FARINHA DE FOLHAS DE VEGETAIS ORGÂNICOS EM DIETAS PARA PISCICULTURA: BATATA DOCE (Ipomoea batatas)
Palavras-chave:
Ingrediente alternativo; Nutrição Animal; Peixe orgânico; Ração.Resumo
1 Introdução
Em 2022, a produção mundial de organismos aquáticos atingiu um recorde de 223,2
milhões de toneladas, sendo 130,9 milhões de toneladas provenientes da aquicultura, que pela
primeira vez superou a pesca extrativista (FAO, 2024). A aquicultura, como setor em expansão,
desempenha papel crucial no fornecimento de alimentos para a população mundial, no entanto,
um dos principais desafios enfrentados pela indústria aquícola é o alto custo da alimentação
para peixes (FAO, 2022), principalmente em regiões onde o acesso a ingredientes
convencionais é limitado ou caro (Igoche et al., 2025).
A nutrição pode ser responsável por até 80% dos custos da atividade aquícola e
representa fator essencial para o sucesso do empreendimento, pois uma dieta equilibrada e de
baixo custo é fundamental para garantir o bom desempenho do sistema de produção (Bharathi,
2019). A possível incorporação de subprodutos agrícolas à formulação da ração, pode ajudar a
reduzir os custos de produção e tornar a aquicultura mais sustentável. Um exemplo é a batata
doce (Ipomea batatas), uma cultura versátil com potencial para ser utilizada na alimentação
humana e animal, em que diversas partes da planta podem ser aproveitadas, incluindo os
tubérculos, as folhas e as cascas (Igoche et al, 2025). As folhas da batata-doce são reconhecidas
como alimento com propriedades nutricionais e funcionais de interesse (Sun et al, 2014).
Nesse sentido, é possível incluir a folha de batata-doce em rações para peixes como
ingrediente alternativo para a redução dos custos na aquicultura, explorando o potencial
nutricional e a disponibilidade de uma parte da planta frequentemente subutilizada. Todavia, é
necessário avaliar os efeitos de diferentes níveis de inclusão desse subproduto na dieta de peixes
em sistema de produção aquícola.
2 Objetivo
Avaliar o potencial de utilização de vegetais orgânicos oriundos da agricultura familiar
na preparação de dietas para piscicultura.
3 Metodologia
A pesquisa foi realizada no Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos e
Laboratório de Piscicultura da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus
Laranjeiras do Sul – PR. Para a execução do experimento foram utilizados juvenis de jundiá
(Rhamdia quelen) advindos de reprodução artificial (indução hormonal) realizada no
Laboratório de Piscicultura da UFFS. Os procedimentos adotados nesta pesquisa estiveram em
conformidade com a Comissão de Ética no Uso de Animais da UFFS (protocolo CEUA n°
8078200824).
Para a realização da biometria inicial e estocagem dos juvenis de jundiá nas unidades
experimentais, estes foram anestesiados com solução de eugenol (1 mL 10 L-1 de água) pesados
e medidos individualmente. Grupos de 15 peixes (peso e comprimento médio individual inicial
de, respectivamente, 0,8±0,10 g e 4,57±0,25 cm) foram alocados em 20 tanques retangulares
de polietileno (34 x 32 x 65,5 cm; 55 L de volume útil), conectados a um sistema de recirculação
de água salinizada (3 ppt) e aquecida (27,04 ± 0,87 oC), providos de aeração individual. Antes
de iniciar o experimento os peixes foram submetidos a 5 dias de adaptação às condições
experimentais, em que foram alimentados com dieta comercial (35% PB).
Após iniciado o período experimental, os juvenis de jundiá foram alimentados com
dietas experimentais isoproteicas e isoenergéticas, contendo níveis crescentes de inclusão de
farinha de folhas de batata doce (7, 14, 21 e 28% FBD) mais a dieta controle, isenta do
ingrediente teste (0%). O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado,
com cinco tratamentos em quadriplicata. As folhas de I. batatas foram procedentes de cultivo
orgânico certificado de produtor familiar da comunidade Recanto da Natureza, Laranjeiras do
Sul/PR, e os demais ingredientes orgânicos certificados utilizados foram adquiridos da empresa
Gebana Brasil. Ao chegarem ao laboratório, as folhas de batata-doce foram higienizadas em
água corrente e levadas para secagem em estufa a 50°C. Após desidratadas, foram processadas
em um moinho de facas tipo Willye (<1,0 mm) e a farinha obtida acondicionada em recipiente
hermeticamente fechado sob refrigeração (4oC) até a preparação das dietas experimentais.
A alimentação dos peixes foi realizada 2 vezes ao dia (8:30 e 15:30h), até a saciedade
aparente, por um período de 45 dias. Ao final do ensaio experimental os animais foram anestesiados, contados, pesados e medidos individualmente para avaliação da sobrevivência e
variáveis de desempenho: - Sobrevivência (S) = [número final de peixes/número inicial de
peixes] × 100; - Taxa de crescimento específico — TCE (%) = 100 x [(ln peso final – ln peso
inicial)/dias de experimento]; - Consumo alimentar diário (%peso corporal/dia) (CAD) =
[consumo matéria seca (MS)/(peso final + peso inicial/2)]/tempo em dias x 100; e - Conversão
alimentar — CA = consumo de ração (MS)/ganho em peso. Os dados obtidos foram
previamente testados quanto a normalidade e homoscedasticidade e então submetidos a
ANOVA de um fator (P<0,05). Quando identificadas diferenças significativas entre os
tratamentos, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05).
4 Resultados e Discussão
Os resultados obtidos de sobrevivência e desempenho zootécnico dos juvenis de jundiá
submetidos aos diferentes tratamentos alimentares estão apresentados na Figura 1. Exceto em
relação a sobrevivência, a inclusão de farinha de folhas de batata-doce na dieta influenciou
significativamente as variáveis analisadas (P<0,05).
Os resultados de TCE, CAD e CA não diferiram significativamente entre os tratamentos
controle e 7% de inclusão de farinha de folhas de batata-doce (FBD) na dieta. Entretanto,
evidenciou-se tendência de piora gradativa dos parâmetros avaliados com o aumento da
porcentagem de inclusão dietética de FBD, agravando-se principalmente nas concentrações
mais altas deste ingrediente alternativo na dieta (21 e 28%).
Resultados obtidos no estudo de Adewolu (2008) corroboram com a presente pesquisa,
em que ao utilizar maiores níveis de inclusão de farinha de folhas de batata-doce (20%) na dieta
para juvenis de Tilapia zilli observou-se menor ganho de peso e diminuição na taxa de
crescimento dos animais. Entretanto, no referido estudo não houve diferenças significativas
para a variável de ganho em peso dos juvenis alimentados com as dietas 5, 10, e 15% FBD ao
serem comparadas com a dieta controle.
O estudo realizado por Jayant et al. (2020), por sua vez, apresenta divergências com
esta pesquisa, sendo que a inclusão de 10, 20 e 30% do ingrediente teste na alimentação de
larvas de Labeo rohita resultou em crescimento das larvas significativamente maior nos
tratamentos que continham farinha de folhas de batata-doce em relação a dieta controle e os
índices de CA não variaram entre os diferentes tratamentos.
5 Conclusão
Os resultados demonstram que a inclusão da farinha de folhas de batata-doce na dieta
de juvenis de R. quelen é segura e eficaz em níveis de até 7%, sem comprometer
significativamente o crescimento, o consumo alimentar, a conversão alimentar ou a
sobrevivência. No entanto, concentrações superiores a esse limite resultaram em piora
progressiva no desempenho zootécnico, especialmente nos níveis mais elevados testados (21%
e 28%). Dessa forma, embora a farinha de folhas de batata doce represente uma alternativa
promissora para formulação de rações aquícolas, sua viabilidade nutricional pode variar entre
as espécies.
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