INTERVENÇÕES AUTORREFERIDAS POR PUÉRPERAS DURANTE O PARTO VAGINAL

  • Lilian Bassegio Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC
  • Joanna d’Arc Lyra Batista Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC
  • Maíra Rossetto Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC
  • Joice Moreira Schmalfuss Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC

Resumo

O objetivo do trabalho é descrever a frequência autorreferida de intervenções realizadas durante o parto vaginal de mulheres atendidas no município de Chapecó-SC. Trata-se de um estudo transversal realizado em uma maternidade de referência do Oeste Catarinense-Brasil, entre agosto e setembro de 2016. As puérperas foram recrutadas por meio de plantões diários dos entrevistadores e a coleta de dados se deu por meio de questionário padronizado aplicado à beira do leito. Participaram do estudo 137 mulheres que tiveram parto do tipo vaginal. A idade média das mulheres foi de 26,6 anos (18-42), 14% residiam em municípios vizinhos à Chapecó e a maioria (62%) já esteve grávida anteriormente. A manobra de Kristeller foi aplicada em 49,6% das mulheres. Em relação à manipulação perineal, 87,6% das puérperas consideraram que houve excesso de toques vaginais durante o trabalho de parto e 61,3% relataram que foi realizada episiotomia em seu períneo. Discussões relacionadas ao processo de parturição vem sendo questionadas pelo meio científico há algum tempo. Embora diversos procedimentos sejam utilizados rotineiramente pelos profissionais, verificou-se que vários não tem eficácia comprovada, demonstrando-se, inclusive, prejudiciais para a parturiente e seu bebê. Com a implementação da Rede Cegonha, em 2011, o Ministério da Saúde elaborou uma estratégia para, entre outros objetivos, garantir a atenção humanizada à gravidez, parto e puerpério, incluindo a redução de intervenções desnecessárias nesses períodos. No entanto, os dados encontrados na pesquisa em questão demonstraram que as práticas obstétricas não estão de acordo com as diretrizes instituídas nacionalmente, pelo Ministério da Saúde, e internacionalmente, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A manobra de Kristeller - que consiste na aplicação de pressão mecânica no fundo uterino da gestante - embora seja contra indicada por ambos os órgãos citados, ainda é realizada e ensinada na prática clínica, resultando em sua aplicação em cerca de metade das entrevistadas. Já a manipulação perineal expressada por exames de toque excessivos, demonstrou o desconforto das mulheres, além de reforçar o questionamento da efetiva necessidade da repetição deste procedimento, visto que a avaliação da evolução do trabalho de parto pode ser verificada de outras formas, tais como: expressão corporal e racionalidade da mulher, presença de linha púrpura na região interglútea, vontade de fazer força durante as contrações, entre outros métodos menos invasivos. Por fim, a OMS estima que 10% dos partos precise do corte na região perineal (episiotomia), contrastando fortemente com os 61,3% encontrados no estudo. Diversas pesquisas apontam para a não necessidade deste procedimento, principalmente quando realizado de forma rotineira e/ou para fins de aprendizado de profissionais. Verificou-se que o manejo dos partos não seguiu as políticas já instituídas, mas a práticas aprendidas e incorporadas como verdadeiras “tradições”, sem respaldo científico e atualização. Enfatiza-se a necessidade de melhor implementação e divulgação das diretrizes e recomendações estabelecidas nas políticas de saúde, visando a preferência e garantia dos direitos reprodutivos das mulheres, bem como a prestação da melhor assistência possível em um momento tão importante para a vida destas.

Biografia do Autor

Lilian Bassegio, Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC
Acadêmica do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC.
Joanna d’Arc Lyra Batista, Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC

Doutora em Epidemiologia. Professora Adjunta do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)-Campus Chapecó.

 

Maíra Rossetto, Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC
Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)-Campus Chapecó.
Joice Moreira Schmalfuss, Universidade Federal da Fronteira Sul - Campus Chapecó/SC
Doutoranda do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde-UNOCHAPECÓ/Bolsista CAPES. Mestre em Enfermagem-UFRGS.  Especialista em Enfermagem Obstétrica-UNISINOS. Professora Assistente do Curso de Graduação em Enfermagem Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)-Campus Chapecó.
Publicado
22-05-2018
Seção
Saberes e Práticas de Atenção à Saúde