AVENTURAS E DESVENTURAS DE PERICO TREPA POR CHILE

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA TRADUTÓRIA

  • Laís Viecelli Dela Betta Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Alejandra Maria Rojas Covalski

Resumo

Aqui apresentamos o resultado do Trabalho de Conclusão de Curso apresentado por mim na graduação em Letras. Para sua elaboração, incluímos nossa tradução de cinco capítulos do livro de literatura infantil chileno Perico Trepa por Chile, publicado em 1978 por Alicia Morel e Marcela Paz. Buscamos demonstrar que através de uma estratégia de tradução estrangeirizante ou menos domesticadora é possível enaltecer, difundir e aproximar duas culturas. Nosso objetivo é, também, tornar conhecida a literatura infantil chilena da década de 1970, contribuindo com a difusão da literatura de países hispano-americanos como forma de integração com o Brasil; valorizar este gênero literário, que, por muito tempo, foi considerado de menor valor e estimular a aproximação de crianças e adolescentes a outra cultura. A escolha do livro que traduzimos deveu-se principalmente por retratar alguns problemas socioculturais do ponto de vista do protagonista, um menino de 8 anos como: o abandono escolar na zona rural, a caça ilegal de animais marinhos e a condição dos trabalhadores de minas de carvão. Como aporte teórico utilizamos os trabalhos de teóricos como Lawrence Venuti, Antoine Bermann e André Lefevere para elucidar questões sobre a tradução cultural; o conceito de tradução como processo; estratégias de domesticação e estrangeirização e o panorama da literatura infantil chilena e brasileira. Ao iniciar o processo tradutório percebemos a necessidade de manter alguns nomes próprios que continham uma carga cultural e traduzir outros pelo seu equivalente em português; a utilização de notas de rodapé que permitem ao leitor a visualização de alguns elementos por meio de descrições. Outras duas escolhas marcantes em nossa tradução foram a manutenção dos pronomes pessoais utilizados no discurso dos personagens do texto fonte alterando somente a desinência verbal para que ficasse mais próximo à forma não padrão utilizada na região Sul do Brasil: pronome da 2ª pessoa do singular (tu) e verbo conjugado na 3ª pessoa do singular e a inserção de locuções verbais no texto traduzido. Neste caso, a preferência foi o acréscimo de formas que constituem a perífrase de futuro com o verbo ir no presente do indicativo e o verbo principal no infinitivo. Por vezes, a desinência do verbo auxiliar foi de encontro à mudança de desinência de outros verbos, da segunda pessoa do singular para a terceira pessoa do singular. A decisão de mudar a forma verbal utilizada para indicar o futuro, substituindo o futuro simples por locuções verbais, foi justamente uma estratégia domesticadora para que a fala dos personagens se tornasse mais próxima daquela ouvida/percebida pelo leitor do texto meta. Essa estratégia adicionou um teor doméstico ao texto sem, porém, apagar o traço da fala simples que pode ser observado no contexto rural. Também possibilitou que o “estranho” ficasse visível, a não adequação à norma padrão da língua portuguesa reflete a nossa intenção em não tornar o produto final apenas uma mera reescrita homogeneizada e padronizada. Nossas escolhas permitiram deixar evidente tanto as marcas da cultura chilena como da cultura brasileira e contribuindo para que nosso papel de tradutoras permanecesse visível.

Publicado
28-08-2019
Seção
Campus Chapecó - Projetos de Pesquisa