Mudanças climáticas e suas consequências à saúde mental, com foco na ansiedade de populações em situação de vulnerabilidade: uma revisão de escopo
Palabras clave:
Mudanças Climáticas, Ansiedade, Saúde Mental, Populações VulneráveisResumen
Introdução: as mudanças climáticas, manifestadas por eventos como inundações, secas e fortes ondas de calor, são geralmente relacionadas por seus efeitos ambientais e econômicos. No entanto, recentemente, as discussões têm ampliado, observando os impactos significativos na saúde mental, especialmente entre jovens, crianças e demais população socialmente vulneráveis e diretamente expostas aos desastres ligados às alterações climáticas. Como consequência, observa-se o surgimento da eco-ansiedade e ansiedade climática, caracterizadas por profunda preocupação, medo e sensação de impotência diante da crise ambiental. Nesse contexto, é essencial mapear e compreender o conhecimento científico existente acerca da temática, a fim de possibilitar intervenções que sejam efetivas na mitigação dos efeitos emocionais gerados pela crise climática. Objetivo: mapear e sintetizar a literatura científica existente sobre os impactos das mudanças climáticas na saúde mental, com foco particular na ansiedade (incluindo eco-ansiedade e ansiedade climática) em populações em situação de vulnerabilidade. Metodologia: trata-se de uma revisão de escopo da literatura. A busca por artigos foi realizada nas bases de dados PubMed e Web of Science, utilizando a seguinte estratégia de busca central: ((Climate change) AND (anxiety)) AND (vulnerable populations). Esta busca inicial identificou 25 artigos no PubMed e 58 na Web of Science. A seleção dos estudos baseou-se em critérios de População (populações vulneráveis às mudanças climáticas), Conceito (impactos das mudanças climáticas na saúde mental, com foco em ansiedade) e Contexto (diversas regiões geográficas, com ênfase em alta vulnerabilidade). A análise dos dados envolveu a extração de informações chave (autores, ano, local, população, metodologia, resultados, conclusões) e a síntese narrativa dos achados, agrupados por temas emergentes. Resultados e Discussão: a revisão dos estudos demonstra que as pesquisas discutem uma associação entre exposições climáticas, como choques agudos (inundações) e estressores crônicos (aumento de temperatura/umidade), e desfechos negativos de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade. Derivadas destas condições, a eco-ansiedade e a ansiedade climática emergem como respostas prevalentes à conscientização sobre a crise, afetando especialmente os jovens e manifestando-se através de preocupação, medo, tristeza e raiva, impactando a rotina dessa população. As crianças mostram-se particularmente vulneráveis, sofrendo impactos negativos no seu desenvolvimento e bem-estar psicossocial. Fatores contextuais, como a residência em áreas urbanas ou a exposição direta a desastres, demonstraram modular a intensidade dessas respostas emocionais e psicológicas. Nesse contexto, observa-se uma variedade de estratégias de enfrentamento, sendo o contato com a natureza frequentemente destacado, juntamente com a busca por significado, esperança e a adoção de ações pro-ambientais. Estas últimas podem gerar efeitos positivos no bem-estar, embora a própria eco-ansiedade também possa levar à sobrecarga emocional, até a negação deste estado. Além disso, os estudos demonstraram que as mídias sociais desempenham um papel duplo, podendo tanto amplificar quanto mitigar a ansiedade relacionada ao clima. Uma lacuna crítica de conhecimento persiste quanto à experiência das populações mais pobres e marginalizadas do Sul Global, onde desafios metodológicos e desvantagens estruturais limitam a compreensão prática sobre eco-ansiedade, sendo este um termo relativamente recente nas discussões. Considerações finais: esta revisão evidencia o impacto substancial das mudanças climáticas na saúde mental, considerando a intensificação do estado de ansiedade de populações vulneráveis. As principais limitações dos estudos consistem em análises ainda incipientes em relação aos impactos de desfechos específicos. A quantidade de estudos relacionados diretamente às mudanças climáticas como causa de ansiedade ainda é limitada para análises mais aprofundadas, possivelmente devido à escassez de dados sobre os variados perfis de populações vulneráveis. Ademais, destaca-se a necessidade de intervenções de saúde pública e comunitárias, desenvolvimento de estratégias de apoio psicossocial culturalmente apropriadas, educação climática sensível às emoções e uma colaboração que seja intersetorial.