ANÁLISE DE VULNERABILIDADE PARA INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

Autores

Palavras-chave:

Estudantes, Infecções Sexualmente Transmissíveis, Preservativos, Saúde Sexual, Conhecimentos, Atitudes e Práticas em Saúde

Resumo

1 Introdução 

A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e a progressão para a síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) permanecem como desafios relevantes para a saúde pública mundial, apesar dos significativos avanços nos métodos de diagnóstico, tratamento e prevenção. O HIV continua a afetar populações de forma desigual, sendo particularmente preocupante o aumento do número de novos casos na América Latina desde 2010 (OPAS, 2019). Tal panorama evidencia a urgência de estratégias sustentadas de promoção da saúde sexual e de prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), especialmente entre os grupos populacionais mais vulneráveis. 

No Brasil, dados do Boletim Epidemiológico HIV/Aids (Ministério da Saúde, 2024) apontam que indivíduos entre 15 e 24 anos constituem um grupo de alta exposição ao risco de infecção pelo HIV, representando 23,2% dos casos notificados no período de 2007 a 2024. Essa faixa etária corresponde, em grande parte, ao perfil universitário, o que acende um sinal de alerta para a necessidade de intervenções voltadas à saúde sexual no contexto acadêmico.

Nesse cenário, o ambiente universitário configura-se como espaço estratégico para o desenvolvimento de ações educativas e preventivas voltadas à saúde sexual e reprodutiva. No entanto, persistem lacunas de conhecimentos e fragilidades que podem comprometer a adoção de práticas seguras e o autocuidado entre os jovens.

 

2 Objetivo Geral

Analisar os conhecimentos, comportamentos e práticas relacionadas à saúde sexual de universitários da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), com ênfase na prevenção de IST/HIV considerando diferenças entre campi e associações com variáveis de interesse.

 

3 Metodologia

Pesquisa transversal, de caráter descritivo e abordagem quantitativa. Participaram estudantes universitários maiores de 18 anos, de ambos os sexos, regularmente matriculados no ano de 2024, em um dos seis campi UFFS (Cerro Largo, Chapecó, Erechim, Laranjeiras do Sul, Passo Fundo e Realeza). Segundo dados UFFS a população de universitários em março 2024 era de 7.295 estudantes de graduação. A amostra final (401) superou o cálculo amostral, considerando nível de confiança de 95% e erro de 5%. O número atingido assegura que a amostra é suficiente para a validação e inferência dos resultados. 

A coleta de dados ocorreu entre os meses de abril e outubro de 2024, por meio de questionários online. O instrumento abordou informações referentes à caracterização pessoal e sociodemográfica (idade, sexo, raça/cor, escolaridade, identidade de gênero, orientação sexual, estado civil, renda familiar, se recebe algum auxílio estudantil UFFS, ocupação, curso, campus UFFS de vínculo), além de aspectos relacionados ao estilo de vida/atitudes (tabagismo e consumo de bebida alcoólica), exposição e práticas de risco com ênfase no uso do preservativo, e de proteção como procura por serviço de saúde e testes para IST. O conhecimento sobre HIV foi verificado a partir de questões fechadas. 

Os dados foram analisados por estatística descritiva e inferencial, aplicando teste estatístico de associação Qui-Quadrado de Pearson para verificar a existência de associação entre os campi e variáveis de interesse. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob número CAAE 77323724.5.0000.5564.

 

4 Resultados e Discussão

Participaram do estudo 401 estudantes universitários da UFFS. A maior representação foi do Campus Chapecó (46,4%), seguido dos campi Realeza (15,5%), Erechim (15,5%), Passo Fundo (10,1%), Cerro Largo (8,7%) e Laranjeiras do Sul (3,7%). O perfil sociodemográfico foi identificado, com maioria sexo feminino (68,1%); faixa etária entre 18 e 24 anos (67,8%); raça branca (72,4%); solteiro/a (46,5%); entre 1 e 3 anos de vínculo UFFS (55,6%); renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos (39%); não recebe auxílio UFFS (73,9%); e situação ocupacional exclusivamente estudante (53%). Ainda, variáveis relacionadas a sexualidade observaram maioria orientação heterossexual (72,1%) e identidade cisgênero (95,8%). À abordagem das variáveis, os resultados apontam para diferenças significativas (p-valor<0,05) entre os campi e sexo, identidade de gênero, renda familiar, auxílio UFFS e situação ocupacional.  

As características majoritárias dos participantes e as diferenças significativas entre os campi em variáveis como sexo, identidade de gênero, renda, recebimento de auxílio e situação ocupacional, sugerem desigualdades estruturais no interior da própria universidade. Ainda, o perfil socioeconômico dos estudantes tende a variar conforme o campus e os cursos ofertados.

Estudo recente demonstra que a renda familiar exerce influência determinante tanto na escolha quanto na permanência no ensino superior no Brasil. Em especial, verifica-se que estudantes de baixa renda concentram-se em cursos de menor prestígio ou em turnos noturnos (que viabilizam a conciliação com o trabalho) e enfrentam maiores dificuldades de permanência e conclusão, mesmo em contextos beneficiados por políticas de inclusão (Bertolin; Mccowan, 2022). Os achados deste estudo reforçam a importância de políticas institucionais de permanência e ações territorializadas, que considerem as especificidades dos diferentes campi e os determinantes sociais que atravessam a vivência universitária.

O comportamento de risco e de prevenção dos estudantes universitários foi avaliado a partir de variáveis relacionadas aos cuidados em saúde e saúde sexual. Foram abordados comportamentos de risco referentes ao hábito de fumar/tabagismo, consumo de bebida alcoólica, uso de drogas ao transar e história de IST, estes sem associação significativa com o campus de vínculo. Quanto ao comportamento protetivo, a realização de testagem para HIV observou diferença estatisticamente significativa (p-valor <0,05) entre os campi UFFS.

A universidade constitui um espaço estratégico para o desenvolvimento de ações voltadas à prevenção e à promoção da saúde sexual, especialmente por concentrar uma significativa parcela de jovens e adultos sexualmente ativos. Nesse contexto, observa-se que a oferta de testagens rápidas para HIV no ambiente universitário tende a alcançar maior adesão do que a procura por esses serviços em hospitais ou unidades básicas de saúde. Tal realidade pode ser atribuída à facilidade de acesso à informação e à agilidade na entrega dos resultados, frequentemente viabilizadas por iniciativas científicas conduzidas por estudantes da saúde. 

Da mesma forma, o uso do preservativo foi analisado em relação aos campi. O uso de preservativo na 1ª relação sexual, assim como o uso regular em todas as relações com parceiros casuais foi questionado, não havendo associação significativa entre essas variáveis e os campi UFFS. Houve associação entre campi e o uso do preservativo com parceiro fixo. 

Segundo Felisbino-Mendes et al. (2021), o uso do preservativo tem grande importância na prevenção de IST’s, pois é um método seguro, eficaz e de fácil aquisição. No entanto, a prevalência de uso consistente desse método na população adulta brasileira é baixa, cerca de 22,8%. Esse dado indica a necessidade de continuar incentivando o uso do preservativo em todas as relações sexuais, reforçando sua importância para a proteção sexual.

Os conhecimentos dos estudantes universitários UFFS em relação à transmissão e prevenção de IST/HIV foi analisado segundo o campus de estudo, com significância estatística (p-valor<0,05) para: o conhecimento sobre as formas de transmissão e prevenção do HIV; a compreensão se HIV e aids são a mesma coisa; e conhecimento sobre testes rápidos para IST. Outras variáveis relacionadas ao conhecimento como o uso do preservativo como melhor maneira de evitar contaminação pelo HIV; o uso de método anticoncepcional (exceto preservativo masculino e feminino) como forma de proteção para o HIV; a existência de tratamento para a aids; a transmissão do HIV através do beijo na boca; o conhecimento sobre o preservativo feminino e serviços de saúde com oferta de testagem para HIV, foram abordados, sem associações estatísticas entre campi. 

A diferença significativa no nível de conhecimento sobre HIV/Aids entre os campi da UFFS apontam para maior conhecimento nos campi Chapecó e Passo Fundo, que ofertam cursos da área da saúde (enfermagem e medicina). A maior proporção de respostas satisfatórias nesses campi pode ser atribuída à inserção de conteúdos relacionados à saúde sexual e ISTs nos componentes curriculares das respectivas graduações. No entanto, identificaram-se lacunas importantes, uma vez que parte dos estudantes, inclusive desses mesmos campi, demonstrou desconhecimento sobre transmissão e prevenção do HIV. 

Nos campi onde são ofertadas graduações em Enfermagem e Medicina, observa-se maior engajamento em ações de prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), muitas delas protagonizadas pelos próprios estudantes dessas áreas. Tais iniciativas têm impacto positivo na promoção da saúde sexual no ambiente universitário. No entanto, os achados do estudo reforçam a necessidade de que ações educativas sobre o tema sejam ampliadas e institucionalizadas em todos os campi, de forma contínua, sistemática e alinhada às especificidades do contexto acadêmico.




5 Conclusão
Os achados deste estudo evidenciam que, embora a universidade seja um espaço privilegiado para o desenvolvimento de ações de promoção da saúde sexual, ainda persistem lacunas significativas no conhecimento, nas práticas e no acesso a informações e serviços de prevenção entre os estudantes universitários da UFFS. Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os campi quanto ao conhecimento sobre HIV/Aids e à adesão a comportamentos protetivos, como a realização de testagens rápidas, especialmente nos campi que ofertam cursos da área da saúde.
Essas desigualdades revelam a necessidade de políticas institucionais mais amplas e integradas, que considerem as especificidades dos territórios e a diversidade do perfil estudantil. Reforça-se, portanto, a importância de ações educativas contínuas e sistemáticas voltadas à prevenção das ISTs e à promoção da saúde sexual em todos os campi da universidade. Tais medidas são essenciais não apenas para o enfrentamento do HIV/Aids entre jovens universitários, mas também para a construção de um ambiente acadêmico mais equitativo, informado e comprometido com o cuidado integral à saúde.

 

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico: HIV e Aids 2024. Número especial. Brasília: Ministério da Saúde, 2024. Acesso em: 4 ago. 2025.

 

BERTOLIN, J.; MCCOWAN, T. A persistência da iniquidade no ensino superior brasileiro: dados de contexto e desempenho estudantil. In: TAVARES, O.; SÁ, C.; SIN, C.; AMARAL, A. (org.). Políticas de equidade no ensino superior global. Cham: Palgrave Macmillan, 2022. (Questões no Ensino Superior). Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-030-69691-7_4. Acesso em: 5 ago. 2025.

 

FELISBINO-MENDES, M.S.; ARAÚJO, F.G.; OLIVEIRA, L.V.A.; VASCONCELOS, N.M.; VIEIRA, M.L.F.P.; MALTA, D.C. Comportamento sexual e uso de preservativos na população brasileira: análise da Pesquisa Nacional de Saúde, 2019. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 24, supl. 2, e210018, dez. 2021. Acesso em: 4 ago. 2025.

 

PAN AMERICAN HEALTH ORGANIZATION. HIV/AIDS. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/hivaids. Acesso em: 4 ago. 2025.

 

Palavras-chave: Infecções Sexualmente Transmissíveis; Estudantes; Saúde Sexual; Preservativos; Conhecimentos, Atitudes e Prática em Saúde.

 

Nº de Registro no sistema Prisma: PES 2024-0431 

Financiamento:  Edital Nº153/GR/UFFS/2024 - Concessão de Bolsas de Iniciação Científica - Universidade Federal da Fronteira Sul

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Publicado

06-10-2025

Edição

Seção

Ciências da Saúde - Campus Chapecó