ANÁLISE E DIAGNÓSTICO DE UMA UNIDADE DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR: UM ESTUDO DE CASO DA PRODUÇÃO DE LEITE NO MUNICÍPIO DE CERRO GRANDE - RS

Autores

  • Adisson de Sá Censi Universidade Federal da Fronteira Sul
  • Sandro Maílson Fernandes
  • Ana Paula Oliveira Zielinski
  • João Guilherme Dal Belo Leite

Resumo

Entre 2016 e 2017, aproximadamente 25 mil produtores de leite deixaram a atividade no estado do Rio Grande do Sul. A crise no setor, promovida principalmente pelos baixos preços pagos aos agricultores, tem consequências graves à sustentabilidade da agricultura familiar, assim como na geração de emprego e renda em muitos municípios do estado. Diante dessa situação, desenvolver conhecimento em gestão rural é de extrema importância, pois auxilia na elaboração de metodologias de planejamento voltadas a sustentação das famílias no campo. Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise e diagnóstico da atividade leiteira em uma Unidade de Produção Agrícola (UPA) familiar. A pesquisa foi realizada em uma UPA familiar localizada no município de Cerro Grande, região norte do estado do Rio Grande do Sul. A seleção da mesma passou por consulta com agentes de assistência técnica do município. Os critérios principais foram: i) representatividade das atividades desenvolvidas na região e ii) acessibilidade para levantamento de dados. O levantamento das informações se deu através da aplicação de questionário semiestruturado, visitas e visualização de documentos pertinentes à produção leiteira. Foram levantadas informações sobre a produção e comercialização do leite, referentes ao período de 2017/2 e 2018/1, considerando entradas, saídas, mão de obra, condições de trabalho, impostos pagos ao estado, manutenção e a desvalorização das instalações e equipamentos, bem como a sua vida útil. Tais informações tornaram possível quantificar a renda agrícola da atividade leiteira através da utilização do modelo do valor agregado, composto pelo produto bruto, consumo intermediário, depreciação e distribuição do valor agregado. A renda agrícola anual é de R$ 30.774,99, o que corresponde a uma renda mensal de R$ 2.564,58. Além de garantir uma renda mensal, a rentabilidade anual por hectare é atrativa ficando em torno de 4.103,33R$. Os principias elementos na composição dos custos são a produção de silagem, aquisição de alimento concentrado, manutenção de pastagens anuais, transporte do leite e depreciação de máquinas e equipamentos, que correspondem a 77,48% dos custos totais. A despeito da rentabilidade positiva, a atividade exige esforços ininterruptos da família, com uma demanda diária de 12,24 horas de trabalho homem (ou 1,53 dias de trabalho homem), não permitindo folgas em domingos e feriados. Além do mais, é uma atividade que expõe seus executores a adversidades climáticas e a riscos, pois trabalham continuamente com animais de grande porte. O manejo de ordenha no sistema de balde ao pé, impõe condições penosas para realização desta atividade. Tal condição é agravada pela idade dos agricultores, o que os torna mais suscetíveis a desenvolver problemas de saúde, e, assim, contribuir para o abandono da atividade. Algumas alternativas podem tornar a atividade mais atrativa, como a modernização do sistema de ordenha (estrutura + equipamentos), perenização das pastagens e adoção de planejamento forrageiro, através da implantação de piquetes fixos com água e sombra disponíveis. Tais alternativas, no entanto, dependem da capacidade da UPA realizar investimentos de médio a longo prazo, assim como das perspectivas para sucessão familiar.

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Publicado

26-09-2018

Edição

Seção

Campus Chapecó - Projetos de Pesquisa