“O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS”: UMA CONTRIBUIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA REFERENTE AO CONSUMO DE ÁLCOOL

  • Thiago Emanuel Rodrigues Novaes Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Thaís Bresolin
  • Ana Selia Rodrigues Novaes
  • Gustavo Olszanski Acrani
  • Ivana Loraine Lindemann
Palavras-chave: Consumo de Bebidas Alcoólicas, Sub-Registro, Registros Eletrônicos de Saúde, Registros Médicos, Saúde Pública

Resumo

Na obra-prima de Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe, o protagonista viaja por diversos planetas para conhecer o Universo, tendo a oportunidade de observar hábitos e dialogar com vários indivíduos. Entre as pessoas com quem conversou, cabe destacar o “beberrão”, que, nas palavras do autor, melancolizou o “principezinho”. Ao questionar ao personagem alcoolista sobre as razões pelas quais bebia, entristeceu-se com a resposta: bebia para esquecer que tinha vergonha de beber, tal como um círculo vicioso. Sabe-se que o consumo de álcool possui diversos efeitos negativos sobre a saúde, tanto dos usuários quanto daqueles com quem convivem e, que as estratégias de promoção da saúde possuem um papel fundamental no combate ao alcoolismo. A identificação dos fatores de risco relacionados ao consumo de álcool e da prevalência desse consumo na população representa um dos eixos da promoção de saúde, devendo ser realizada em todos os âmbitos de assistência para permitir abordagens de prevenção e tratamento. Entretanto, muitas unidades de saúde acabam não documentando essa informação em prontuários. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo caracterizar os registros referentes ao consumo de álcool na atenção primária à saúde (APS) de um município no norte do Rio Grande do Sul. Trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa de dados secundários, oriundos de prontuários de pacientes adultos e idosos atendidos na APS, no ano de 2019, sendo excluídos somente aqueles que evoluíram ao óbito. Os dados foram coletados em prontuários eletrônicos, com acesso on-line, por meio de login e senha, fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde, e diretamente digitados em banco criado no software EpiData, de livre distribuição. As análises estatísticas foram realizadas no PSPP, também de livre distribuição, e contemplaram frequências absolutas (n) e relativas (%) das respostas à pergunta “faz uso de álcool?”, que consta no prontuário eletrônico como parte da anamnese. As opções de resposta eram “sim” e “não”, sendo que, os casos não informados foram agrupados como “não”. A pesquisa foi aprovada no CEP da UFFS sob o parecer 4.769.903. A amostra foi constituída de n=3.309 pacientes. Na população adulta (n=1.581), observou-se registro de consumo de álcool para 3,7% dos pacientes, enquanto para 96,3% a informação foi registrada como “não/não informado” restando assim a dúvida se de fato não consumiam ou se os dados foram subnotificados. Entre idosos (n=1.728), constava consumo de álcool para 5,0%, ao passo que para 95% foi registrado “não/não informado”. É sabido que, em geral, a prevalência do consumo de álcool é mais elevada e que, comumente, é menor entre idosos. Diante disso, cabe questionar a qualidade da triagem, pois, apesar da equipe multiprofissional ser habilitada para abordar questões quanto ao estilo de vida, o consumo de álcool é um dos menos investigados. É necessário, portanto, que ocorra uma busca ativa para o consumo de álcool na APS, facilitando a triagem com questionário especificado e capacitação dos profissionais, evitando vieses de interpretação e possibilitando a obtenção de informações mais fidedignas quanto a esse problema na população.

Publicado
21-11-2022