O CUIDADO A PESSOA EM CRISE NOS CAPS COMO DESAFIO ESTRATÉGICO DA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

  • Franciele Savian Batistella Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Leandro Barbosa de Pinho Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Elitiele Ortiz dos Santos Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Adriane Domingues Eslabão Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Talita Portella Cassola Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Débora Schlotefeldt Siniak Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo

O processo e movimento de Reforma Psiquiátrica (RP) brasileira trouxe muitos avanços para a o campo da saúde mental com mudanças significativas na reestruturação da assistência às pessoas em sofrimento psíquico, visando ampliar a concepção de cuidado para uma rede de serviços e dispositivos territoriais, abrangendo uma perspectiva de cuidado em liberdade. Nesse contexto, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se situam como dispositivos territoriais estratégicos para a RP brasileira pois possibilitam produzir processos de mudança no campo de saberes e práticas em saúde mental a partir de sua proposta constitutiva que tem como norteadores o respeito aos direitos humanos, a ética e a corresponsabilidade. Sabemos, no entanto, que na mesma medida dessas mudanças surgiram também desafios para a efetivação de um cuidado em liberdade, entre eles, o cuidado à pessoa em crise, que tem sido considerado uma das questões mais importantes e estratégicas para o processo de RP brasileira, uma vez que a lógica manicomial nessas situações ainda continua sendo um imperativo das práticas, mesmo nos serviços que se propõem antimanicomiais. Considerando esses aspectos apresentamos neste trabalho uma reflexão sobre a Atenção à pessoa em crise nos CAPS. Trata-se de um relato de experiência realizado a partir das vivências e percepções como enfermeira-residente de um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental Coletiva em um CAPS II da Região Sul do Brasil, no período de seis meses e como enfermeira, trabalhadora de um CAPS III, na mesma região durante oito meses. Nestas experiências, me percebia em uma relação complexa e contraditória entre o que defendia como cuidado psicossocial e o que conseguia realizar na prática. Nas abordagens à pessoa em crise essas contradições tornavam-se ainda mais evidentes, pois na medida em que se estabelecia uma relação de respeito à história e à vida do outro legitimando a sua capacidade de escolha também haviam processos de captura de uma perspectiva de cuidado psicossocial pela permanência da hegemonia manicomial. Não raras foram as vezes que a lógica da crise como emergência psiquiátrica definiu e justificou relações de cuidado hierarquizadas, na qual a voz e o corpo da pessoa em crise passavam a ser deslegitimados em prol de abordagens que visavam a supressão daquela situação como única via possível. Nessa perspectiva considera-se o desafio estratégico do cuidado à pessoa em crise nos CAPS para o campo da Atenção Psicossocial, pois esses serviços comunitários são espaços potentes e legítimos para o processo de mudanças paradigmáticas das práticas de cuidado. Entende-se, portanto, que são nos movimentos do contraditório entre proposta da Atenção Psicossocial e prática, a intenção e a ação desses dispositivos, que habitam as possibilidades de superar as cristalizações e o lugar instituído do manicômio, apontando para a necessidade desses serviços e seus atores estarem constantemente repensando e reinventando o seu fazer a partir de uma postura ético-política de trabalho que tenha como norte um cuidado que se faz ‘junto com’, possibilitando inscrever a vivência da crise e da loucura no âmbito da vida e não mais da doença.

Biografia do Autor

Franciele Savian Batistella, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Leandro Barbosa de Pinho, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Professor Adjunto da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Elitiele Ortiz dos Santos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Adriane Domingues Eslabão, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Talita Portella Cassola, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Débora Schlotefeldt Siniak, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Publicado
22-03-2018
Seção
Saberes e Práticas de Atenção à Saúde