APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO BACHELARDIANO APLICADO À PESQUISA

CARACTERIZAÇÃO DOS OBSTÁCULOS EPISTEMOLÓGICOS ÀS PRÁTICAS DE ENSINO COM ALUNOS CEGOS

Resumo

O trabalho apresenta resultados parciais de uma pesquisa de doutorado interinstitucional (Dinter PPGECT UFSC- UFFS). Objetiva identificar a percepção docente acerca das dificuldades e expectativas com relação ao ensino universitário para alunos cegos. A partir da Análise de Conteúdo (fundamentada em Bardin) das respostas dos participantes, essas dificuldades foram identificadas e caracterizadas à luz dos obstáculos bachelardianos. A pesquisa possui abordagem qualitativa e comporta variáveis ainda não suficientemente estudadas no contexto da inclusão, que é emergente na Educação Superior. Sobretudo discute esses aspectos em relação à formação profissional de alunos cegos na Agronomia. Assim, justifica-se o uso da pesquisa Exploratória, que teve prosseguimento com o Estudo de Caso, sobre a experiência vivenciada na UFFS, campus Cerro Largo/RS, no período de 2013 a 2018. O estudo foi desenvolvido com base nas pesquisas Bibliográfica e de Campo, mediante aplicação de questionário misto e entrevista semiestruturada. Os resultados mostraram dificuldades que foram caracterizadas como obstáculos epistemológicos do conhecimento geral. Referem-se a ideias equivocadamente pautadas na concepção docente do uso irrestrito de determinados procedimentos e/ou recursos didáticos, como se eles pudessem gerar os mesmos resultados exitosos se aplicados, sem exceção ou nenhuma adaptação, a qualquer situação de ensino e componente curricular. Outras dificuldades, identificadas como obstáculos epistemológicos do conhecimento unitário ou pragmático, aludem à sedução de generalidades mais amplas. Possuem sua origem no desconhecimento e/ou na escassa compreensão de alguns docentes o que os levou a desconsiderar as singularidades e contradições, como se houvesse metodologias e instrumentos técnicos universais na docência, os quais pudessem responder adequadamente aos objetivos da comunicação e aprendizagem dos conteúdos, em todas as situações do ensino. Constatou-se também a presença do obstáculo da experiência primeira tanto na realização das entrevistas pela pesquisadora quanto nas dificuldades das práticas docentes relatadas. Em ambas as situações, esse entrave teve origem em ideias preconcebidas, preconceituosas, destituídas de um conjunto de argumentos e valores (científicos) que as fundamentassem. Foram ideias tomadas de forma precipitada, irrefletida, com base na intuição isolada, na opinião vaga, em julgamentos iniciais e/ou palpites. Os docentes relataram dificuldades de desligarem-se dessas impressões primeiras que, por vezes, imobilizaram seu pensamento, obstaculizando a (re)construção dos conhecimentos. O obstáculo da libido manifestou-se a partir da união valorizada de ideias tomadas em comparação, de forma inapropriada, dada a distância entre a explicação figurada e a experiência de laboratório, induzindo a uma associação desfavorável entre aspectos da libido e do conhecimento científico. Com isso, pôde-se avaliar a relevância do estudo do pensamento do epistemólogo francês Gaston Bachelard, tomado como importante referencial à pesquisa, tanto em termos teóricos quanto metodológicos. Esse aporte possibilitou alcançar níveis crescentes de consciência científica, mediante o esforço de construção da racionalidade, que permitiram compreender as dificuldades que os docentes percebem na construção dos conhecimentos e que interferem na mediação do ensino; a experiência de ‘ser’ e ‘estar’ docente e, também, a exigência da produção de saberes renovados no ensino universitário, como condições para torná-lo inclusivo.