Hábitos de Espiritualidade e Religiosidade em pacientes hospitalizados.
Palabras clave:
Espiritualidade;, Cuidados de Enfermagem;, Pacientes Hospitalizados.Resumen
RESUMO EXPANDIDO
Introdução: A religiosidade e a espiritualidade têm proporcionado uma alternativa ao indivíduo que se encontra doente, demonstrando-se como uma forma para enfrentamento de perdas, a superação do processo de internação e combate ao vazio existencial¹. Nesse contexto, é possível considerar que crenças espirituais, religiosas ou pessoais afetam a qualidade de vida (QV) do indivíduo. Alguns estudos² têm abordado essa temática, apontando que os aspectos espirituais e religiosos dão significado às perguntas existenciais relacionadas às doenças e à morte. Dessa maneira, existe uma correlação entre os níveis de envolvimento religioso e espiritual e os indicadores que contribuem para o bem-estar psicológico, contemplando a satisfação perante a vida, o afeto e QV. Sendo a enfermagem conceituada como, primeiramente, a ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas, de torná-lo independente dessa assistência, quando possível, pelo ensino do autocuidado; de recuperar, manter e promover a saúde em colaboração com outros profissionais faz-se de extrema importância à atuação desse profissional, juntamente a outros da área da saúde, para tentar reconhecer no indivíduo saudável ou doente, física ou emocionalmente e, o quanto isso pode impactar negativamente em sua QV, o que pode levar à perda do sentido de viver. O estudo fez-se pertinente, pois permite um olhar integral sobre o ser humano, visto que o mesmo deve ser considerado sob os aspectos antropossociobiopsicoespirituais. Visou obter condições de (re)conhecer as condições humanas frente aos impactos do dia a dia, na intenção de amenizar ou evitar as intervenções negativas na QV, potencializando pontos positivos, geradores de bem-estar geral. Objetivo: Investigar os hábitos de espiritualidade e religiosidade entre os sujeitos hospitalizados em unidade de clínica médica e cirúrgica de um hospital público do interior do Paraná. Metodologia: Estudo quantitativo, descritivo, exploratório, transversal, aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa da Unioeste, sob o número CAAE 84505918.6.0000.0107, Parecer nº 2.588.565 de 09 de abril de 2018, parte do estudo intitulado “Qualidade de vida relacionada à saúde e suas vertentes: investigação do impacto positivo e negativo sobre a vida diária do ser humano”. Foram atendidas as regulamentações da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados aconteceu de abril a dezembro de 2018, por entrevistas individuais, através de instrumento elaborado para caracterização sociodemográfica e percepção sobre saúde e internação, com questões estruturadas e semiestruturadas. Os dados clínicos foram coletados nos prontuários dos indivíduos. A instituição hospitalar em tela trata-se de ambiente universitário, no interior do Estado do Paraná e contempla 210 leitos, exclusivamente destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro. A unidade pesquisada possui 35 leitos e atende pacientes com idade a partir dos 14 anos, adultos e idosos, de ambos os sexos, para tratamento clínico e cirúrgico. Os dados coletados foram compilados em planilhas e posteriormente processados e analisados no programa SPSS versão 23.0. Resultados e Discussão: Participaram, 132 indivíduos hospitalizados, com predominância de homens (55,3%); 47% casados ou em união consensual; 72,0% católicos, sendo que 6,8% não especificaram sua religião. A média de idade foi de 49,7 anos, variando de 18 a 89 anos. Permaneceram, em média, 7,94 dias hospitalizados, sendo que 72,7% não era a primeira internação. Quanto à percepção sobre a internação, 73,5% afirmaram ter um lado bom que conforme relatos, foi relacionado à recuperação do estado de saúde, assistência e tratamento adequado; e 72,7% afirmaram ter um lado ruim de estar internado, que conforme citações, foi associado à questão de estar longe de casa e da família e o próprio fato de estarem internados. Em contrapartida, referiram não terem medo ou receio de estarem internados, e quase a totalidade (97,7%) acreditavam que ficariam melhores ou curados. Associado a isso, apresentou-se o fato de que os pacientes expressaram muita fé em Deus e em acreditar na capacidade dos profissionais envolvidos em seu cuidado. Apesar de os participantes responderem, predominantemente, que a religião é bastante importante em suas vidas (55,7%), eles consideraram mormente que seus hábitos de espiritualidade eram medianos (40,2%) e afirmaram não participar de grupos religiosos (52,3%). É possível que essa informação represente que, apesar de acreditarem em algo transcendente, não possuíam hábitos externos que representassem essa crença, mas sim, a sua vivência diária. A espiritualidade está vinculada às vivências e crenças das pessoas, podendo ser compreendida como aspecto promotor de saúde, relacionado a atitudes positivas de afirmação da vida e tudo que a compõe, por parte da pessoa que vivencia³. Costumam rezar, 93,9% dos entrevistados. Desses, 93,1% rezam para agradecer e 92,3% para fazer pedidos; 94,7% se sentem mais confiantes e com esperança de que vão melhorar quando rezam. O uso da oração na prática clínica pode promover diferentes efeitos positivos, como redução da ansiedade e da depressão e melhora do funcionamento físico⁴. Baseado na percepção empírica da avaliação das falas dos pacientes durante as entrevistas, foi possível notar que, para enfrentar o processo de hospitalização, eles creem em Deus (99,2%) e afirmam ainda que, essa crença transmite fé, fortalecimento, esperança, coragem e ainda, auxilia no processo de recuperação da saúde. Também foi possível notar, nos dados avaliados, que a internação possibilitou um momento de reflexão sobre o quanto a sua relação com a espiritualidade mudou durante esse processo (56,2%). A religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais atuam como mediadoras perante as condições inerentes à vida e diminuem o impacto de agentes estressantes, sendo uma importante ferramenta nas relações sociais, questões psicológicas e físicas, que são avaliadas na QV⁵. Considerações finais: Frente a esse estudo foi possível notar que os hábitos mais frequentes de religiosidade e espiritualidade entre os indivíduos hospitalizados foram o ato de rezar/orar para agradecer e fazer pedidos. A oração gerou sentimentos de esperança e confiança que foram associados à melhora da saúde. A crença em Deus foi utilizada como enfrentamento à internação. Os hábitos de espiritualidade e religiosidade foram considerados medianos. A maior parte deles afirmaram não participar de grupos religiosos. Quase a totalidade acreditavam que ficaram melhores ou curados. É fundamental reconhecer os aspectos antropossociobiopsicoespirituais dos seres humanos, e manter o olhar integral sobre os mesmos, para que suas demandas sejam atendidas de forma completa. Assim, medidas de enfrentamento perante aos desafios da vida são promovidas, potencializando pontos positivos da hospitalização e corroborando para o bem estar geral dos indivíduos. Novos estudos com objetivos que ampliem o entendimento dessas crenças no cotidiano do indivíduo já estão sendo providenciados como continuidade dessa investigação ora apresentada.
