PROCESSOS DE IN/EXCLUSÃO

EDUCAÇÃO BILÍNGUE COMO UM DIREITO DAS PESSOAS SURDAS NO BRASIL¹

  • Nicolle Eduarda Martinelli Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó https://orcid.org/0000-0003-3428-9693
  • Jane Teresinha Donini Rodrigues Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Resumo

Este trabalho objetiva contextualizar, problematizar e tensionar a questão dos direitos linguísticos e educacionais das pessoas surdas no Brasil. Para tanto, analisamos as trajetórias da produção de políticas voltadas às pessoas surdas no contexto brasileiro e como se dão ou deveriam se dar os processos de in/exclusão. Percebemos que a inclusão aparece de diferentes formas, nos diferentes tempos e que como sociedade já vivenciamos a inclusão como reclusão, a inclusão como integração e a inclusão como um direito e imperativo de Estado (Thoma e Kraemer 2017). Neste trabalho, concentraremos na compreensão desta última etapa. A inclusão é concebida como um direito, visto que todas as pessoas são iguais perante a lei (BRASIL, 1988), mas é também um imperativo de Estado (Lopes, 2017), se a considerarmos como uma verdade do nosso tempo, condição necessária para o mercado da produção e do consumo; portanto, a inclusão não é boa nem ruim, mas, necessária para a sociedade Contemporânea. Podemos sinalizar que o passo mais significativo dos surdos brasileiros em direção à inclusão nesse modo de organização social Contemporâneo, se deu nos anos 1990, quando fora apresentado ao Congresso Nacional, o Projeto de Lei n. 131/1996, propondo o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como uma língua oficial nacional, dada suas características linguísticas, comprovadas por estudos científicos acadêmicos. A garimpagem e mapeamento da construção, legitimação e normatização desse processo é apresentado por Rodrigues (2015) em sua tese de doutorado intitulada “A emergência da disciplinarização da Libras em tempos de inclusão”. Nesse estudo, é possível acompanhar a longa tramitação no Congresso Nacional até ser aprovado o referido Projeto de Lei que, nesse percurso, envolveu profissionais da academia, área da linguística, representantes dos movimentos sociais surdos e parlamentares. Em 24 de abril de 2002 foi sancionada a Lei n. 10.436 oficializando a Libras e, três anos depois, o Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005, regulamentou a lei. Com a aprovação, novos desafios se instalam.  Um grande estudo trazendo concepções e estatutos linguísticos, metas e estratégias para a implementação das escolas bilíngues é realizado pelo GT para a Política Linguística de Educação Bilíngue[1]. Nessas escolas os currículos seriam diferenciados, sendo a Libras reconhecida como Primeira Língua (L1) para o surdo e Segunda Língua (L2) para o ouvinte e vice-versa. a implementação dessa política levaria a uma grande reforma nas escolas de todo país, desde a organização linguística - perceber, valorizar e difundir a Libras como uma língua oficial brasileira – à reorganização da formação inicial com a inclusão da Libras como disciplina obrigatória aos cursos de formação de professores e fonoaudiólogos e optativa aos demais cursos, à criação e ampliação dos cursos de Pedagogia Bilíngue e Letras-Libras e recursos apropriados para a construção desses espaços.

[1] O termo in/exclusão foi cunhado a partir de estudos e pesquisas desenvolvidas pelo Gepi/Unisinos, “tanto a inclusão como a exclusão fazem parte da mesma lógica, em que um movimento ganha sentido e potência a partir do outro” (THOMA; KRAEMER, 2017, p. 1)

[2] Portarias 1.060/2013 e 91/2013

Biografia do Autor

Nicolle Eduarda Martinelli, Universidade Federal da Fronteira Sul Campus Chapecó

Discente no curso de licenciatura plena em Pedagogia na Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS, campus Chapecó. Estudante voluntária no Grupo de Pesquisas em Políticas e Práticas de Inclusão (GPPPIn/UFFS/CNPq) desde 2017. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID/UFFS), subprojeto Pedagogia, entre 2017 e 2018. Bolsista de Monitoria do curso de licenciatura em Pedagogia - UFFS, campus Chapecó, desde 2018.

Jane Teresinha Donini Rodrigues, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Doutora em Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUI. Mestre em Educação Nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUI. Especialista em LIBRAS Docência de libras com proficiência pela Universidade Tuiuti do Paraná, UTP. Graduada em Pedagogia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUI. Professora na Universidade Federal da Fronteira Sul ? UFFS. Docente de libras. Atua em extensão universitária na área de educação, com ênfase em educação inclusiva e formação de professores abordando principalmente os seguintes temas: educação, surdez, libras, inclusão, aprendizagem e conhecimento. Possui experiência profissional na educação básica, especialmente nos anos iniciais do ensino fundamental, em instituições especializadas e escolas regulares, atuou em coordenação pedagógica, assessoria pedagógica, docência no ensino superior e na pós-graduação.

Publicado
26-09-2019
Seção
Campus Chapecó - Projetos de Ensino