período, se não consumiram hambúrguer e/ou embutidos; bebidas adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados; biscoito recheado, doces ou guloseimas. Assim, uma pontuação de ≤ 3 pontos foi considerada baixo escore alimentar, de 4-6, médio, e de ≥7, alto. Na análise estatística, executaram-se as frequências absolutas e relativas das variáveis independentes, o cálculo da prevalência do desfecho com intervalo de confiança de 95% (IC95) e também a constatação da sua distribuição em função das variáveis preditoras (teste de qui-quadrado de Pearson; erro alfa de 5%). A amostra (n=1.443) foi formada principalmente por participantes do sexo feminino (71,0%) com idade entre 18 e 29 anos (20,5%), cor branca (64,8%), ensino fundamental completo (45,6%) e peso corporal inadequado (68,7%). Considerando o CA, 58,1% dos entrevistados obtiveram escore médio e 28,1%, alto. A prevalência do desfecho foi de 48% (IC95 45-52), com predominância em participantes com 65 anos ou mais (69,9%; p<0,001), com ensino fundamental completo (54,6%; p<0,001) e com autopercepção negativa da própria saúde (61,7%; p<0,001). Analisando a relação entre o escore construído e o uso de 3 ou mais medicamentos, este aumentou simultaneamente àquele (baixo: 33,7%, médio: 46,5% e alto: 58,1%; p<0,001). Esse resultado se deve, provavelmente, à maior adesão de hábitos alimentares saudáveis - por orientação médica - quando o indivíduo possui alguma condição de saúde que requer medicação para o tratamento. Essa constatação pode ser explicada pelo viés de causalidade reversa, por não haver claro conhecimento da cronologia das variáveis.

Publicado
31-10-2023