FARINHA DE FOLHAS DE VEGETAIS ORGÂNICOS EM DIETAS PARA PISCICULTURA: BATATA DOCE (Ipomoea batatas)

Autores

  • Tiago Pereira de Miranda Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
  • Maude Regina de Borba Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
  • Stephanie Silva de Souza Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
  • Nicolas Antonio Teixeira de Paula Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS

Palavras-chave:

Ingrediente alternativo; Nutrição Animal; Peixe orgânico; Ração.

Resumo

1 Introdução 
Em 2022, a produção mundial de organismos aquáticos atingiu um recorde de 223,2 
milhões de toneladas, sendo 130,9 milhões de toneladas provenientes da aquicultura, que pela 
primeira vez superou a pesca extrativista (FAO, 2024). A aquicultura, como setor em expansão, 
desempenha papel crucial no fornecimento de alimentos para a população mundial, no entanto, 
um dos principais desafios enfrentados pela indústria aquícola é o alto custo da alimentação 
para peixes (FAO, 2022), principalmente em regiões onde o acesso a ingredientes 
convencionais é limitado ou caro (Igoche et al., 2025). 
A nutrição pode ser responsável por até 80% dos custos da atividade aquícola e 
representa fator essencial para o sucesso do empreendimento, pois uma dieta equilibrada e de 
baixo custo é fundamental para garantir o bom desempenho do sistema de produção (Bharathi, 
2019). A possível incorporação de subprodutos agrícolas à formulação da ração, pode ajudar a 
reduzir os custos de produção e tornar a aquicultura mais sustentável. Um exemplo é a batata
doce (Ipomea batatas), uma cultura versátil com potencial para ser utilizada na alimentação 
humana e animal, em que diversas partes da planta podem ser aproveitadas, incluindo os 
tubérculos, as folhas e as cascas (Igoche et al, 2025). As folhas da batata-doce são reconhecidas 
como alimento com propriedades nutricionais e funcionais de interesse (Sun et al, 2014). 
Nesse sentido, é possível incluir a folha de batata-doce em rações para peixes como 
ingrediente alternativo para a redução dos custos na aquicultura, explorando o potencial 
nutricional e a disponibilidade de uma parte da planta frequentemente subutilizada. Todavia, é 
necessário avaliar os efeitos de diferentes níveis de inclusão desse subproduto na dieta de peixes 
em sistema de produção aquícola.

2 Objetivo 
Avaliar o potencial de utilização de vegetais orgânicos oriundos da agricultura familiar 
na preparação de dietas para piscicultura.  
3 Metodologia 
A pesquisa foi realizada no Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos e 
Laboratório de Piscicultura da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus 
Laranjeiras do Sul – PR. Para a execução do experimento foram utilizados juvenis de jundiá 
(Rhamdia quelen) advindos de reprodução artificial (indução hormonal) realizada no 
Laboratório de Piscicultura da UFFS. Os procedimentos adotados nesta pesquisa estiveram em 
conformidade com a Comissão de Ética no Uso de Animais da UFFS (protocolo CEUA n° 
8078200824). 
Para a realização da biometria inicial e estocagem dos juvenis de jundiá nas unidades 
experimentais, estes foram anestesiados com solução de eugenol (1 mL 10 L-1 de água) pesados 
e medidos individualmente. Grupos de 15 peixes (peso e comprimento médio individual inicial 
de, respectivamente, 0,8±0,10 g e 4,57±0,25 cm) foram alocados em 20 tanques retangulares 
de polietileno (34 x 32 x 65,5 cm; 55 L de volume útil), conectados a um sistema de recirculação 
de água salinizada (3 ppt) e aquecida (27,04 ± 0,87 oC), providos de aeração individual. Antes 
de iniciar o experimento os peixes foram submetidos a 5 dias de adaptação às condições 
experimentais, em que foram alimentados com dieta comercial (35% PB).  
Após iniciado o período experimental, os juvenis de jundiá foram alimentados com 
dietas experimentais isoproteicas e isoenergéticas, contendo níveis crescentes de inclusão de 
farinha de folhas de batata doce (7, 14, 21 e 28% FBD) mais a dieta controle, isenta do 
ingrediente teste (0%). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, 
com cinco tratamentos em quadriplicata. As folhas de I. batatas foram procedentes de cultivo 
orgânico certificado de produtor familiar da comunidade Recanto da Natureza, Laranjeiras do 
Sul/PR, e os demais ingredientes orgânicos certificados utilizados foram adquiridos da empresa 
Gebana Brasil. Ao chegarem ao laboratório, as folhas de batata-doce foram higienizadas em 
água corrente e levadas para secagem em estufa a 50°C. Após desidratadas, foram processadas 
em um moinho de facas tipo Willye (<1,0 mm) e a farinha obtida acondicionada em recipiente 
hermeticamente fechado sob refrigeração (4oC) até a preparação das dietas experimentais. 
A alimentação dos peixes foi realizada 2 vezes ao dia (8:30 e 15:30h), até a saciedade 
aparente, por um período de 45 dias. Ao final do ensaio experimental os animais foram anestesiados, contados, pesados e medidos individualmente para avaliação da sobrevivência e 
variáveis de desempenho: - Sobrevivência (S) = [número final de peixes/número inicial de 
peixes] × 100; - Taxa de crescimento específico — TCE (%) = 100 x [(ln peso final – ln peso 
inicial)/dias de experimento]; - Consumo alimentar diário (%peso corporal/dia) (CAD) = 
[consumo matéria seca (MS)/(peso final + peso inicial/2)]/tempo em dias x 100; e - Conversão 
alimentar — CA = consumo de ração (MS)/ganho em peso. Os dados obtidos foram 
previamente testados quanto a normalidade e homoscedasticidade e então submetidos a 
ANOVA de um fator (P<0,05). Quando identificadas diferenças significativas entre os 
tratamentos, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05). 
4 Resultados e Discussão 
Os resultados obtidos de sobrevivência e desempenho zootécnico dos juvenis de jundiá 
submetidos aos diferentes tratamentos alimentares estão apresentados na Figura 1. Exceto em 
relação a sobrevivência, a inclusão de farinha de folhas de batata-doce na dieta influenciou 
significativamente as variáveis analisadas (P<0,05).  
Os resultados de TCE, CAD e CA não diferiram significativamente entre os tratamentos 
controle e 7% de inclusão de farinha de folhas de batata-doce (FBD) na dieta. Entretanto, 
evidenciou-se tendência de piora gradativa dos parâmetros avaliados com o aumento da 
porcentagem de inclusão dietética de FBD, agravando-se principalmente nas concentrações 
mais altas deste ingrediente alternativo na dieta (21 e 28%). 

Resultados obtidos no estudo de Adewolu (2008) corroboram com a presente pesquisa, 
em que ao utilizar maiores níveis de inclusão de farinha de folhas de batata-doce (20%) na dieta 
para juvenis de Tilapia zilli observou-se menor ganho de peso e diminuição na taxa de 
crescimento dos animais. Entretanto, no referido estudo não houve diferenças significativas 
para a variável de ganho em peso dos juvenis alimentados com as dietas 5, 10, e 15% FBD ao 
serem comparadas com a dieta controle.  
O estudo realizado por Jayant et al. (2020), por sua vez, apresenta divergências com 
esta pesquisa, sendo que a inclusão de 10, 20 e 30% do ingrediente teste na alimentação de 
larvas de Labeo rohita resultou em crescimento das larvas significativamente maior nos 
tratamentos que continham farinha de folhas de batata-doce em relação a dieta controle e os 
índices de CA não variaram entre os diferentes tratamentos. 
5 Conclusão 
Os resultados demonstram que a inclusão da farinha de folhas de batata-doce na dieta 
de juvenis de R. quelen é segura e eficaz em níveis de até 7%, sem comprometer 
significativamente o crescimento, o consumo alimentar, a conversão alimentar ou a 
sobrevivência. No entanto, concentrações superiores a esse limite resultaram em piora 
progressiva no desempenho zootécnico, especialmente nos níveis mais elevados testados (21% 
e 28%). Dessa forma, embora a farinha de folhas de batata doce represente uma alternativa 
promissora para formulação de rações aquícolas, sua viabilidade nutricional pode variar entre 
as espécies. 

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Publicado

06-10-2025

Edição

Seção

Ciências Agrárias - Campus Laranjeiras do Sul