PERFIL ANTROPOMÉTRICO E AVALIAÇÃO DA HISTÓRIA CLÍNICA, SOCIAL E DO CONSUMO ALIMENTAR DE PACIENTES INFECTADOS COM HIV

  • Deisi Tonel Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Realeza-PR
  • Izabela Caroline de Brito Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Realeza-PR
  • Thaiane da Silva Rios Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Realeza-PR
  • Jucieli Weber Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Realeza-PR
  • Dalila Moter Benvegnú Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Realeza-PR
Palavras-chave: HIV/AIDS, Consumo alimentar, Antropometria

Resumo

1 Introdução

Conforme dados do Ministério da Saúde, desde o surgimento da doença, em 1980, até junho de 2015 foram computados 798.366 casos de pessoas infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) no Brasil, sendo 519.183 casos em homens e 278.960 em mulheres (BRASIL, 2015). Atualmente, o tratamento nutricional dessas pessoas mostra-se fundamental, pois a depleção do estado nutricional pode refletir no sistema imunológico. Por isso, a terapia nutricional clínica deve ser um ponto integrado de essencial importância no controle da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) em todos os estágios da doença e é de grande importância manter o sistema imune balanceado por toda a vida, visto que a falta de micronutrientes como o zinco pode induzir à deficiência imunológica e infecções (ESCOTT-STUMP, 2011).

2 Objetivo

Avaliar o perfil antropométrico, a história clínica, social e do consumo alimentar de pacientes infectados com HIV.

3 Metodologia

Foram selecionados indivíduos infectados com o HIV, de faixa etária entre 21 a 59 anos, assistidos pelo CEDIP- Centro Especializado de Doenças Infecto Parasitárias, localizado no município de Cascavel, Paraná, com contagem de células CD4 < 500 cél/mm³. Os pacientes foram submetidos a um questionário de modo individual, a fim de serem analisados dados pessoais, do estado de saúde e da história clínica do HIV. A investigação do consumo alimentar teve por base a aplicação do Questionário de Frequência Alimentar e do autopreenchimento do Diário Alimentar de três dias.

4 Resultados e Discussão

Foram aplicados 51 questionários, dos quais, 27 indivíduos eram do sexo masculino e 24 do sexo feminino, ambos da faixa etária adulta com média de idade de 42 anos para ambos os sexos. Destes indivíduos, 74,5% (n= 38) residiam no município de Cascavel, 5,88% (n=3) nos municípios de Capitão Leônidas Marques e Corbélia e 13,7% em outros municípios.

Quando questionados sobre a escolaridade, percebeu-se que 35,3% (n=18) possuíam o ensino fundamental incompleto, 29,4% (n=15) o ensino médio completo e 15,6% (n=8) possuíam o ensino fundamental completo, sendo que o restante possui ensino médio completo (n=5), superior incompleto (n=3) e superior completo (n=2). Sobre o estado civil obteve-se a participação de 39,2% (n=20) de pessoas solteiras e 31,3% (n=16) de pessoas casadas, sendo o restante divorciado (8), viúvo (4) e amasiado (3). Sobre o estilo de vida, pode-se notar que 80,4% (n=41) eram não fumantes e 68,6% (n=35) não realizavam a ingestão de álcool.

Indagados sobre a história clínica da doença, verificou-se que 66,6% (34) contraíram o vírus do HIV por relação sexual desprotegida, fato este que pode ser visualizado no país inteiro, sendo que em 2014 essa transmissão ocorreu em 95,4% entre os homens e 97,1% entre as mulheres (BRASIL, 2015). A descoberta da infecção viral deu-se através da realização de exames rotineiros (52,9%), exames realizados no internamento hospitalar (15,6%), testes rápidos (9,8%), exames do pré-natal (5,8%), exames realizados no ato da doação de sangue (9,8%), relato de alguém (3,9%) e exames para procedimento cirúrgico (1,9%).

Dados referentes à avaliação antropométrica, mostram que a média de peso e estatura foi de  67Kg e 1,58m para as mulheres e 75Kg e 1,70m para os homens. A avaliação do cálculo do Índice de Massa Corporal demonstra que 3,9% dos indivíduos apresentavam desnutrição grave, 3,9% desnutrição leve, 35% eutrofia, 37% sobrepeso e 21,5% obesidade. Estudo que avaliou 58 pacientes infectados com HIV obteve maior prevalência de pessoas com diagnóstico nutricional adequado do que o presente estudo, sendo caracterizado por 58% dos casos de eutrofia, 23% de desnutrição e 19% de sobrepeso/obesidade (SOUZA, 2009).

Para realizar a avaliação da ingestão alimentar, aplicou-se dois questionários, sendo eles o diário alimentar de três dias (DA) e o questionário de frequência de consumo alimentar (QFA). Assim, realizou-se a média dos valores encontrados através do cálculo dos questionários aplicados, obtendo um valor médio de calorias de 2190Kcal, 303g de carboidrato, 114,2g de proteína e 64,1g de lipídio, apresentando um consumo adequado para a faixa etária. Pode-se notar proximidade dos valores em um estudo que avaliou o consumo alimentar de 39 pacientes infectados com HIV, exceto com o consumo de lipídios. Esses participantes obtiveram um total de 2148Kcal, 266,4g de carboidratos, 106,3g de proteína e 679g de lipídios, estando este último bem acima do valor consumido pelos participantes do presente estudo (DUTRA; SALLA; MARQUÊS; LIBONATI, 2011).

A média do consumo de zinco de 16,1mg apresentou-se acima do indicado para a faixa etária, no entanto permanece adequado quando avaliado em relação ao valor do limite máximo tolerável de 40mg do mineral para o público adulto. É necessário garantir uma boa ingestão deste mineral a fim de que não haja deficiência nos níveis de zinco sanguíneo nesses indivíduos. O papel desempenhado pelo zinco no sistema imunológico é fundamental, demonstrando que há diminuição na razão CD4:CD8 durante a deficiência de zinco (SENA; PEDROSA, 2005).

5 Conclusão

Os resultados deste estudo apontam que a maioria dos indivíduos reside no município de Cascavel – PR, possui o ensino fundamental incompleto, são solteiros, não ingerem bebidas alcóolicas e não fazem uso de tabaco. A maioria contraiu o vírus via relação sexual desprotegida e descobriu essa infecção através da realização de exames de rotina. Quanto ao estado nutricional foi verificado um predomínio de indivíduos com sobrepeso e com um consumo alimentar de calorias, macronutrientes e zinco adequados.

Contudo, a intervenção e a educação nutricional devem ser parte integrante na atenção a saúde desses pacientes visando a adequação do estado nutricional e mudanças do comportamento alimentar que irão favorecer a promoção da saúde.

Referências

BRASIL, Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico – HIV/AIDS. Brasília, Ano IV – nº1., 2015.

DUTRA, C. D. T.; SALLA, L. C. N.; MARQUÊS, M. C. M.; LIBONATI, R. M. F.; Avaliação do consumo alimentar em pacientes com HIV positivos com lipodistrofia. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 4, n. 2, p. 59-65, jul./dez. 2011.

ESCOTT-STUMP, S. Nutrição: relacionada ao diagnóstico e tratamento. 6 ed. Barueri, SP: Manole, 2011.

SENA, K.C.M.; PEDROSA, L.F.C. Efeitos da suplementação com zinco sobre o crescimento, sistema imunológico e diabetes. Departamento de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte: Petrópolis - RN, 2005.

SOUZA, R. G.; Perfil nutricional de portadores do HIV e ou AIDS e sua correlação com a TARV, na cidade de Belém, Pará, Brasil. Dissertação de Mestrado. Belém, Pará, 2009.

Publicado
26-09-2016