IMPLANTAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA HIPODERMÓCLISE NA PRÁTICA DE ENFERMEIROS DA ATENÇÃO DOMICILIAR
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Palabras clave:
Hipodermóclise; Assistência Domiciliar; Cuidados de Enfermagem; Prática Avançada de EnfermagemResumen
Introdução: A hipodermóclise é uma técnica que consiste na administração de fluidos e medicamentos pela via subcutânea (SC). Os primeiros relatos sobre infusão de medicações por essa via datam de 1860. Algumas décadas depois, por conta dos eventos adversos decorridos de sua utilização inadequada e os avanços das técnicas de infusão endovenosa, essa prática passou a ser inutilizada.1 No final da década de 60, com a ascensão dos cuidados paliativos, a técnica voltou a ser utilizada como uma opção de via de administração medicamentosa segura, sendo então utilizada, principalmente, em pacientes com: via oral indisponível, demência avançada com disfagia, pacientes com náuseas e/ou vômitos por períodos prolongados, intolerância gástrica, obstrução intestinal, confusão mental, dispneia intensa e pacientes com dor crônica devido ao câncer. Desde então, a via SC permanece em uso na prática clínica, principalmente em paciente em cuidados paliativos e idosos.1 Neste contexto, a Atenção Domiciliar (AD) é uma modalidade de atenção à saúde integrada a Rede de Atenção à Saúde (RAS) constituída por equipes multiprofissionais, que dentre as suas atribuições destaca-se o acompanhamento domiciliar semanal de pacientes em cuidados paliativos e idosos, com o objetivo de aliviar a dor e outros sintomas físicos, orientar familiares e cuidadores para o cuidado em domicílio.2 Assim, compete as equipes de AD a escolha do melhor tratamento para os pacientes e, o uso da via SC em domicílio, emerge como uma estratégia viável por ser segura, com baixo risco de complicações, de fácil manipulação e manutenção, permitindo que o manuseio do acesso e administração de medicações possa ser realizada pelo cuidador/familiar, mediante capacitação e acompanhamento pelas equipes de saúde.1 Frente ao exposto, o enfermeiro que atua na AD, juntamente com a equipe multiprofissional, desenvolve ações de educação em saúde, prevenção de agravos, tratamento de doenças, reabilitação, paliação e promoção à saúde, ações estas prestadas no domicílio do usuário.2 Com relação a hipodermóclise, compete ao enfermeiro a inserção do cateter, manutenção da via, administração de medicações e fluidos.1 Com isso, existe a necessidade desse profissional aprimorar seu conhecimento e habilidade a respeito dessa técnica, nesse sentido, a Prática Avançada em Enfermagem (EPA) pressupõe que os enfermeiros desenvolvam competências para a tomada de decisão em situações complexas nos diversos cenários de atuação.3 Objetivo: Relatar a experiência da implantação e utilização da hipodermóclise na prática de enfermeiros da Atenção Domiciliar. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência do tipo descritivo sobre a implantação e a utilização da hipodermóclise na prática de enfermeiros da AD. O cenário da prática foi um Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) do Oeste Catarinense o qual, foi implantado no ano de 2014 e conta com duas equipes multiprofissionais e uma equipe de apoio. No ano de 2019, a enfermeira de uma das equipes participou de um benchmarking no município de Pelotas – RS e, na oportunidade, pode vivenciar a expertise de enfermeiros no uso da hipodermóclise no domicílio que, despertou na profissional a possibilidade de implantação da técnica no seu local de trabalho. Ao retornar para o serviço foi realizada uma reunião de equipe, momento em que a técnica foi apresentada para os outros profissionais e discutido sobre os benefícios que o seu uso iria proporcionar aos pacientes e familiares. Após a concordância dos membros da equipe, a técnica de hipodermóclise foi implantada no serviço, sendo realizada uma capacitação teórico/prática para profissionais da enfermagem e médicos, seguindo o manual “O uso da via subcutânea em geriatria e cuidados paliativos”. Resultados e Discussão: Pensando no conforto do paciente e na decisão da família em mantê-lo em casa, a primeira punção de um acesso de hipodermóclise no serviço, foi realizada em um paciente em cuidados paliativos com diagnóstico de tumor cerebral, que apresentava um processo infeccioso, após a avaliação criteriosa do caso a equipe optou pelo acesso por via SC devido ao mesmo estar desidratado, necessitar de antibioticoterapia injetável e apresentar rede venosa de difícil acesso. Após a prescrição médica do antibiótico e da hidratação via SC, a enfermeira do SAD realizou visita domiciliar, afim de explicar ao responsável pelo cuidado do paciente, sobre a prescrição do tratamento, o acesso subcutâneo e avaliar por meio de questionamentos, a capacidade deste para o manuseio da via. Com a constatação que o cuidador estava apto para manusear o acesso, a enfermeira realizou a punção com cateter não-agulhado na região abdominal do paciente e instalou a medicação. O profissional que insere o cateter, deve possibilitar que o paciente decida o local de punção que lhe é menos incômodo de acordo com sua rotina e hábitos de vida, os locais mais cômodos relatados foram a região abdominal e deltoide.4 No caso relatado, devido ao paciente estar irresponsivo e acamado, a enfermeira optou por realizar a punção na região abdominal, pois esta era a posição que o paciente se encontrava no momento, e não iria interferir na alternância do decúbito. Enquanto a medicação era administrada, o cuidador recebia orientações sobre os cuidados com a via. Estudos indicam que quando os familiares estão dispostos a aprender e recebem treinamento básico, podem manusear a hipodermóclise e administrar hidratação subcutânea em casa sem complicações, sendo de responsabilidade do profissional de saúde orientar os cuidadores e familiares sobre os cuidados com a manipulação da via e complicações que podem ocorrer em domicílio.1-4 Assim, diante das atribuições e responsabilidades do profissional no que se refere ao acesso subcutâneo, a EPA pode ser definida como um modelo de inovação na enfermagem, com o objetivo de qualificar e habilitar o enfermeiro na tomada de decisões complexas e avançadas, contribuindo para o desenvolvimento de uma assistência à saúde capaz de atender às necessidades da população.3 Porém, o que observamos neste relato, é que por mais que o enfermeiro tenha o conhecimento da técnica, indicações e contraindicações para o uso da via subcutânea, ele ainda depende do profissional médico para realizar a prescrição da via e medicações. A nível mundial, a EPA permite a prescrição de medicamentos pelo enfermeiro, todavia, exigindo competência do profissional para essa atribuição. No Brasil a EPA ainda não é uma realidade e, para muitos pesquisadores, ainda não está claro quais ações devem ser relacionadas a essa prática e o que é necessário para tornar o profissional capaz e competente para realizá-la na perspectiva de sua regulamentação legal.3 Nesse sentido, estudos indicam que a preparação educacional em nível de mestrado ou doutorado é um importante atributo para os enfermeiros de prática avançada, isso porque esses cursos exigem preparação e experiência extensas.3 Considerações finais: A via subcutânea na AD mostra-se de fácil aplicabilidade, além de ser de baixo custo, fácil inserção e manipulação tanto por profissionais quanto cuidadores/familiares. Com relação a capacitação dos cuidadores, o enfermeiro desenvolve um importante papel de educação em saúde sendo fundamental uma boa comunicação entre equipe, família e paciente. A EPA é um desafio no cenário brasileiro, especialmente, no que se refere aos cuidados paliativos. Conclui-se que ter uma enfermeira especialista nessa área, com competência e habilidades para a prescrição da analgesia via subcutânea no domicílio traria benefícios para os pacientes no alívio da dor e consequente melhoria na qualidade de vida.