EXTENSÃO RURAL E MATERIALISMO HISTÓRICO

UMA ANÁLISE DOS MÉTODOS DE SISTEMATIZAÇÃO DE EXPERIÊNCIAS AGROECOLÓGICAS ADOTADOS PELA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA

  • Tábata Morena Rodrigues Saragoso Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Benedito Silva Neto

Resumo

O presente trabalho faz parte da pesquisa que está sendo realizada como trabalho de conclusão do curso de graduação em Agronomia da Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Cerro Largo, e tem como objetivo realizar uma análise, sob a perspectiva do materialismo histórico, dos métodos de sistematização de experiências agroecológicas adotados pela Associação Brasileira de Agroecologia (ABA-Agroecologia) no projeto “Sistematização de experiências: construção e socialização de conhecimentos: o protagonismo dos Núcleos e Rede de Núcleos de Estudos em Agroecologia das universidades públicas brasileiras”. A extensão rural, no Brasil, remonta à década de 1940, e desde então, passou por fases que, historicamente, determinaram as abordagens de atuação das instituições públicas e privadas, e dos agentes extensionistas. Na atualidade, o difusionismo tecnológico é o principal foco nas ações de extensão, fato que gera conflito na formulação de estratégias de desenvolvimento rural. Como alternativa ao modelo dominante de agricultura, a Agroecologia coloca-se como uma abordagem contra-hegemônica, pois tem como princípio fundamental oferecer uma visão holística das diversas atividades que fazem parte do contexto rural no país. A Agroecologia apresenta, também, um discurso de forte contestação ao padrão tecnológico, e o incentivo à produção científica tem sido um meio utilizado para superar o modelo agrícola hegemônico. Contudo, as práticas acadêmicas raramente assumem um posicionamento histórico sobre a origem das condições materiais da sociedade, e isso coloca sérios obstáculos à formulação de propostas coerentes com uma transição agroecológica que atinja o conjunto da agricultura. Pensando na necessidade de compreensão das contradições presentes nos diversos discursos agroecológicos, em especial, aos que compõem às bases teórico-metodológicas adotadas pela ABA-Agroecologia na sistematização de experiências agroecológicas dos Núcleos de Agroecologia, a pesquisa está sendo conduzida sob uma análise documental dos documentos publicados a partir da realização do projeto em questão. O materialismo histórico é um método de análise que compreende a realidade social como algo imanente às suas condições histórico-materiais, e portanto, é funcional ao analisar a coerência da produção de conhecimento do campo agroecológico e suas consequências reais em relação ao padrão tecnológico hegemônico, pois analisa questões sociais considerando as relações de interdependência que mantém com fatores historicamente determinantes, constituindo, assim, a categoria da totalidade. Como resultados, espera-se que ao final do projeto, seja possível compreender a coerência do discurso da ABA-Agroecologia na sistematização de experiências agroecológicas com os resultados das ações realizadas no projeto. Até o momento, foi possível perceber que há, nos pressupostos metodológicos adotados pela ABA-Agroecologia, uma tendência pela aplicação de processos educacionais e de comunicação, comumente encontrados na Educação Popular, e que se baseiam nas obras de Paulo Freire e Oscar Jara Holliday. Isso tem gerado um vazio teórico sobre as condições materiais dos sistemas agrários, não sendo uma estratégia viável para a elaboração de ações coerentes na qual a Agroecologia seja capaz de superar o padrão dominante.

Publicado
24-09-2019
Seção
Campus Cerro Largo - Projetos de Pesquisa