Salpingectomia parcial em cadela gestante
Relato de caso
Resumo
A salpingectomia parcial apresenta baixas taxas de falha em animais (0,1- 0,8%), sendo um método contraceptivo eficaz e seguro pouco utilizado em medicina veterinária, já que os ovários e o útero são preservados. Este trabalho tem por objetivo relatar a aplicação da salpingectomia parcial em uma Border Collie de dois anos e 18 kg, hígida encaminhada para ovário-histerectomia (OVH) eletiva. O tutor informou ausência de sinais de cio nos meses que antecederam a consulta e foram realizados hemograma, ALT, FA, creatinina, ureia e albumina. Descartou-se gestação e demais alterações por meio de exame ultrassonográfico. Uma semana após foi realizada a cirurgia, quando após acesso a cavidade verificou-se que o útero possuía sete vesículas gestacionais, em idade aproximada de três a quatro semanas. Procedeu-se a salpingectomia parcial, sendo localizada a tuba uterina, que após divulsionada recebeu duas pinças de Halstead, seguida da exérese do segmento e ligadura com poliglactina 910 3-0, preservando a irrigação ovariana. O procedimento foi realizado na tuba uterina contralateral, ambas sem intercorrências. A celiorrafia e a dermorrafia foram realizadas de maneira rotineira, e no dia seguinte foram constatadas cinco vesículas gestacionais ao exame ultrassonográfico. Após 15 dias o animal foi reavaliado e removidas as suturas de pele, sendo realizada duas avaliações até o parto, que ocorrer 35 dias após a cirurgia. Nasceram cinco filhotes por parto eutócico sem alterações, e a tutora acompanhou o parto e relatou não ter observado outros nascimentos, assim como descartou a hipótese de ingestão de neonatos pela mãe. Posteriormente realizou-se exame ultrassonográfico confirmando ausência de demais fetos no útero. Embora neste caso tenha sido tomado o cuidado de certificar-se quanto a ausência de gestação pelo exame ultrassonográfico previamente a cirurgia, obtevese resultado falso-negativo provavelmente devido a gestação em estágio ainda não detectável ao exame. O fato poderia ter recebido diferente abordagem em período de tempo subsequente caso se tivesse conhecimento do cio e acasalamento da fêmea, desconhecidos pelo tutor. Salienta-se que o exame foi realizado aos 18 dias de gestação, sendo o método somente efetivo após 21 dias em cães. A interrupção do desenvolvimento fetal ocorre por diversos fatores, a citar endócrinos, traumáticos, nutricionais, infecciosos ou devido a anomalias, sendo dessa forma multifatorial. Acredita-se que no caso pode ter ocorrido reabsorção fetal, já que o procedimento anestésico utilizava fentanil e este fármaco pode penetrar rapidamente a barreira placentária causando depressão do centro respiratório do feto. A OVH não pode ser realizada em animais gestantes, como neste caso, já que segundo o Código de Ética do Médico Veterinário o aborto e o parto prematuro devem ser admitidos apenas quando comprovada necessidade terapêutica. Conclui-se que a salpingectomia parcial foi utilizada no caso, sendo um método contraceptivo aplicável em animais gestantes, embora casos de reabsorção fetal possam ocorrer. A técnica apresenta eficácia e se mostra de rápida execução, embora apresente algumas características indesejáveis quanto à aceitação dos tutores e menores vantagens quando comparada a tradicional já que ovário e útero são mantidos e o animal continua apresentando estro.
Copyright (c) 2019 Izabelle Moutinho, Victor Mendes de Oliveira, Paloma Tomazi, Najla Ibrahim Isa Abdel Hadi, Adriellen de Lima da Silva, Vinícius Cardoso de Oliveira, Jéssica Corrêa, João Paulo Calvo Revoredo, Fabíola Dalmolin
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