A CATEGORIA DA RIQUEZA NA ANÁLISE DA REPRODUÇÃO ECONÔMICA DA SOCIEDADE

  • Felipe Guerim Pieniz UFFS
  • Benedito Silva Neto

Resumo

A adequação das categorias econômicas para expressar o bem-estar e analisar os graves problemas ambientais que ameaçam a sustentabilidade das sociedades contemporâneas tem sido objeto de um intenso debate. No âmbito desse debate diversos autores têm alegado a necessidade da elaboração de indicadores de progresso que, além das tradicionais medidas baseadas nos fluxos monetários de bens e serviços (em especial o Produto Interno Bruto), incluam também variáveis diretamente relacionadas ao bem-estar e ao ambiente. No entanto, na perspectiva do materialismo histórico, as variáveis diretamente relacionadas ao bem-estar e à sustentabilidade são categorizadas como riquezas que, enquanto tais, não possuem um valor intrínseco. Isto as tornam incomensuráveis entre si o que impossibilita a sua inclusão de forma rigorosa em indicadores sintéticos. Tal impossibilidade é, muitas vezes, interpretada como uma limitação da teoria do valor de Marx diante dos atuais problemas relativos ao bem-estar e à sustentabilidade. Contrapondo-se a tal afirmação, no presente artigo é realizada uma investigação visando a integração da riqueza na análise da reprodução econômica de acordo com a teoria do valor de Marx. Inicialmente foi discutida uma concepção do sistema econômico como um subsistema componente da biosfera, ao lado dos sistemas naturais dos quais se originam os fluxos de riquezas que constituem a base material da reprodução da sociedade. Neste sentido, as sociedades humanas foram consideradas como sistemas dissipativos que se mantêm longe do equilíbrio. Coerente com esta concepção os fluxos de riquezas materiais foram então representados em um esquema de reprodução em que a economia é considerada como um sistema aberto, o qual foi modelado por meio da programação linear, fornecendo preços correspondentes a valores marginais. Tais preços foram considerados como eficientes pois constituem informações que permitem que as decisões microeconômicas, relativas à escolha das técnicas de produção, sejam coerentes com as decisões tomadas na sociedade como um todo, (resultantes de processos extraeconômicos, principalmente a luta de classes), relativas à demanda de produtos finais, ao crescimento econômico e ao uso dos recursos naturais, tomadas anteriormente. Os resultados obtidos indicam que a integração da riqueza na análise da reprodução econômica pode ser realizada de forma coerente com os fundamentos da teoria do valor de Marx. Neste sentido, conclui-se que as contradições observadas nas tentativas de inclusão das riquezas em indicadores de bem-estar e de sustentabilidade refletem as próprias dificuldades do capitalismo contemporâneo em submeter o conjunto da biosfera e da vida humana à lei do valor, tal como ela é expressa por Marx, e não por supostas insuficiências da teoria do valor por ele proposta.

Biografia do Autor

Benedito Silva Neto

Professor da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Cerro Largo. Doutor em Agricultura Comparada e Desenvolvimento Agrícola pelo Institut National Agronomique Paris-Grignon, França. bsilva@uffs.edu.br

Publicado
03-10-2019
Seção
Campus Cerro Largo - Projetos de Pesquisa