Formação para o cuidado com equidade: relato de experiência sobre promoção da saúde da população LGBT+ no SUS
Palabras clave:
Educação em Saúde, Minorias Sexuais e de Gênero, Atenção Primária à Saúde, EquidadeResumen
Introdução: A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, instituída pela Portaria nº 2.836/2011, representa um marco na garantia de direitos à população LGBT+ no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a efetividade dessa política colide na persistência da LGBTfobia institucional e na ausência de preparo técnico e humano dos profissionais de saúde. Estudos nacionais destacam a exclusão social, a violência e a vulnerabilidade sanitária vivida por pessoas LGBT+, especialmente a população trans, cuja expectativa de vida no Brasil é em torno de 35 anos. Nesse contexto, observa-se a importância da formação de profissionais da saúde comprometidos eticamente com as especificidades da população LGBT+. Para isso, iniciativas como programas de extensão universitária emergem como estratégia de educação permanente, transformação social e fortalecimento das redes de atenção e cuidado. Objetivo: Descrever a experiência dos integrantes do grupo PET-Saúde sobre o desenvolvimento de uma oficina de matriciamento acerca da saúde LGBT+ voltada a profissionais da Atenção Primária em Chapecó/SC, como parte das ações do programa interministerial "PET-Saúde Equidade (2024–2026)". Metodologia: Relato de experiência de natureza qualitativa, realizado por estudantes, professores e profissionais vinculados ao programa PET-Saúde, da Universidade Federal da Fronteira Sul, Universidade do Oeste de Santa Catarina, Universidade do Estado de Santa Catarina e Secretaria Municipal de Saúde de Chapecó. A atividade foi desenvolvida no Centro de Saúde da Família (CSF) do bairro Efapi, em Chapecó/SC e foi direcionada aos profissionais de saúde do CSF. Resultados e Discussão: A realização da oficina sobre a Política Nacional de Saúde Integral LGBT constituiu, para os integrantes do programa, uma experiência significativa de formação crítica e ampliada, centrada na interface entre educação em saúde, equidade e direitos humanos. A mediação de um espaço de discussão sobre saúde da população LGBT+ com profissionais da Atenção Primária exigiu preparo técnico, sensibilidade ética e postura reflexiva diante dos desafios enfrentados por essa população no acesso ao cuidado. A construção do conteúdo foi orientada por estudos sobre os marcos normativos da política, os impactos da LGBTfobia institucional e os determinantes sociais do processo saúde-doença. A atividade revelou a complexidade de abordar temas historicamente marginalizados na formação e na prática profissional em saúde, especialmente no que se refere às identidades de gênero e orientações sexuais dissidentes. Durante o desenvolvimento da oficina, foi possível identificar expressões corporais e gestuais que pressupõem tensão e/ou silêncio diante dos questionamentos, que podem expressar as barreiras culturais e institucionais ainda presentes nos serviços de saúde. Contudo, houveram também, participantes receptivos e interessados na pauta, o que representa a dualidade de percepções do tema dentro de um mesmo espaço. Para os participantes do PET-Saúde, a atividade configurou-se como espaço potente de aprendizagem, proporcionando o desenvolvimento de competências essenciais à atuação no SUS, como comunicação sensível, mediação de saberes e análise crítica das práticas institucionais.Considerações finais: A oficina, conduzida por integrantes do PET-Saúde, demonstrou o papel estratégico da extensão universitária e da educação permanente na consolidação de práticas em saúde pautadas na equidade, na justiça social e na defesa dos direitos humanos. A experiência permitiu a problematização de temáticas frequentemente invisibilizadas no cotidiano dos serviços, revelando tensões que atravessam o cuidado às pessoas LGBT+ e exigem abordagens críticas, interdisciplinares e comprometidas com a transformação das práticas. A ação formativa contribuiu para o fortalecimento do papel do PET-Saúde como espaço de articulação entre ensino, serviço e comunidade, fomentando a construção coletiva de um SUS que reconheça e valorize as singularidades dos sujeitos. Os desafios vivenciados — como a condução de temáticas sensíveis, a resistência à mudanças e a necessidade de continuidade das ações — foram compreendidos como parte do processo de consolidação de uma prática profissional ética e comprometida com os princípios da universalidade, integralidade e, sobretudo, da equidade. A oficina reafirmou, assim, a importância de incorporar transversalmente os debates sobre gênero e diversidade sexual na formação em saúde, como condição necessária para um cuidado humanizado e inclusivo.