Caracterização de casos de intoxicação exógena aguda autoprovocada em gestantes

  • Luis Felipe Chaga Maronezi Uffs Passo Fundo
  • Guilherme Assoni Gomes Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Passo Fundo
  • Jeanice de Freitas Fernandes Prefeitura de Camargo, RS
  • Ivana Loraine Lindemann Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Passo Fundo

Resumo

O termo intoxicação exógena aguda remete ao uso de qualquer substância em quantidades ou combinações intoleráveis ao organismo humano, de modo que, a severidade do quadro estará diretamente relacionada ao produto utilizado e à sua dosagem. Apesar de as mais comumente mencionadas na literatura serem as intoxicações medicamentosas, outras substâncias, tais como agrotóxicos, inseticidas e drogas de abuso também são frequentemente relatadas. Embora na maioria das vezes sejam ocasionais, intoxicações exógenas agudas vêm sendo observadas repetidamente como meio de violência autodirigida. Nos casos de gestantes, em especial, a situação se torna muito mais delicada e preocupante, exigindo maior atenção da equipe médica pra reversão do quadro e manutenção da gestação, evitando ao máximo a ocorrência de desfechos desfavoráveis, sejam eles possíveis sequelas ao feto ou até mesmo abortos espontâneos. Com base nisso, o presente estudo buscou determinar o número de casos de intoxicações exógenas agudas autoprovocadas por gestantes do estado do Rio Grande do Sul entre os anos de 2013 e 2017, bem como, o perfil da população acometida e características associadas. Para isso, foi realizado um estudo ecológico abrangendo todos os casos notificados ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de 01/01/2013 a 31/12/2017. A caracterização foi feita a partir dos dados constantes nas Fichas de Investigação de Intoxicação Exógena sob o CID10 T65.9, contemplando sexo, idade, cor da pele, escolaridade, zona de residência, período gestacional, local de ocorrência, método de escolha, via de administração, periodicidade, necessidade de internação, desfecho e ano de ocorrência. Os dados foram solicitados ao Centro Estadual de Vigilância em Saúde – Núcleo de Vigilância das Doenças e Agravos Não Transmissíveis e recebidos em planilha eletrônica, sendo a estatística descritiva feita por meio do programa PSPP (distribuição livre). O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal da Fronteira Sul. A amostra foi composta por 83 gestantes, com predomínio da faixa etária entre 21 e 30 anos (41%), cor da pele branca (86,7%), ensino médio completo (28,6%) e moradoras na zona urbana (91,6%). Quanto ao período de gestação, 39,8% se encontravam no primeiro trimestre, 32,5% no segundo, 26,5% no terceiro e 1,2% tiveram sua idade gestacional não especificada. Do total, 94,9% dos casos ocorreram na própria residência, 89,9% por meio da ingestão de medicamentos e com via de exposição predominantemente digestiva (97,5%). Dos casos, 78,9% aconteceram uma única vez, 51,8% necessitaram de hospitalização e 87% evoluíram com cura completa sem qualquer sequela. Relativo ao período de ocorrência houve maior frequência de registros no ano de 2017, totalizando 48,2%. Com isso, percebe-se que registros de intoxicações exógenas autodirigidas não são incomuns na população de gestantes, especialmente naquelas mais jovens e no início da gestação. Enfatiza-se, então, a necessidade de atenção por parte dos médicos quanto ao manejo e condutas terapêuticas ou biopsicossociais frente a estas pacientes, dando a devida importância ao quadro e evitando quaisquer possíveis recorrências. A prevenção dos episódios e a intervenção frente aos fatores de riscos segue sendo a melhor abordagem para a contenção de futuros casos de intoxicação frente ao período gestacional.

Publicado
09-09-2019
Seção
Campus Passo Fundo - Projetos de Pesquisa