AGRICULTORES FAMILIARES DE TRÊS CIDADES DA REGIÃO SUL DO BRASIL: O USO DO EPI E SUA RELAÇÃO COM O NÍVEL DE ESCOLARIDADE

  • Calinca Skonieski Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Karina Raquel Fagundes
  • Ana Carolina Fernandes
  • Daniel Barbosa Chaves
  • Maiara Grasiela Rossi
  • Andressa Talita Nunes
  • Samara Cesaro Cavaler
  • Dalila Moter Benvegnú

Resumo

Atualmente, devido ao desenvolvimento rural e o aumento no uso de defensivos agrícolas, o Brasil ocupa o primeiro lugar no que diz respeito ao consumo de agrotóxicos no âmbito mundial. Além disso, segundo o relatório divulgado em 2017, pela ONU (Organização das Nações Unidas), estima-se que anualmente morrem 200 mil pessoas, devido ao envenenamento agudo por agroquímicos, destacando-se ainda, que normalmente são trabalhadores rurais e moradores do campo. Assim, diante de tais números surge uma grande preocupação no que tange o impacto ocasionado por agrotóxicos, para com a saúde, especialmente a saúde dos trabalhadores rurais os quais estão ininterruptamente expostos a essas substâncias. Além disso, grande parte da produção agrícola brasileira provém da agricultura familiar. Assim, este trabalho teve como objetivo relacionar o uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual) com escolaridade dos agricultores familiares de 3 cidades da região Sul do país. Após a aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa 97031118.7.0000.5564, ocorreu seleção dos participantes, onde foram avaliados agricultores familiares expostos ou não a agrotóxicos, do sexo feminino e masculino, com idade igual ou superior a 18 anos. A amostra contou com 305 agricultores familiares das cidades Mafra SC, Planalto PR, Realeza PR aos quais foi aplicado um questionário a fim de poder relacionar o nível de escolaridade e o uso de EPI. E após, foi realizado o teste qui-quadrado, adotando-se p<0,05. Em relação aos agricultores de Mafra-SC pode-se observar relação significativa entre o nível de escolaridade e uso de EPI (p<0,000), sendo que 65% dos agricultores apresentavam ensino fundamental incompleto. E em relação ao uso de EPI, verificou-se que do total de agricultores, 61% usavam EPI incompleto, 21,1% não usavam nenhum tipo EPI, 9,8% usavam o EPI completo e 8,1% dos agricultores não aplicavam agrotóxicos. A mesma situação não foi identificada para os agricultores pertencentes aos 2 municípios do Sudoeste do PR. Dentre os agricultores familiares de Planalto PR, 69,5% possuíam fundamental incompleto, entretanto do total de agricultores 32,8% não aplicavam agrotóxicos, 28,9% não usavam EPI, 20,3% usavam o EPI completo e 18% usavam o EPI incompleto. Por fim, em relação aos agricultores de Realeza PR, 53,7% apresentaram o ensino fundamental incompleto, 31,5% não usavam EPI, 29,6% não aplicavam agrotóxico, 24,1% usavam o EPI incompleto e 14,8 usam o EPI completo. Os resultados apresentados sugerem que a baixa escolaridade demonstrada pela população em estudo pode vir a dificultar o entendimento acerca das informações técnicas e também quanto à utilização dos EPIs durante as atividades relacionadas ao manejo de agrotóxicos, podendo-se caracterizar esse grupo como despreparado para manipulação dessas substâncias. Dessa forma, a exposição dos trabalhadores agrícolas frente a defensivos agrícolas pode ser reduzida, através do repasse de conhecimento sobre o uso de roupas de proteção, segurança, equipamentos e também referente os protocolos de segurança de aplicação adequados para as mais variadas classes de agrotóxicos. Por isso, as condições de trabalho, saúde e doença dos trabalhadores rurais no Brasil demonstram caminhos a serem discutidos por profissionais de diferentes áreas do conhecimento, apresentando-se como um grande desafio multidisciplinar.

Publicado
16-08-2019
Seção
Campus Realeza - Projetos de Pesquisa