Acidentes com aranhas do gênero Phoneutria no Sul do Brasil: um estudo epidemiológico (2011–2022)

Autores/as

Palabras clave:

Mordeduras de Aranhas, Picada de Aranha, Epidemiologia, Aracnidismo

Resumen

Introdução: As aranhas do gênero Phoneutria, conhecidas como aranhas-armadeiras, são reconhecidas por seu veneno potente e comportamento defensivo. Embora poucas espécies de aranhas representem risco à saúde humana, os acidentes com Phoneutria são um problema significativo, especialmente em regiões tropicais. Tais envenenamentos são muitas vezes negligenciados nas políticas públicas de saúde, com lacunas importantes na produção de dados regionais. A Organização Mundial da Saúde classifica esses acidentes como Doenças Tropicais Negligenciadas, destacando a necessidade de estudos sobre sua ocorrência. Objetivos: Analisar a epidemiologia dos acidentes envolvendo aranhas do gênero Phoneutria registrados entre 2011 e 2022 na Região Sul do Brasil e analisara distribuição e frequência desses eventos, além de contribuir para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e educação em saúde. Metodologia: O estudo foi do tipo descritivo e quantitativo, baseado em dados secundários dos acidentes por araneísmo na Região Sul, coletados no sistema DataSUS. As variáveis analisadas incluíram sexo, faixa etária, escolaridade, tempo de atendimento após a picada, gravidade, desfecho, entre outras. A incidência dos acidentes foi calculada com base na população exposta, e as associações entre as variáveis foram investigadas usando o teste qui-quadrado. Resultados e Discussão: Entre 2011 e 2022, a Região Sul do Brasil registrou  14.021 casos no Paraná, 5.221 no Rio Grande do Sul e 10.167 em Santa Catarina, com este último apresentando a maior incidência anual, especialmente entre 2011-2013 e 2017-2019. A maior incidência ocorreu entre setembro e maio, com picos elevados no Paraná e Santa Catarina. O perfil demográfico das vítimas indicou predominância do sexo masculino, com maior incidência entre indivíduos com até o Ensino Médio completo. A faixa etária mais afetada foi de 60 a 80 anos, com Santa Catarina e Paraná apresentando as taxas mais altas. A maior parte dos acidentes acometeu mãos, pés e dedos, com 20% dos casos relacionados ao trabalho, especialmente no Paraná e Santa Catarina. A busca por atendimento médico ocorreu em até três horas após o acidente, uma resposta rápida explicada pela dor intensa e pelos efeitos neurotóxicos do veneno. A postura defensiva da aranha também contribui para a percepção de risco, levando as vítimas a procurarem socorro rapidamente. A maioria dos casos foi leve, sem necessidade de soroterapia, e 94% dos casos evoluíram para cura. A maior incidência de acidentes entre pessoas do sexo masculino está associada a atividades ao ar livre, como manuseio de lenha e materiais de construção, ambientes comuns para aranhas Phoneutria. Já o aumento dos acidentes entre idosos pode ser explicado pela maior longevidade da população, mudanças no estilo de vida e maior vulnerabilidade física. Além disso, melhorias nos sistemas de notificação e maior conscientização sobre a importância do atendimento médico imediato também contribuíram para o aumento de registros de acidentes. Considerações finais: Os dados revelam diferenças significativas entre os estados do Sul, com destaque para Santa Catarina no número absoluto de casos e para o Paraná em taxas relativas. Isso aponta para desigualdades na exposição, notificação e acesso à informação, exigindo estratégias regionais específicas. Os grupos mais vulneráveis identificados foram homens adultos, trabalhadores rurais ou da construção civil, pessoas com menor escolaridade e idosos, estes últimos mais suscetíveis a complicações. A qualidade das notificações também representa um desafio, com registros incompletos e subnotificação, o que limita a análise epidemiológica e a formulação de políticas eficazes. Além disso, as mudanças sociais pós-COVID-19 podem ter influenciado o padrão dos acidentes, exigindo novas abordagens de prevenção, especialmente em ambientes domiciliares. Fortalecer os sistemas de vigilância e promover educação em saúde são passos essenciais para reduzir os impactos do foneutrismo Esses dados reforçam a necessidade de políticas públicas que considerem a sazonalidade, as características sociodemográficas e ambientais para prevenir acidentes com aranhas e melhorar o manejo dos casos de foneutrismo.

Biografía del autor/a

  • Maria Assunta Busato, Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó

    Pós-Doutorado na Área de Concentração Sociedade e Meio Ambiente, Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Biologia pela Universidade de Barcelona (UB), Barcelona, Espanha. Título convalidado pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Master em Enfermidades Tropicais pela Universidade de Valência, Espanha. Graduada em Ciências pela Universidade de Passo Fundo. Graduada em Biologia pela Universidade de Passo Fundo. Atualmente é Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unochapecó (Mestrado e Doutorado) e atua na Linha de Pesquisa Saúde e Ambiente. Docente nas graduações de Medicina e Ciências Biológicas. É professora visitante do Programa de Pós-Graduação de Salud Pública y Enfermedades Transmisibles da UNaM - Argentina. 

  • Thiago André Carniel, Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó

    Possui graduação e mestrado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Possui doutorado e pós-doutorado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Comunitária da Região de Chapecó - Unochapecó. Membro efetivo da Associação Brasileira de Engenharia e Ciências Mecânicas. Tem experiência em mecânica computacional, modelagem de materiais, análises numéricas não lineares via método dos elementos finitos, biomecânica, otimização, inteligência artificial e tecnologia vestível com aplicações na área da saúde.

  • Junir Antônio Lutinkski, Universidade Comunitária da Região de Chapecó

    Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (2002), Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Comunitária da Região Oeste de Santa Catarina (2007). Doutor em Biodiversidade Animal pela Universidade Federal de Santa Maria (2014) e Pós-Doutorado em Control de Vectores y Diagnóstico Molecular de Parásitos pela Universidad Miguel Hernández de Elche (UMH), España (2022). Atua como Biólogo na Secretaria da Saúde do município de Chapecó, SC na área de controle de de vetores. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde de Unochapecó. Professor visitante na Universidad Nacional de Misiones, Argentina. Pesquisador do grupo de pesquisa Ambiente e Saúde. 

Publicado

20-07-2025

Número

Sección

ET 3 - Território, Ambiente e Saúde