COMPORTAMENTO ALIMENTAR E QUANTIDADE DE MEDICAMENTOS UTILIZADOS POR USUÁRIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Resumo
A quantidade de medicamentos consumida por dia (QMD) tem muito a dizer sobre a saúde de um indivíduo, sua condição psicossocial e econômica, entre outros aspectos. Sabe-se, inclusive, que quanto mais comorbidades, maior a QMD. Ainda, é fato consolidado na literatura que hábitos alimentares têm grande influência no curso de inúmeras doenças que demandam o uso contínuo de medicamentos. Sendo assim, o presente estudo objetivou avaliar a relação entre práticas de comportamento alimentar (CA) e a QMD em indivíduos atendidos na Atenção Primária à Saúde (APS). Trata-se de um recorte de uma pesquisa transversal aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS (parecer n° 3.219.633) e executada em 34 unidades da APS da zona urbana de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Os dados foram obtidos através de questionários, aplicados entre maio e agosto de 2019, nas próprias unidades de saúde. O desfecho foi o uso de 3 ou mais medicamentos, avaliado pelo questionamento “quantos remédios você toma todos os dias?”, considerando as respostas “≥ 3”. As variáveis independentes consideradas foram idade, escolaridade, autopercepção da saúde e o CA, mediante um escore com variação de 0 a 9 pontos, em que um ponto foi somado a cada comportamento considerado correto. Esses comportamentos são: comer ao menos 5 refeições diárias; e não as realizar assistindo à TV, mexendo no computador e/ou celular; ademais, considerando o dia anterior à entrevista, caso tivessem ingerido feijão; frutas frescas; verduras e/ou legumes; ou ainda, no mesmo período, se não consumiram hambúrguer e/ou embutidos; bebidas adoçadas; macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados; biscoito recheado, doces ou guloseimas. Assim, uma pontuação de ≤ 3 pontos foi considerada baixo escore alimentar, de 4-6, médio, e de ≥7, alto. Na análise estatística, executaram-se as frequências absolutas e relativas das variáveis independentes, o cálculo da prevalência do desfecho com intervalo de confiança de 95% (IC95) e também a constatação da sua distribuição em função das variáveis preditoras (teste de qui-quadrado de Pearson; erro alfa de 5%). A amostra (n=1.443) foi formada principalmente por participantes do sexo feminino (71,0%) com idade entre 18 e 29 anos (20,5%), cor branca (64,8%), ensino fundamental completo (45,6%) e peso corporal inadequado (68,7%). Considerando o CA, 58,1% dos entrevistados obtiveram escore médio e 28,1%, alto. A prevalência do desfecho foi de 48% (IC95 45-52), com predominância em participantes com 65 anos ou mais (69,9%; p<0,001), com ensino fundamental completo (54,6%; p<0,001) e com autopercepção negativa da própria saúde (61,7%; p<0,001). Analisando a relação entre o escore construído e o uso de 3 ou mais medicamentos, este aumentou simultaneamente àquele (baixo: 33,7%, médio: 46,5% e alto: 58,1%; p<0,001). Esse resultado se deve, provavelmente, à maior adesão de hábitos alimentares saudáveis - por orientação médica - quando o indivíduo possui alguma condição de saúde que requer medicação para o tratamento. Essa constatação pode ser explicada pelo viés de causalidade reversa, por não haver claro conhecimento da cronologia das variáveis.
Copyright (c) 2023 Julia Helana Glesse, Paulo Dambros Filho, Gustavo Pelicer Schwaab, Lucas Dalla Maria, Gustavo Olszanski Acrani, Ivana Loraine Lindemann
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Submeto o trabalho apresentado como texto original à Comissão Editorial do XII SEPE e concordo que os direitos autorais, a ele referente, se torne propriedade do Anais da XII SEPE da UFFS.