COMUNIDADE QUILOMBOLA PAIOL DE TELHA

TEMÁTICAS HISTÓRICO E ÉTNICO-RACIAIS SOB A PERSPECTIVA DE ALUNOS DA 1ª FASE

  • Silvana Gaiba Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Ticiana Carla Southier Mesquita Universidade Federal da Fronteira Sul/Graduanda
  • Adriana Santos Chagas Universidade Federal da Fronteira Sul/Graduanda
  • Ana Cristina Hammel Universidade Federal da Fronteira Sul/Docente

Resumo

Resumo: Este trabalho emerge das atividades, discussões e reflexões geradas em sala de aula durante a Disciplina História e Cultura Afro-brasileira e Indígena e Relações Étnico Raciais na Escola. A proposta de uma visita a comunidade Quilombola Paiol de Telha foi aceita por alguns alunos do curso Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências da Natureza. Trata-se de um estudo observacional e parte da vivência de um único dia na Comunidade Quilombola Paiol de Telha será relatada a seguir prevalecendo a perspectiva dos alunos sobre as temáticas históricas e étnico-raciais. Através de palestras apresentadas pelos descendentes no início da visita e de diálogo com os moradores pudemos verificar que a comunidade está localizada nos municípios de Pinhão, Guarapuava e Reserva do Iguaçu, Estado do Paraná. Historicamente, a Comunidade Quilombola Paiol de Telha conquistou seu território em 1860, através da doação á 11 escravos libertos pela proprietária da terra Balbina Francisca de Siqueira, não podendo ser vendida. Em 1970, cerca de 300 famílias foram expulsas de forma violenta, devidos a conflitos territoriais, que perduram até hoje. A Comunidade Invernada Paiol de Telhas continua lutando pela titulação de suas terras e em 2015 a presidenta Dilma Rousseff assinou o decreto de desapropriação do local para a titulação do território pela comunidade, sendo que até o momento, a maior parte não foi desapropriada e está em posse da Cooperativa Mista Agrária. Esse decreto garantiu sete das 17 propriedades que fazem parte do território total do Paiol de Telha. Atualmente os descendentes dos escravos libertos moram em 170 hectares de terra, sendo a única das 38 comunidades quilombolas do Paraná a ter o decreto de desapropriação assinado, mas até momento essas terras não foram tituladas pelo estado. O percurso que os afrodescendentes vêm enfrentando ao longo desses 130 anos pelas terras reflete a luta por seus direitos, sociais, políticos, econômicos, culturais e étnicos, pois como sabemos eles se inter-relacionam. Os descendentes durante diálogos com os alunos contaram suas trajetórias individuais e coletivas e relataram as suas diversas dificuldades dentre elas pudemos verificar a presença do racismo e preconceito vivido por eles. Em um país onde a colonização foi um marco importante para o atraso no desenvolvimento político, econômico e social, e que tem em suas raízes quatrocentos anos de escravidão, torna-se evidente a presença de conceitos raciais. Reconhecer o preconceito étnico e a subsequente discriminação em nossa cultura não quer dizer que ela desapareceu, existe uma manifestação sutil do preconceito que lhe confere certa invisibilidade (e imunidade) que lhe permite adentrar as instituições, apesar das leis construídas para barrá-lo. Podemos concluir que a luta dessa comunidade ainda não terminou e não se restringe apenas ao acesso e a permanência ao território, sendo que as demais políticas (educação, saúde e cultura) tornam-se fragilizadas sem a titulação das terras. É importante a participação da Universidade na defesa dos direitos dos povos tradicionais, como os quilombolas, devendo continuar a promover esses espaços públicos para discussão dessas diferenças pluriculturais.

 

Publicado
18-09-2019
Seção
Campus Laranjeiras do Sul - Projetos de Ensino