O saber popular na produção de cuidado em um espaço de promoção de saúde

Resumo

A Atenção Primária à Saúde, enquanto guiada pelos preceitos de uma Estratégia Saúde da Família (ESF) permite incorporar ao serviço de saúde características voltadas ao trabalho multidisciplinar com o intuito de prevenir agravos e promover saúde, com uma atuação descentralizada, mais próxima à vida da população atendida e com melhor compreensão das necessidades apresentadas por esta, bem como, maior fortalecimento da relação de vínculo entre os usuários e a equipe de saúde. Dentre as diferentes formas de intervenções a serem observadas em uma ESF, uma delas é o desenvolvimento de atividades coletivas, as quais oportunizam o estímulo a práticas de autocuidado, possibilitando a melhora dos hábitos de vida, além de viabilizar um espaço de socialização e troca de experiências, encorajando os pacientes a assumirem uma postura de protagonização e responsabilização por suas ações e seus processos de saúde e adoecimento. Na ESF São José Operário, na cidade de Marau/RS, estas características mencionadas podem ser observadas no decorrer da realização dos encontros quinzenais do grupo “Cuidando de Sua Saúde”, o qual iniciou suas atividades no início do ano de 2017 e permanece inserido na rotina de atividades da ESF até hoje. De modo a complementar as ações de saúde desenvolvidas neste espaço, são utilizadas formas de cuidado pertencentes à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, dentre elas o uso de plantas medicinais e a fitoterapia. Com base nisso, o objetivo desse trabalho é relatar a experiência da aplicação deste recurso terapêutico pelos profissionais facilitadores do espaço, sendo eles residentes de enfermagem, farmácia e psicologia do programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade vinculados à Universidade Federal da Fronteira Sul, no grupo descrito. A partir do interesse demonstrado pelos integrantes do grupo neste assunto, foi proposto aos mesmos a construção de uma horta e, também, a realização de encontros voltados ao uso correto das plantas medicinais, com trocas de conhecimentos e orientações sobre a preparação de chás, tinturas e seus benefícios. Uma moradora do território foi convidada a conduzir os encontros, uma vez que possui vasto conhecimento sobre o assunto e também apresenta o desejo de compartilhar isto com os demais. Foi observado, por parte dos profissionais de saúde que acompanham os encontros, que a compreensão sobre o tema está bastante disseminada entre os participantes, uma vez que o uso de plantas como tratamento substituto ou complementar aos medicamentos está presente em suas vidas por influência dos pais e avós, os quais transmitiram seus conhecimentos para os usuários que, por sua vez, os mantém. Além disso, os momentos compartilhados acerca deste assunto permitiram atentar para o quanto a protagonização do espaço por parte dos pacientes integrantes do grupo, em sua maioria idosos, se faz importante para a quebra de pré-conceitos em relação à fase da vida na qual eles se encontram, mostrando que podem, sim, assumir uma postura de protagonistas de seus processos de vida, garantindo maior autonomia e qualidade de vida.