Salpingectomia parcial em cadela gestante

Relato de caso

  • Izabelle Moutinho Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Victor Mendes de Oliveira Universidade Federal da fronteira Sul
  • Paloma Tomazi
  • Najla Ibrahim Isa Abdel Hadi
  • Adriellen de Lima da Silva
  • Vinícius Cardoso de Oliveira
  • Jéssica Corrêa
  • João Paulo Calvo Revoredo
  • Fabíola Dalmolin

Resumo

A salpingectomia parcial apresenta baixas taxas de falha em animais (0,1- 0,8%), sendo um método contraceptivo eficaz e seguro pouco utilizado em medicina veterinária, já que os ovários e o útero são preservados. Este trabalho tem por objetivo relatar a aplicação da salpingectomia parcial em uma Border Collie de dois anos e 18 kg, hígida encaminhada para ovário-histerectomia (OVH) eletiva. O tutor informou ausência de sinais de cio nos meses que antecederam a consulta e foram realizados hemograma, ALT, FA, creatinina, ureia e albumina. Descartou-se gestação e demais alterações por meio de exame ultrassonográfico. Uma semana após foi realizada a cirurgia, quando após acesso a cavidade verificou-se que o útero possuía sete vesículas gestacionais, em idade aproximada de três a quatro semanas. Procedeu-se a salpingectomia parcial, sendo localizada a tuba uterina, que após divulsionada recebeu duas pinças de Halstead, seguida da exérese do segmento e ligadura com poliglactina 910 3-0, preservando a irrigação ovariana. O procedimento foi realizado na tuba uterina contralateral, ambas sem intercorrências. A celiorrafia e a dermorrafia foram realizadas de maneira rotineira, e no dia seguinte foram constatadas cinco vesículas gestacionais ao exame ultrassonográfico. Após 15 dias o animal foi reavaliado e removidas as suturas de pele, sendo realizada duas avaliações até o parto, que ocorrer 35 dias após a cirurgia. Nasceram cinco filhotes por parto eutócico sem alterações, e a tutora acompanhou o parto e relatou não ter observado outros nascimentos, assim como descartou a hipótese de ingestão de neonatos pela mãe. Posteriormente realizou-se exame ultrassonográfico confirmando ausência de demais fetos no útero. Embora neste caso tenha sido tomado o cuidado de certificar-se quanto a ausência de gestação pelo exame ultrassonográfico previamente a cirurgia, obtevese resultado falso-negativo provavelmente devido a gestação em estágio ainda não detectável ao exame. O fato poderia ter recebido diferente abordagem em período de tempo subsequente caso se tivesse conhecimento do cio e acasalamento da fêmea, desconhecidos pelo tutor. Salienta-se que o exame foi realizado aos 18 dias de gestação, sendo o método somente efetivo após 21 dias em cães. A interrupção do desenvolvimento fetal ocorre por diversos fatores, a citar endócrinos, traumáticos, nutricionais, infecciosos ou devido a anomalias, sendo dessa forma multifatorial. Acredita-se que no caso pode ter ocorrido reabsorção fetal, já que o procedimento anestésico utilizava fentanil e este fármaco pode penetrar rapidamente a barreira placentária causando depressão do centro respiratório do feto. A OVH não pode ser realizada em animais gestantes, como neste caso, já que segundo o Código de Ética do Médico Veterinário o aborto e o parto prematuro devem ser admitidos apenas quando comprovada necessidade terapêutica. Conclui-se que a salpingectomia parcial foi utilizada no caso, sendo um método contraceptivo aplicável em animais gestantes, embora casos de reabsorção fetal possam ocorrer. A técnica apresenta eficácia e se mostra de rápida execução, embora apresente algumas características indesejáveis quanto à aceitação dos tutores e menores vantagens quando comparada a tradicional já que ovário e útero são mantidos e o animal continua apresentando estro.

Publicado
19-09-2019
Seção
Campus Realeza - Projetos de Extensão e Cultura