“Chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”

uma sequência didática desde as margens e a contrapelo

Palavras-chave: passados vivos, antirracismo, enegrecer, currículo

Resumo

O Brasil é um país racista. Essa é uma constatação primordial àqueles comprometidos com uma educação crítica que pretenda uma sociedade democrática. Contudo, ir além é preciso: ter-se-á de reconhecer os privilégios dos sujeitos que encarnam as posições de exercício da opressão e abrir espaço para questões complexas. Nesse enegrecimento das escolas e dos currículos – sem o qual não se obterá sucesso na formulação e execução de um cenário pedagógico comprometido com o rechaço dos preconceitos –, o ensino de história terá um papel central. Diante disso, será possível observar uma ruptura na disciplina. Trata-se de questionar a temporalidade eurocêntrica e linear ao mesmo tempo em que se discute um projeto de conteúdos com outro foco: desde as margens e a contrapelo. Isto é, fale-se que o cruzo da educação antirracista e do ensino de história exige mudanças radicais em, pelo menos, três pontos: filiação epistemológica dos discursos historiográficos, concepção pedagógica invocada nas salas de aula e, no limite, a própria realidade social em que os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem se fazem e refazem. A partir dessas reflexões, partiu-se às telas dos computadores e celulares de uma escola e das casas de estudantes e professores (no contexto “híbrido” do momento pandêmico) no intuito de aprofundar essa conversa e, preferencialmente, chegar a considerações e a outros problemas. Os apontamentos e as conclusões são fruto da trajetória de pesquisa do núcleo de História do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), da CAPES, na UFFS – Campus Erechim. Ao se analisar as experiências propiciadas, entende-se que esse não é um assunto a ser estudado em algumas poucas aulas em um determinado ano escolar. A luta contra o racismo urge pela expansão desses debates e, com isso, deve-se discutir, obrigatoriamente, sobre um outro currículo – no qual haja mais chance de abordagem desse e de tantos outros problemas dos Brasis de 1850 e de 2022. No que se refere a uma inquirição sobre as atividades propriamente ditas, quais sejam, as três aulas síncronas e as duas atividades propostas, percebe-se que a experiência foi muito positiva – tendo gerado uma bagagem aos ministrantes vinculados ao PIBID e também aos educandos envolvidos na prática. De fato, os encontros instigaram a adoção de uma postura antirracista com base em reflexões a partir dos elementos trazidos para estudo. Desse modo, reivindica-se que as aulas de História puderam assumir o seu caráter político. Isto é, forçaram os envolvidos na dinâmica a posicionarem-se diante da realidade e a nela atuarem de modo consciente. Além de saber-se que o nome do Brasil é Dandara e que já está mais do que na hora de ouvir as Marias, Mahins, Marielles e os malês, uma questão emerge: até quando esse país pisado e que resiste há séculos continuará fora do retrato? Se a sequência didática mostrou que o ensino de história tem um papel importante na luta antirracista, quando a “história pra ninar gente grande” será abandonada de vez em nome de um currículo enegrecido?

Publicado
13-10-2022