A CONTÍSTICA DE MIA COUTO
Keywords:
Literatura moçambicana, Conto, Mia Couto, Ensino de Literatura.Abstract
1 Introdução
O presente trabalho tem por objetivo apresentar a análise realizada na obra contística do escritor moçambicano Mia Couto. Os livros que fizeram parte da pesquisa foram: Cada homem é uma raça (1998), Contos do nascer da terra (2014), Estórias Abensonhadas (2012), Na berna de nenhuma estrada e outros contos (1987) e Vozes anoitecidas (2013). A pesquisa consistiu em analisar quais temáticas mais recorrentes nos livros. Percebeu-se que os temas que mais se repetiram foram: morte, tradição e alcoolismo.
2 Objetivo
O principal objetivo foi perceber quais temáticas eram mais recorrentes na obra de Mia Couto.
3 Metodologia
Para a realização da análise das temáticas presentes nos livros, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a partir da leitura de textos teóricos pertencentes à literatura africana de língua portuguesa. Posteriormente, foi feita a leitura das cinco obras de contos de Mia Couto. Para cada livro foi escrito um resumo e identificada a temática presente nos contos. Igualmente, foi realizada a busca e leitura de artigos nas revistas eletrônicas: Via atlântica, Abril da UFF, Revista Literatura e sociedade, Revista Nonada, entre outras.
4 Resultados e Discussão
A partir da leitura das cinco obras de contos do autor, percebeu-se que os contos dele apresentam histórias carregadas de significados, do modo que o leitor faça uma reflexão após a leitura. De acordo com Meloni, (2014, p.181) “[...] assim, quando nos deparamos com a abordagem do moçambicano, seu texto leva o leitor a inserir-se no texto, de modo a fazê-lo dialogar com sua própria realidade [...]”. Diante disso, as temáticas apresentadas nos contos, não fazem parte somente do continente africano mas envolvem toda a sociedade.
A temática relacionada à morte foi abordada, respectivamente, nos livros e contos: Vozes anoitecidas em “A fogueira”, Estórias abensonhadas em “O adivinhador das mortes”, e em Na berna de nenhuma estrada e outros contos em “Fosforecências”. Todas apresentam a morte como uma continuidade da vida, mas em um mundo oculto. De acordo com Gomes, (2015, p.112) a morte é “[...] como uma mudança de ciclo, como transformação e como regresso ao mundo dos espíritos. [...] Para os africanos, a morte não é uma ruptura, é uma mudança de vida, uma passagem para outro ciclo de vida[...]”. Assim, para os africanos, a morte não causa medo, nem estranhamento, mas sim uma mudança.
Os contos “Nas águas do tempo” e “A última chuva do prissioneiro” apresentam a temática referente à tradição, em que os personagens relembram os ensinamentos deixados pelos familiares que já morreram. Vansina (2010) afirma que no continente africano a tradição é transmitida de pais para filhos(as) de avós para netos(as), para que nunca seja esquecida, de forma que seja lembrada para continuar sendo seguida. A temática da tradição também aparece nas narrativas: “O ex futuro padre e a ex futura viúva”, “Falas do velho Tuga”, e “O arroto de Dona Elisa”. Esses contos abordam a tradição seguida por rituais para a cura de doenças, visto que se acreditava muito no poder deles.
O último tema recorrente na constística de Mia Couto foi o alcoolismo. As narrativas “Saíde o Lata de Àgua”, “O viúvo” e “O calcanhar de Virigílio” apresentam personagens que se tornaram dependentes da bebida alcoólica por causa da solidão.
Ainda na análise foi percebido que os contos: “Noventa e três”, “O Velho com jardim nas traseiras do tempo”, “O assalto”, e “O embondeiro que sonhava pássaros” apresentam personagens idosos(as) nas histórias. Vansina (2010) acentua o papel deles na cultura africana. Eles são muito respeitados, pois são os responsáveis por manter a história do seu povo viva, assim como por manter a tradição viva. De acordo com Leite, (2003, p.192) “são os velhos que conhecem a tradição, a palavra, a memória, e os novos, aqueles que a reaprendem [...].” Dessa forma, compreende-se porque os(as) idosos(as) aparecem na maioria dos contos, isto é porque é através das pessoas mais velhas que os mais novos aprendem a seguir a tradição do seu povo, para que nunca seja esquecida.
5 Conclusão
Por fim, percebeu-se que a contística de Mia Couto apresenta histórias que são ligadas à realidade do povo africano e moçambicano. A temática da morte é vista com naturalidade na cultura moçambicana, porque acreditam que a morte é a continuação da vida, mas em um mundo invisível, que, mesmo depois de morta, a pessoa pode se comunicar com os vivos.
A tradição, como tema principal, passa para o leitor a importância da realização dos rituais para alcançar a cura de uma doença, assim como a relevância de seguir os ensinamentos que os mais velhos tinham deixado. Finalmente, a temática relacionada ao alcoolismo apresenta personagens que sofrem por causa da solidão, por isso tornam-se dependentes do álcool. No que diz respeito à presença das pessoas idosas, é porque os mais velhos é quem eram responsáveis em mantar a tradição viva.
Referências
GOMES Manuel Tavares. Entre o sonho e a morte: desvelamentos, revelações e contaminações na narrativa ficcional de Mia Couto. Revista Literatura e sociedade, nº21, 2015.
LEITE Ana Mafalda. A narrativa como invenção da personagem. IN: Maria Aparecida Santilli (org). Paralelas e tangentes: entre literaturas de língua portuguesa. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.
VANSINA, J. A tradição oral e sua Metodologia.cap.7. In: Kí-Zerbo, Joseph (org). História Geral da Àfrica I: Metodologia e pré-história da Àfrica. 2ª. ed. Brasília: Unesco, 2010.p.992.
Palavras-chave: Literatura moçambicana; Conto; Mia Couto; Ensino de Literatura.
Fonte de Financiamento: PIBIC/FAPERGS
EXEMPLO: PROBITI - FAPERGS
References
GOMES Manuel Tavares. Entre o sonho e a morte: desvelamentos, revelações e contaminações na narrativa ficcional de Mia Couto. Revista Literatura e sociedade, nº21, 2015.
LEITE Ana Mafalda. A narrativa como invenção da personagem. IN: Maria Aparecida Santilli (org). Paralelas e tangentes: entre literaturas de língua portuguesa. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.
VANSINA, J. A tradição oral e sua Metodologia.cap.7. In: Kí-Zerbo, Joseph (org). História Geral da Àfrica I: Metodologia e pré-história da Àfrica. 2ª. ed. Brasília: Unesco, 2010.p.992.
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Submeto o trabalho apresentado como texto original à Comissão Científica da XVI JIC, o qual apresenta os resultados de subprojeto de pesquisa, e concordo que os direitos autorais a ele referentes se tornem propriedade do Anais da XVI JIC da UFFS.
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