OS SIGNIFICADOS DA CLÍNICA NA FORMAÇÃO MÉDICA

ANÁLISE DE UM CURSO DE MEDICINA DERIVADO DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS

  • Tammy Massolin Albrecht Universidade Federal da Fronteira Sul campus Chapecó
  • Graciela Soares Fonsêca

Resumo

Ao longo do tempo, os conceitos de clínica foram se modificando, sendo mais difundida a clínica tradicional que busca tratar a doença, sem se preocupar com o sujeito e outras questões que o envolvem. Contudo, o modo de fazer clínica vem sendo modificado diante das demandas que a clínica tradicional não é capaz de atender e, por isso, foi necessário um método ampliado de cuidado, focando a ação no sujeito e em suas particularidades, deixando a doença entre parênteses. Sendo assim, a formação médica também vem sendo modificada, caminhando no sentido de atender os requisitos previstos pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de Medicina, sendo um deles, a formação de profissionais capazes de atuar nos moldes da clínica ampliada. O trabalho tem como objetivo compreender os significados de clínica presentes no imaginário de professores e estudantes do curso de graduação em medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Chapecó. Foi realizado um estudo exploratório de abordagem qualitativa que coletou dados por meio de entrevistas individuais com os docentes médicos (n=21) e grupos focais com os acadêmicos (n=43), sendo que, para a análise dos dados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo temática. A partir da análise, foi possível observar falas características da clínica ampliada, principalmente no que diz respeito aos elementos que são necessários para que a clínica seja realizada com êxito, como empatia, comunicação, estabelecimento de uma boa relação-médico paciente e o equilíbrio entre a técnica, a ética e o componente humanístico. Entretanto, ao longo da coleta de dados apareceram também alguns discursos representativos da clínica tradicional, ou seja, voltados para a doença e com a visão de uma medicina fragmentada em especialidades, que tem como foco partes de um corpo doente e não um sujeito integral. Ademais, outros aspectos inerentes ao ensino da clínica foram levantados, como a mudança de visão de uma clínica tradicional para uma clínica ampliada desde o ingresso dos acadêmicos no curso da UFFS, a insuficiência do componente prático da clínica que, na perspectiva de alunos e professores, se dá pela falta de um ambulatório próprio ou de um hospital-escola. Alguns participantes também reconheceram que o ensino por vezes é fragmentado, ou seja, em teoria se estuda um sistema do corpo isolado e as doenças que podem lhe acometer, quando, na prática, o sujeito vem ao atendimento e todas as dimensões que o envolvem precisam de atenção. Assim, pode-se inferir que a clínica ampliada tem se mostrado presente na graduação do curso, pois tanto os docentes quanto os alunos conhecem o foco que essa clínica dá ao sujeito atendido e sabem quais são os elementos fundamentais que irão resultar em maior efetividade do trabalho médico. Entretanto, ainda estão presentes discursos da clínica tradicional e, também, uma lacuna entre o que prevê o currículo e a realidade, principalmente no que diz respeito à fragmentação do ensino, o que demonstra que, apesar do curso ter como objetivo alcançar o que prevê as DCN, isto ainda não se efetivou completamente.

 

Publicado
05-08-2019
Seção
Campus Chapecó - Projetos de Pesquisa