VÍNCULOS EXTRAMUROS À UNIVERSIDADE

A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Authors

Keywords:

Enfermagem, Saúde da Criança, Relações Comunidade-Instituição

Abstract

Introdução: As universidades possuem papel fundamental nas transformações humanas, sociais, econômicas e políticas, sendo capaz, principalmente, de produzir novos conhecimentos e aplicá-los na realidade social.1 Sendo suas ações de grande importância para a comunidade não científica, os vínculos com ela devem ser firmados e incentivados, e isso é possibilitado por intermédio da extensão universitária.1,2 O projeto de estimulação precoce na primeira infância (PEPPI) surge nesse contexto como uma metodologia de união entre a teoria científica sobre o desenvolvimento infantil e a promoção de saúde nos primeiros anos de vida com a realização de atividades numa comunidade periférica; com crianças carentes de cuidados. Suas práticas norteiam-se no conceito de que o crescimento e desenvolvimento infantil (CD) sofre influências de fatores intrínsecos (próprios do organismo da criança e de sua carga genética) e extrínsecos (relacionados com o meio ambiente e social a que a criança está inserida), sendo tais fatores responsáveis por potencializar ou retardar o seu CD.3 A estimulação precoce, conhecida como um conjunto de metodologias lúdicas para a promoção do CD e a diminuição dos danos causados pelo atraso, é a ferramenta utilizada pelo projeto de extensão, sendo efetiva quando utilizada nos primeiros anos de vida, onde a criança possui forte plasticidade neuronal e capacidade de adquirir habilidades. Objetivo: Relatar as experiências advindas de atividades de extensão realizadas pelo Projeto de Estimulação Precoce na Primeira Infância num bairro da periferia da cidade de Maceió, Alagoas, sob a percepção de uma monitora. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência realizado em julho de 2020. As práticas descritas emergiram de um projeto de extensão intitulado: Projeto de Estimulação Precoce na Primeira Infância, da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas, em que suas atividades, através do edital n° 04/2018 - Procaex/Ufal, foram aprovadas em abril de 2018. As atividades foram realizadas em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) e na Unidade Básica de Saúde (UBS) próxima a essa instituição. Mais adiante, foram estendidas ao Lar São Domingos, um orfanato do município de Maceió. Os mediadores das atividades com as crianças foram em torno de 100, entre monitores e voluntários, mas o projeto não foi aprovado com nenhum tipo de bolsa ou financiamento, destacando que todos os que dele participaram realizaram as atividades de maneira voluntariada. Resultados e Discussão: As práticas realizadas pelo projeto de extensão eram lúdicas e embasadas nos principais eixos e domínios do desenvolvimento infantil, abarcando atividades voltadas para a motricidade grossa e fina, cognição, percepção e sociabilidade e que eram desenvolvidas de acordo com a faixa etária e os marcos do crescimento e desenvolvimento infantil. Além disso, a respeito da sociabilidade, buscou-se incentivar a adoção da cultura de paz e o respeito às diferenças entre as crianças, como forma de impulsioná-las a levar essa prática para seu meio de convívio social e familiar. Outros aspectos mais específicos também foram adotados, como a prevenção de acidentes, enfocado no período junino; o estímulo ao paladar e o incentivo à alimentação saudável, com a apresentação de variadas frutas para que as crianças explorassem seus sabores, cores e texturas. Evidenciou-se que a interação entre crianças e extensionistas ocorreram de forma satisfatória para a atuação efetiva das atividades, em que são oportunizadas habilidades de trabalho em equipe, aprendizagem, criatividade e sociabilidade. O vínculo firmado com as crianças era nítido e notado, em geral, desde os primeiros dias de atividades, fato comprovado na ansiedade com que as crianças esperavam o retorno dos monitores e voluntários para mais um dia de estimulação. A área de atuação do PEPPI é considerada de vulnerabilidade social, e por isso, as atividades buscaram possibilitar os meios para que o desenvolvimento ocorresse da forma mais satisfatória possível. À medida em que os exercícios iam sendo desenvolvidos de forma lúdica, observou-se a evolução das crianças e sua interação social e, sempre que identificado um caso de possível atraso no crescimento e desenvolvimento, este era encaminhado para a coordenadora do projeto, para que fosse analisado de maneira mais minuciosa para, se necessário, posterior encaminhado a um serviço especializado, mas, sempre que possível utilizava-se de atividades mais específicas para aquela criança para que o atraso fosse diminuído dentro do próprio contexto do projeto de extensão. Com isso, favoreceu-se a superação dos possíveis entraves sociais, bem como foi notado o desenvolvimento dos mesmos nas dimensões que são fomentadas no dia a dia de Projeto. Além disso, em razão de ser um voluntariado multidisciplinar, o olhar ao crescimento e desenvolvimento da criança se dava de maneira integral, o que potencializa ainda mais o objetivo primordial de promoção de saúde infantil em todos os seus determinantes e condicionantes. O contato com os profissionais das instituições em que o projeto participava, bem como com pais ou responsáveis das crianças, também foi crucial e tornou todo o planejamento do projeto e as atividades realizadas por ele mais efetivas ao estendê-las aos responsáveis por seu cuidado direto, fortalecendo a importância da extensão em todos os sujeitos que necessitam dela. Considerações finais: As atividades de extensão realizadas possibilitaram uma melhor visão a respeito do crescimento e desenvolvimento infantil e das ferramentas possíveis para a sua promoção, como é o caso da estimulação precoce. Para a monitora, as práticas realizadas ampliaram os conceitos de saúde, indo de encontro ao modelo biomédico enraizado, favorecendo a visão holística do cuidado para com as crianças. As dificuldades encontradas, inicialmente, nortearam-se, principalmente, nos profissionais compreenderem que a estimulação precoce é uma forma de se promover saúde, e estas foram sendo rompidas pouco a pouco ao longo da realização do projeto, fomentando em uma efetiva interação entre os conhecimentos advindos da universidade com a comunidade.

Author Biography

  • Ana Carolina Santana Vieira, Universidade Federal de Alagoas

    Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Alagoas (2017). Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Alagoas (2014). Graduação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal de Alagoas (2004). Professora Adjunta do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Realiza pesquisas nas áreas de dor neonatal e crescimento e desenvolvimento infantil. É Coordenadora do Projeto de Extensão "Projeto de Estimulação Precoce na Primeira Infância - PEPPI" e Líder do Grupo de Pesquisa Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente. Membro da Rede Nacional da Primeira Infância (RNPI) e da Rede Estadual da Primeira Infância de Alagoas (REPI-AL).

Published

23-04-2024