CARACTERÍSTICAS DO SUICÍDIO ENTRE INDÍGENAS NO BRASIL: UMA ANÁLISE DAS NOTIFICAÇÕES DE 2010 A 2019

  • Thiago Emanuel Rodrigues Novaes Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Renata dos Santos Rabello
  • Ivana Loraine Lindemann
Palavras-chave: Suicídio, Saúde Mental em Grupos Étnicos, Saúde de Populações Indígenas, Mapeamento Geográfico, Saúde Pública

Resumo

O suicídio se trata de um fenômeno complexo em diversas sociedades, relacionado intimamente aos aspectos socioculturais da população e refletido em elevados impactos na saúde pública. Ainda, representa uma das principais causas de morte no Brasil, onde indivíduos indígenas possuem as maiores taxas de mortalidade quando comparados a outros grupos étnicos. Esta pesquisa partiu da necessidade de divulgar o cenário das mortes autoprovocadas em indígenas no território, visando direcionar ações da vigilância epidemiológica e de outros órgãos em defesa da vida. Assim, o objetivo deste trabalho é caracterizar o perfil epidemiológico dos casos de suicídio entre indígenas no Brasil. Trata-se de um estudo ecológico com abordagem descritiva referente às notificações de mortes autoprovocadas (CID-10 X60-X84) entre indígenas, em território brasileiro, no período de 2010 a 2019, ao Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), as quais são disponibilizadas no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil do Ministério da Saúde (DATASUS) e utilizadas como dados para esta produção. Nesse sentido, os dados foram exportados para planilhas eletrônicas, onde se pôde produzir os elementos gráficos e realizar as análises estatísticas, que correspondem às frequências absolutas (n) e relativas (%) de variáveis sociodemográficas das vítimas e das características relacionadas ao suicídio, além das taxas de mortalidade por 100.000 habitantes, considerando-se como denominador a população indígena, por local e período, conforme dados do Censo Demográfico de 2010. Em relação aos aspectos éticos, por utilizar dados secundários de domínio público, houve dispensa da apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa de acordo com a resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. No período analisado foram notificadas 1.186 mortes autoprovocadas entre indígenas. Das vítimas, 73,8% pertenciam ao sexo masculino, 63,5% possuíam entre 15 e 29 anos, 77,8% não possuíam cônjuge e 64,5% tiveram entre 4 e 11 anos de estudo. Quanto aos aspectos do ato, em 89,0% o método escolhido foi o enforcamento e 61,7% o praticaram em seus domicílios. As maiores concentrações desses óbitos foram registradas nos estados do Amazonas (n=482) e Mato Grosso do Sul (n=370). As taxas de mortalidade durante o período indicaram que houve aumento progressivo de suicídios nesse grupo étnico, uma vez que passou de 11,0/100.000, em 2012, para 18,3/100.000 em 2017. Diante disso, observa-se como o suicídio entre indígenas se constitui como um grave problema de saúde pública a ser discutido e combatido no Brasil, com direcionamento de políticas públicas de prevenção para os perfis de risco evidenciados no estudo: homens, jovens, solteiros e com ensino fundamental, especialmente para os que habitam nos estados do Amazonas e do Mato Grosso do Sul.

Publicado
21-11-2022