PREVALÊNCIA DE DIAGNÓSTICOS MÉDICOS AUTORREFERIDOS DE TRANSTORNOS MENTAIS EM PROFESSORES DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

  • Lucas Dalla Maria Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Maria Fernanda Soares Gonçalves
  • Jarbas Rygoll de Oliveira Filho
  • Ana Larissa Gonçalves da Silva
  • Gustavo Olszanski Acrani
  • Ivana Loraine Lindemann
Palavras-chave: saúde mental, depressão, ansiedade, estresse ocupacional, esgotamento psicológico

Resumo

A saúde mental tem sido uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública, recebendo uma ínfima parcela da atenção governamental e dos recursos financeiros de que necessita e merece. Em 2019, quase um bilhão de pessoas viviam com transtornos mentais, impactando negativamente a qualidade de vida, a capacidade laboral e o bem-estar social. Além disso, pressões socioeconômicas e condições de trabalhos exercem forte influência na saúde psíquica, principalmente nos profissionais da educação. Nessa ótica, o presente estudo objetivou avaliar a prevalência de transtornos mentais em professores da rede pública de ensino, bem como investigar sua relação com variáveis sociodemográficas, comportamentais, laborais e de saúde. Trata-se de um estudo transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFFS (parecer n° 3.314.996), realizado em escolas municipais e estaduais de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, com coleta de dados on-line de 23/08/2019 a 13/02/2020. A variável de desfecho foi saúde mental comprometida, caracterizada pela ocorrência de um ou mais transtornos mentais aferidos por diagnóstico médico autorreferido de estresse, ansiedade, depressão e Síndrome de Burnout. As variáveis independentes contemplaram sexo, idade, cor da pele, renda
familiar, área de formação, tempo de docência, carga horária semanal, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo, atividades de lazer, prática de exercícios físicos, uso de medicamentos hipnóticos, acompanhamento psicoterápico, satisfação com a docência e fatores estressores no ambiente de trabalho. Na análise estatística, executaram-se a descrição das frequências absolutas e relativas das variáveis independentes, o cálculo da prevalência do desfecho e dos transtornos, com intervalo de confiança de 95% (IC95) e, a verificação da distribuição da saúde mental comprometida conforme variáveis preditoras (teste de qui-quadrado de Pearson; erro alfa de 5%). A amostra de 225 professores apresentou predomínio do sexo feminino (91,1%), faixa etária entre 41 e 50 anos (38,2%) e cor de pele branca (89,3%). A renda familiar mensal mais frequente encontrou-se entre 0 e 5.000 reais (54,5%), a área de formação foi ciências humanas (73,5%), o tempo de docência entre 16 e 25 anos (33,3%) e a carga horária semanal entre 31 e 40 horas (53,8%). Em relação às características comportamentais, 72,9% consumiam bebidas alcoólicas, 13,3% eram tabagistas, 92,4% referiram atividades de lazer e 62,7% praticavam exercícios físicos. Quanto à saúde e ao trabalho, 17,3% usavam medicamentos hipnóticos, 28,4% referiram acompanhamento psicoterápico, 62,7% estavam satisfeitos com a docência e 92,4% mencionaram fatores estressores. Os diagnósticos de estresse, ansiedade, depressão e Síndrome
de Burnout foram referidos, respectivamente, por 69% (IC95 63-75), 35% (IC95 29-42), 33% (IC95 26-39) e 14% (IC95 9-19), representando 77% (IC95 71-82) de saúde mental comprometida. Observaramse maiores prevalências do desfecho no sexo feminino (79,5%; p=0,003), naqueles em uso de medicamentos hipnóticos (94,9%; p=0,003) e acompanhamento psicoterápico (95,3%; p<0,001), nos satisfeitos com a docência (85,5%; p=0,017) e com fatores estressores laborais (80,9%; p<0,001).
Portanto, a prevalência estimada dos transtornos mentais na amostra encontrou-se superior aos índices observados na população em geral, reafirmando a nociva situação enfrentada pelos profissionais da educação e a importância de políticas públicas com foco nesse estrato social.

Publicado
21-11-2022